domingo, 15 de junho de 2008

A RUA DA MENINHA QUE É COSTELETA


RUA FILIPE ALISTÃO
Este texto é para a Maria Filomena Sousa ou para a Meninha, que faz o favor de ser minha amiga

Quem vem de S. Pedro até ao Largo da Palmeira ela lá está. É uma rua que só tem sentido descendente, com dois hectómetros de comprimento e em menos de nada estamos na barbearia do Nugas, onde a malta do campo cortava o cabelo e mandava fazer a barba, quando ia à “cedade”. Quando era puto e ia para estas bandas com a minha mãe, íamos muitas vezes à mercearia do senhor Gago, o primeiro estabelecimento de mercearias finas, à esquina da rua e à direita quando se desce.

Os Gagos, ele e a esposa, eram segundo creio, naturais de Santa Bárbara de Nexe e ter-se-iam instalado em Faro em tempos idos. E recebiam bem a malta do campo, pois, naquele tempo, as pessoas conheciam-se umas às outras, mais que hoje e perguntavam uns elos outros, então como é que vai lá o mê compadre Xico e mais este e mais aquele e vivam felizes como diria a Maria Vilhena.

A rua Filipe Alistão era uma rua de muito comércio, apesar de não ficar sediada na zona central da cidade. Depois do estabelecimento do Gago, vinham as loja das Viúva Carminho e era também aí que o pessoal do campo ia comprar os tecidos para as fatiotas. As pessoas sentiam-se à vontade, havia sempre um pouco de conversa e havia boa disposição e sobretudo carinho com os fregueses.

As Carminho tinham muito jeito para o negócio e eram muito conhecidas. De seguida vinha um talho, o colégio dos rapazes, o Arnaldo fotógrafo e o Nugas, estabelecimento de barbearia e vendedor de jogo. Em frente ao Colégio no outro lado da rua ficava aí uma casa de reparação de bicicletas, que era pertença do senhor Lamy que era o marido da D. Helena, a minha professora Primária em Mar e Guerra..

As pessoas que por ali passavam, encontravam por vezes o Regedor da freguesia, um tipo de nome Mestre e pediam-lhe coisas O Regedor Mestre que tinha uma certa relevância na cidade emigrou mais tarde para os Estados Unidos da América, ficando o filho no seu posto, mas não sei onde está agora. Já agora dizer que a figura do Regedor foi criada em Portugal em 1835 e era a antiga autoridade administrativa de uma freguesia. Antes dos regedores, tinham existido os comissários de paróquia, nomeados em 1834.

Após o 25 de Abril de 1974, com a aprovação da nova constituição da república, o cargo de regedor viria a dar lugar á Junta de Freguesia. Ainda que a Junta de freguesia seja um órgão colegial, constituído por um presidente, um secretário, um tesoureiro e vogais, a figura do Regedor acabaria por ser transferida para o presidente da Junta de Freguesia, sendo, por consequência o seu equivalente no novo regime constitucional.
Instalado a 4 de Outubro de 1835, muitos foram as pessoas que, em cada uma das suas freguesias constituintes exerceram o cargo de regedor.

Farense, sempre.

João Brito Sousa