segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

FALANDO DE...

FIGURAS ALGARVIAS

SIDÓNIO (AUTO RETRATO)


Sidónio José de Almeida nasceu na cidade de Faro a 10 de Julho de 1918 e estudou na Escola Técnica e Industrial. Começou por fazer desenhos e caricaturas dos seus amigos e de “figuras típicas do Algarve”.
Dedicou-se à caricatura, desenho, escultura, além de ter efectuado muitos trabalhos como medalhões e painéis de grandes dimensões.
Na evolução da sua obra, sente influências neo-realistas e surrealistas ao mesmo tempo.
Recordo o sidónio. Um grande amigo. Um dia, no Café Aliança, disse-lhe “faz a minha caricatura”. Tentou fazer mas não conseguiu. Mais tarde, no Jardim Manuel Bívar, por insistência minha, tentou de novo. “è pá não estou com inspiração”.
Tempos depois, no Circulo Cultural do Algarve, Já bastante surdo, pegou no caderno que sempre trazia com ele, sentou-se à minha frente, e passado pouco tempo, amarrotou a folha foi jogar para o cesto dos papeis, olhou para mim e disse “É pá não consigo, não tens cara de caricatura”
A obra dele, que mais me impressionou, é a do busto do Dr. Silva Nobre e que se encontra em frente onde o médico, grande democrata, tinha o seu consultório.
Sidónio, foi um grande artista, um Costeleta e um grande amigo
RC

GASTÃO CRUZ E OUTROS POETAS.


Fui dar uma volta pela obra de Gastão Cruz e fiquei deslumbrado com o que li. Deixo algumas ideias de gente da poesia, retiradas de um texto de GASTÃO CRUZ, que considero simplesmente fascinantes.

Podemos não nascer poetas mas temos a obrigação de, de vez em quando ler, um pouco de poesia e tentar percebê-la. Porque poesia é arte e, como tal, está em constante evolução.

A poesia tem a virtude de nos manter actualizados.

Tenho inveja dos poetas, disse Lobo Antunes.

A poesia de Gastão Cruz vem na linha de Carlos Oliveira, Herberto Hélder, Casimiro de Brito, Ruy Belo, Ramos Rosa, Eugénio de Andrade e de toda a poesia moderna contemporânea.

Para estes autores,: “O poeta é aquele que escolheu ter um ser através da sua linguagem. Isso pressupõe que a Linguagem possa dizer o ser.
Por essência, a poesia nunca duvidou disso, ou duvidou afirmando-se através dessa dúvida.”

Eugénio de Andrade afirma: “O acto poético é o empenho total do ser para a sua revelação”.

Também Sophia, numa das suas “Artes Poéticas”, diz: “A poesia não me pede propriamente uma especialização pois a sua arte é uma arte do ser. Também não é tempo ou trabalho o que a poesia me pede. Nem me pede uma ciência nem uma estética nem uma teoria. Pede-me antes a inteireza do meu ser, uma consciência mais funda do que a minha inteligência, uma fidelidade mais pura do que aquela que eu posso controlar. Pede-me que viva atenta como uma antena, pede-me que viva sempre, que nunca me esqueça. Pede-me uma obstinação sem tréguas,
densa e compacta.”

Penso que, no Portugal do século XX, pouca gente escreveu sobre poesia como os próprios poetas. Melhor dizendo, poucos, além deles, falaram da poesia vivendo-a, isto é, habitando-a, para recuperar uma palavra, e uma ideia.

É certamente neste sentido que se tem dito que o estilo ensaístico de Eduardo Lourenço, quando fala de poesia, é o de um poeta.


Retirado de um texto de GASTÃO CRUZ.
Por João Brito Sousa

FALANDO DE...

Gastão Cruz

FIGURAS ALGARVIAS

ALGARVE

A luz amadurece as
pedras e os figos no lado dos caminhos
adoça as alfarrobas fende a casca
cinzenta das
amêndoas e desprende-as
varejamos
as que ficam presas de leve
aos ramos,
no armazém da casa amontoadas
descascar as
amêndoas o verão

Gastão Cruz
(Nasceu em Faro em 1941)
RC