segunda-feira, 26 de outubro de 2020

CRÓNICA DE FARO JOÃO LEAL

 


FIGURAS DA CIDADE

ARMANDO DA LUZ (PATÓ)

 

Era por todos conhecido pelas suas qualidades de trabalho, arte e inovação que nas mesmas colocava e por um certo sentido de vivência boémia que muito o seduziam. Armando da Luz, que tinha por alcunha «Pató» nasceu na freguesia rural de Santa Bárbara de Nexe e veio para Faro, menino e moço, ajudar seu pai, um operoso e apreciado artista. Tinha a sua oficina de canalização no «ferro de engomar», triângulo edificado por detrás do Tribunal Judicial, na Avenida 5 de Outubro, onde hoje se ergue a sede da União de Freguesias (Sé / São Pedro), donde se transferiu para a Travessa das Alcáçovas, em rés - do - chão ainda existente e hoje em ruínas.

O Armando da Luz, que tinha uma irmã que foi «costeleta» (aluna da Escola Tomás Cabreira), parava muito, até pela proximidade da sua oficina pelo desaparecido Café «A Brasileira», donde irradiava para as suas incursões, maioritariamente nocturnas em Faro e arredores. Eram os bailes (Sport Lisboa, Artistas, 20 de Janeiro...) e as «casas de meninas», nessa altura legalizadas, de que era assíduo frequentador. Tornou-se referenciado pelas suas inovações e criatividade, entre as quais para além de verdadeiras obras de arte em cobre martelado, a cataplana e o esquentador a álcool. A primeira, naquele metal e fruto de longas horas a bater o cobre, conquistou fama e prioridade na escolha, com muitas e diversificadas encomendas, vindas de todo o País. Nelas se preparavam e continuam a servir nas cozinhas, as afamadas cataplanas com os «frutos do mar» e saborosos peixes e crustáceos da Ria Formosa e da Mar Atlântico. Disse-me muitas vezes este curioso e amigo artesão farense que foi seu pai a introduzir esta peça, originária de Marrocos e com similitudes com a «tagine» do Norte de África.

O «esquentador a álcool» foi uma criação do Armando da Luz que deu um forte contributo à higiene pessoal naqueles anos de quarenta e cinquenta do século vinte. Consistia num prato metálico onde se colocava o combustível («cinco tostões» - um quarto de cêntimo do euro, de álcool verde) e que aquecia a água que corria numa serpentina de cobre e dava para um reconfortante e aprazível duche semanal a quantos, in luindo o signatário, não possuíam esquentadora gás ou eléctrico. O pior era quando o fogo fazia derreter a soldadura e lá se apanhava com o aparelho na cabeça...

Nos últimos anos em que viveu o sempre lembrado amigo, do peito, Pató, dedicou-se também ao negócio de velharias, com presença diária na Rua Reitor Teixeira Guedes, paredes meias com a sua oficina ou nas «feiras de antiguidades».

Uma saudosa lembrança a deste artesão farense, o Armando da Luz,para todos o popular «Pató».

 

                                        JOÃO LEAL