sábado, 2 de março de 2019

UMA SAUDADE QUE DÓI



COSTELETAS CUJA SAUDADE 

PERDURA
OTÍLIO DOURADO, O COSTELETA QUE LEVOU O 
FOLCLORE ALGARVIO POR ESSE MUNDO FORA
Foi um doloroso golpe sentimental o que sofri quando, por afetuosa atenção de seu filho Jorge me foi comunicada a morte do meu «compadre», assumido costeleta e grande amigo Otílio Fernandes Correia Dourado. Enquadra-se no número de algarvios notáveis do nosso tempo que mais destacados serviços prestou à Região Mãe, promovendo através do Rancho Folclórico da Luz de Ta­vira em todo o País, a Europa A América do Norte e o Norte de África o Algarve, de modo próprio através dos seus dançares, cantares, trajes e costumes. Nascido na Luz de Tavira, há 86 anos e onde sempre viveu, viúvo, foi o Chefe da Estação local dos CTT, de que se encontrava aposentado e um dos mais conceituados folcloristas algarvios de sempre. Frequentou a Escola Industrial e Comercial de Tomás Cabreira, em Faro, cujo Curso de Comércio concluiu e muito se orgulhava da sua honrosa e honrada condição de «costeleta». Em l963 fundou o Rancho Folclórico da Casa do Povo da Luz de Tavira que, em 1966, seria reestruturado em colaboração com o saudoso ensaiador e bailador Jorge Bento. Este aplaudido agrupamento folclórico luzense, que contou com o apoio e saber do sempre lembrado Henrique Bernardo Ramos (Grupo Folclórico de Faro, decano dos ranchos algarvios de folclore), foi em 1971 proibido de atuar sob o seu nome de origem, devido a uma determinação corporativista do Delegado Distrital do Instituto Nacional do Trabalho e Previdência e «acolhido» na Fuseta passando a usar a designação de Rancho Folclórico do Sport Lisboa e Fuseta. Em 1978, graças ao espírito democrático criado pela Revolução dos Cravos voltou à sua origem, existindo até hoje com o nome de Rancho Folclórico da Luz (Tavira). Para além dos milhares de espectáculos que realizou por esse mundo fora, sempre com a dinâmica apresentação do Otílio Dourado, que foi, também um exímio mandador do «balho mandado», gravou vários discos, alguns em parceria com o conhecido artista minhoto Quim Barreiros. Morreu o Otílio, que Deus lhe dê o eterno descanso como bem o merece. Nas pessoas de seus filhos e com um forte e incontido abraço de saudade apresentamos a expressão do profundo pesar a toda a família. Uma saudade que dói e que é o reflexo da muita e dedicada amizade que nos unia.
João Leal