quarta-feira, 29 de julho de 2020

PARA PENSAR!!!


ANTES DE CONCLUIR, OBSERVE MELHOR!


Certo dia uma moça estava à espera de seu vôo, na sala de embarque de um Aeroporto. Como ela deveria esperar por muitas horas resolveu comprar um livro para matar o tempo. Também comprou um pacote de biscoitos. Sentou-se numa poltrona na sala vip do aeroporto, para que pudesse descansar e ler em paz.
Ao seu lado sentou-se um homem. Quando ela pegou o primeiro biscoito, o homem também pegou um. Ela se sentiu indignada, mas não disse nada. Ela pensou: "Mas que cara de pau. Se eu estivesse mais disposta, lhe daria um soco no olho para que ele nunca mais esquecesse".
A cada biscoito que ela pegava, o homem também pegava um. Aquilo a deixava tão indignada que não conseguia reagir. Restava apenas um biscoito e ela pensou: O que será que o abusado vai fazer agora?
Então o homem dividiu o biscoito ao meio, deixando a outra metade para ela.

Aquilo a deixou bufando de raiva. Ela pegou o seu livro e as suas coisas e se dirigiu ao embarque. Quando sentou confortavelmente, numa poltrona, no interior do avião, olhou dentro da bolsa, e, para sua surpresa, o pacote de biscoito estava ainda intacto. Ela sentiu muita vergonha, pois quem estava errada era ela, e já não havia mais tempo para pedir desculpas.

O homem dividiu os seus biscoitos sem se sentir indignado, enquanto que ela tinha ficado muito transtornada, pensando estar dividindo os dela.

Quantas vezes, em nossa vida, nós é que estamos comendo os biscoitos dos outros, e não temos a consciência disto? Há quem proceda de forma muito diferente da que nós gostaríamos. Isso tira a nossa calma e nos dá a impressão de que ninguém gosta de nós.
                                     Autor: desconhecido - Um arranjo de Roger

terça-feira, 28 de julho de 2020

CRÓNICA DE FARO - JOÃO LEAL





RUA FRANÇA BORGES

        Situada na freguesia da Sé esta artéria, referenciada por congregar a maior parte das casas de prostituição legalizada que, durante décadas, existiram em Faro e terminaram a sua actividade em 1 de Janeiro de 1962, com a publicação do Decreto - Lei 44579, de Setembro de 1961, é desde há anos um beco, por via da sua ocupação imobiliária, na zona nascente. Nesta con-fina com a Rua Dr. Justino Cúmano e a poente com a Rua Horta Machado e apresenta ainda num dos seus lados quase todo o aspecto de casas de res-do-chão que eram a dominante da Faro de então.
             A Rua França Borges congregava uma expressiva maioria das ditas «casas de meninas», onde se praticava o negócio do sexo. Esta é uma cróni-ca que enfoca num tema que pode suscitar reacções diferentes dos leitores, mas manda a verdade que, como com outros temas que muitos, respeitando a sua opinião, consideram «tabus» (escravatura, inquisição, expulsão dos judeus, etc.), mas que entendemos devem ser analisados e historiados. Ali se situavam as casas que tinham os nomes das suas «empresárias» - D. Isabel (Jardineira), D. Hermínia, «Lózinha»...
               Outras haviam na cidade capital sulina espalhadas pelo tecido citadino - D. Rita Lagarta, «Maria de Todos», D. Maria Benvinda («Maria de Almodôvar»...
               Degradante, mas acontecia nos termos legais, era a chamada «revista», ou seja, quando, nas manhãs de 5ª feira, as «meninas», portadoras da sua «caderneta» individual de saúde e acompanhadas pela «patroa» iam à inspecção sanitária. Esta decorria na Delegação de Saúde, a funcionar na Câmara Municipal de Faro ou, quando o responsável pela saúde pública, estava de serviço no Hospital da Misericórdia, no banco desta unidade e sendo responsável o Delegado Concelhio de Saúde, funções que durante muitos anos foram desempenhadas pelo ilustre médico Dr. Arnaldo Cardo-so Vilhena, natural de Almeida e destacada figura cultural e cívica da cidade.
João Leal

segunda-feira, 27 de julho de 2020

LIVROS QUE AO ALGARVE IMPORTAM




           «NOVO GUIA DO TURISMO DA NATUREZA JÚNIOR»

               PATRÍCIA OLIVEIRA
           A Região de Turismo do Algarve editou o livro «Guia do Turismo da Natureza Júnior», da autoria de Patrícia Oliveira e com cerca de 200 páginas nas quais se faz exaustiva enumeração das riquezas naturais, visando atrair mais jovens para o importante segmento que é o turismo da natureza.
          Profusamente ilustrado a obra conta com o apoio da Comunidade Europeia e insere, ao longo dos nove capítulos, um inventário descritivo sobre a flora, geologia, fauna, hidrografia, etc.

                    «BARRO CRU«

                      HELENA TAPADINHAS
                    A escritora e jornalista Helena Tapadinhas venceu, com a obra «Barro Cru» o 3º Prémio Literário J. Stockler Santos, o falecido escritor e lutador democrata, natural do Concelho de Lagoa, cujo Município promoveu este certame. A Dra. Adriana Freire Nogueira, Delegada Regional da Cultura do Algarve, que presidiu ao Júri, declarou: «Não é preciso ser de Lagoa para perceber esta história».
                     A propósito desta obra premiada com 10 mil euros disse-se: «Partindo da realidade local consegue encontrar e atingir o patamar mais alto da universalidade».

