Reflexões de férias
Férias acabadas, baterias da saudade recarregadas e, eis-me de novo a oito ou nove km em altitude e, confesso sem "as ter todas na malhada," o Airbus A 330 da TAP é o aparelho do tipo e modelo do que se despenhou no Atlântico sem que até hoje se saiba a razão exacta mas, adiante, vou rabiscando umas ideias, tomando umas notas sobre o joelho.
Confesso que não quero soar como o “velho do Restelo” ou como um antigo disco de vinil riscado mas é para lá que me sinto cair.
Nasci num país que se estendia do Minho a Timor, com tudo o que isso implicava, e vou morrer (talvez) num outro mais pequeno, que ainda não sei se encurtará mais ou se desaparece de vez, nunca pude opinar sobre isso. Formei-me numa escola (a nossa) séria com professores maioritariamente capazes onde para se passar era preciso provar que se sabia, onde o Exército, Força Aérea, e Marinha enchia a boca e a alma. Hoje começa a ser difícil rever-me no que resta; vi e ouvi prometerem-me muito e bom e vi concretizar pouco e mal ( o vinho e as estradas melhoraram !);nunca vi nem ouvi nenhum responsável pedir desculpa ou ser incomodado pelo que fez ou não fez.
Quando cresci ENSINARAM-ME a ser pobre, remediado ou rico mas honrado, depois a honra passou a estar em ser rico de qualquer maneira....podia continuar a lista mas creio que me fiz entender.
Passei a viver em “Liberdade” mas, esqueceram-se de a definir e regulamentar, pelo que nos atropelamos uns aos outros. Massacraram-me os ouvidos afiançando que tinha direito a tudo e não tinha dever de nada (a não ser pagar impostos), esta imbecilidade vai transformar o país em escravos sem direitos. No fundo ,deixei de ser um ser cidadão e passei a ser um número e uma vítima do sistema imposto.
Nunca fugi a pagar impostos ( também não desertei,... emigrei ), nunca fiz greve , não inventei engenharias financeiras, não voto no actual espectro partidário, não me deixam ter outra forma de regime a não ser pela via revolucionária, nunca me perguntaram se quero deixar de ser português ao integrarem o federalismo europeu, tenho que ouvir os políticos dizerem por norma uma coisa hoje e amanhã o seu contrário, obrigam-me a viver na ditadura dos ciclos eleitorais e na lógica do bota abaixo inter-partidário onde não resta tempo algum para governar embora esteja à vista que alguns se governam.
Agridem-me diariamente com casos de corrupção, decisões de insanidade mental e aberrações humanas e nada acontece e nada se compõe ou castiga—a justiça não existe, o que existe é o exercício delatório do direito...etc...etc
Não foi isto que me prometeram e eu acreditei.
Um abraço para todos se for publicado
Diogo
(Recebido por via electrónica - RC)