segunda-feira, 27 de setembro de 2021



 Um pequeno intervalo, para inspiração, lendo esta pequena história. Espero que gostem...!

       

   INSPIRAÇÃO

 

              21.00 horas

            As horas iam passando sem que tivesse inspiração para escrever.

 

23.00 horas.

Ligo a TV, corro todos os canais e não encontro programa que me satisfaça. Desligo o aparelho.

 

23.30.

Pego na esferográfica, no papel e… fico suspenso pensando no tema que possa abordar. Irrito-me!

 

Não consigo inspiração…! Não me costuma suceder. Agarro na esferográfica, olho-a e penso: “odeio este objecto”. Não me dá uma ajuda…. Caramba! Maldita esferográfica. Descarrego nela a minha irritação, torço-a, dobro-a, insisto com mais força… estilhaça-se. Fico suspenso; abro a gaveta da secretária e agarro noutra. “Isto nunca aconteceu. Que se passa comigo?”  “Sinto necessidade de escrever e não consigo”. Pego na chave do carro e saio de casa. As horas passam a correr.

 

O1.30 horas.

A noite já ia longa. Não sentia sono. Estava fresco, fazia uma brisa suave; sentia-se um cheiro a maresia.

 

Pus o carro a trabalhar e arranquei; as ruas estavam desertas, não se via vivalma; sai da cidade sem rumo e arrumei o carro no estacionamento de uma discoteca. Uma música moderna, do agrado da juventude, fazia-se ouvir. A porta estava fechada, bati. O postigo abriu-se e entrevi um rosto que disse “estamos quase a fechar”, “ficarei até fechar” respondi. A porta abriu-se, entrei. O som era bastante alto, do agrado da juventude; o recinto estava cheio, dançava-se.

Encostei-me ao balcão do bar. Pedi um whisky com duas pedras de gelo. Agarrei no copo e deambulei por entre a multidão; olhando de lado dei um encontrão noutra pessoa. O copo caiu ao chão, estilhaçou-se, e ouvi uma voz

 

.           - Está a dormir de pé?

 

- Desculpe, olhava para o lado, não a vi.

 

- É o que dizem todos!

 

- Acabei de entrar, é a primeira vez que aqui venho, e está um pouco escuro…

 

- Entrou?,  eu estou de saída!

 

- Porquê, não está satisfeita? Perguntei, notando que a minha interlocutora era uma mulher jeitosa e com uma certa beleza.

 

- Sem companhia isto torna-se insípido, respondeu.

 

- Estou condenado a passar pelo mesmo? Também estou só, podíamos dançar, até fechar, que acha?

 

- Não era má ideia, mas…, tire o cavalinho da chuva se pretende avançar com outras ideias…

 

- Pode estar descansada, não pertenço a essa categoria.

 

Dançamos; a música era lenta, um slow que convidava a relaxar. Ela era boa dançarina. Dançámos em silèncio até à hora de fechar. Olhámo-nos, sorrimos.

 

- Gostei da companhia, disse ela.

- Estou de acordo consigo, adorei, para esquecer o encontrão, acho-a uma mulher simpática, meu nome é Alfredo, Alfredo da Silva, sou gestor de uma empresa, escritor e sou viúvo, apresentei-me.

 

. Muito prazer, sou Ana Maria, trabalho no turismo e, sou divorciada.

 

- Em vez de virmos sozinhos, poderíamos combinar um encontro neste mesmo sítio, o que acha? Perguntei.

 

. Acho bem, respondeu Ana Maria, com um sorriso aberto.

 

E despedimo-nos, com um beijinho, depois de apontarmos o número dos telemóveis.

 

04.00 horas

 

Regresso a casa.

 

Faltou-me a inspiração para escrever, não me tinha acontecido. Porque não substituir, de vez em quando, a escrita pelo convívio, fazendo a vontade a quem não está disposto para me ler?

 

É fácil substituir a inspiração pela disposição… ou juntar as duas.

 

Olho para o espelho por cima da cómoda e fico pensando que o meu cabelo ainda não está grisalho, e sinto inspiração…

 

É madrugada, sento-me à secretária, esqueço a “maldita esferográfica”, abro o computador, sinto disposição e… Inspiração!

 

E escrevo esta crónica.

                         Uma ideia com arranjo de Roger