O SEQUESTRO
Alzira,
na visão do Silva, era uma chata! Sempre a reclamar coisas.
-
Não, Silva, a toalha tem de ficar dobrada para dentro.!!
- Não,
Silva, aí não, corta no lava-loiça para não fazer sujeira com as migalhas.
-
Fechaste a tampa Silva?
Vinte
anos de casado! Vinte anos de reclamação! Ninguém merece!!
Se
pudesse, desaparecia...
Separar?
Divorcio? Nem pensar!
Ė
uma coisa que não dá para se livrar de ex-mulher.
Nem
pensar em desembolsar pensão pra matrafona. E sabendo que a Alzira lhe tirava
dinheiro da sua carteira e guardava em poupança…
-
Pelo amor de Deus Silva! Olha onde deixaste os sapatos!
“Se
alguma alma bondosa sequestrasse a matrafona.... Como não pensei nisso Antes?
Sequestro!”
“É
isso!!! Dou um susto na desgraçada, recupero o dinheiro da poupança e volto
como um herói de guerra. Tratado a pão-de-ló! “
O
Silva naquela noite não pregou olho planejando o próprio rapto.
Levantou-se
mais cedo que o habitual e mais alegre e bem-disposto. Vestiu-se rapidamente e,
enquanto a Alzira foi para o quarto de banho, colocou três cuecas e duas
camisas na pasta. “A negociação vai ser demorada”, pensou.
Fez as abluções matinais, tomou o
café, resmungou um adeus e saiu deixando a mulher a reclamar pelas
migalhas de pão espalhadas na cadeira e no chão.
Na parte da tarde o telefone tocou e Alzira,
que não gostava de falar ao telefone, não atendeu. Mas o
aparelho tornou a tocar e Mafalda atendeu de mau humor.
-
Alô!
Do
outro lado da linha uma voz roufenha:
-
Sequestramos o seu marido! Era o Silva falando com o telefone enrolado com um
saquinho de supermercado para não ser reconhecido.
-
Quem?
-
O seu marido!
-
Que marido?
-
O Silva!
-
Sequestraram o Silva?
-
Sim! E se o quer vivo queremos vinte mil euros para o libertar.
-
Ele tá vivo?
-
Tá! Mas se chama a polícia nós o apagamos.
-
Está bem, está bem, eu pago.
O
Silva sorriu e pensou convencido “ela me ama!”
-
Mas eu quero uma prova de que ele está vivo!
-
Quer falar com ele?
-
Não! Você pode querer me enganar imitando a voz dele.
-
Então como quer?
-
O dedo do meio da mão esquerda do meu marido tem um sinal com pelinho, corta o
dedo e manda aqui pra casa. Eu identifico e pago.
E
desligou o telefone.
Um arranjo de Roger