                                                      JOÃO LEAL

CRÓNICA DE FARO JOÃO LEAL


                                  «A MÚSICA DAS PALAVRAS»

            Foi ao fim da tarde, ao cair de um destes estivais dias, que no sempre agradável ambiente de século e meio com que conta o Teatro Lethes, um dos pontos assinalados no «Roteiro Ibérico dos Teatro Históricos», houve o aprazível ensejo de viver o concerto «A Música das Palavras», no âmbito do Ciclo «Lethes Clássico». Foi também o reencontro com a sempre aplaudida e desejada Orquestra Clássica do Sul, após estes meses de jejum cultural ao vivo. Por outro lado e para além do merecidamente aplaudido «Quarteto de Cordas, constituído por excelentes intérpretes muito apetecível era nos voltar a ouvir esse insigne artista farense, em pleno estádio de maturidade criativa, interpretativa e de comunicabilidade, que é o Rui Baeta.
                Aborda o ciclo a temática das tradição e da modernidade, a propósito da comemoração dos 250 anos do nascimento de Beethoven, «inquestionavelmente um dos maiores génios da História da Música, o qual revolucionou não apenas o seu tempo mas toda uma geração de compositores que lhe seguiram».
                 O concerto abriu com a interpretação das «Canções sem Palavras», do compositor do período romântico Feliz Mendelsshon (1809 / 1847), revelando, num tom delicado e discreto, «um seu lado mais íntimo».
                 Seguiu-se de Ludwig Beethoven (1770/1827«A amada distante»), o primeiro ciclo de canções «composto por um compositor de renome», constituído por seis episódios onde o barítono Rui Baeta evidenciou, uma vez mais as suas admiráveis qualidades artísticas.
                   A encerrar de Robert Schumann (1810/1856) «Cenas Infantis», onde retornámos à nossa meninice, quer na música como nos poemas de Afonso Lopes Vieira, interpretados «comunicados» pelo consagrado artista farense, entre os quias «Cabra Cega», «Cavalinho de madeira», «O poeta fala» e outros.
                     O ciclo «A Música das Palavras» voltará, neste «Lethes Clássico», a 15 de Outubro, com um concerto dedicado a «Fritz Schubert - o eterno devoto de Beethoven».  

João Leal

sexta-feira, 24 de julho de 2020

LIVROS



DIA DOS AVÓS
26 de Julho
“Uma boa oferta, neste dia, para os netos”
LIVROS - TÍTULOS
1 -  O Jaime é uma Sereia;
2 – À Procura de Ontem;
3 -  A Avó e Eu;
4 -  O Gigante Secreto do Avô;
5 – Maria Nêspera;
6 – Avô, Conta Outra Vez;
7 – O Rosto da Avó;
8 -  A Minha Avó é a Melhor do Mundo.

8 propostas de livros infantis que abordam a relação especial entre Avós e Netos, com histórias cheias de sensibilidade e imaginação. Uma prenda perfeita para assinalar o DIA DOS AVÓS.
Resumindo a história de cada livro:
1 – Demonstra o seu amor incondicional quando o neto afirma querer vestir-se de sereia;
2 -  O Avô partilha com o Neto algumas das suas memórias mais belas;
3 -  Explica porque é que os Avós são tão especiais.
4 – Aprende sobre gentileza amizade  e aceitação.
5 – Irá guardar as memórias e o afeto que o Avô lhe dedicou;
6, 7 e 8 – Não tivemos tempo para ler…
Escolham bem!

Um arranjo de Roger.

quarta-feira, 22 de julho de 2020

UM ARRANJO E DIGITALIZAÇÃO DE ROGER


SORRIA
                  Rogério Coelho
Sorria... Mas não se esconda atrás dele…
Mostre como é. Existem pessoas que sonham sorrindo.
Tente! A vida é uma tentativa.
Não feche os olhos para a sujeira do mundo, não ignore a pandemia, coloque a máscara!
Procure o que há de bom em tudo e em todos.
Não faça dos defeitos uma distância, e sim, uma aproximação.
Aceite! A vida, sorrindo para as pessoas, faça delas a sua razão de viver.
Entenda! Entenda todos os que pensam diferente de você, não os reprove.
Olhe.... Olhe a sua volta, mas não prejudique ninguém e não transforme seu sonho em fuga. Sorria!
Acredite! Espere! Sempre haverá uma saída, sempre brilhará uma estrela. Agarre-a!
Lute! Faça aquilo que gosta, sorrindo, sinta o que há dentro de você.
Ouça.... Escute o que as outras pessoas têm a dizer, é importante.
Suba... faça dos obstáculos degraus fáceis de subir.
Mas não esqueça aqueles que não conseguem subir os degraus da vida.
Descubra! Sorrindo aquilo que você tem de bom.
Procure acima de tudo ser gente. simplesmente porque você existe…
E SORRIA!

CRÓNICA DE FARO - JOÃO LEAL




                «UM CHEIRINHO A ALGARVE...»

           Não raro temos assinalado nestas colunas inúmeras e constantes deficiências que os CTT, de uma incomensurável prestabilidade pública, des-de que criados há alguns séculos, nos ditos «tempo dos Afonsinhos», nos brindam . É uma prática constante e quotidiano, motivadora de elevados prejuízos e transtornos, quer de ordem social como económica e ou afectiva.
           Ainda nestes dias de pandemia, não obstante não vermos qualquer relação ou interferência entre o implacável Covid 19 e os CTT, a crítica fundamentada e assente em pertinentes razões assume-se em plenitude. No nosso pessoal assiste-se ao desplante de o «Times» que é expedido de Vila Real de Santo António às 4ªs feiras chegando ao destinatário apenas na 3ª feira ou seja quase uma semana após iniciar um percurso de menos meia centena de quilómetros!
            Mas hoje, porque o é de toda a justiça fazê-lo, os Correios merecem o nosso elogio e o nosso agradecimento. É que foi editada uma emissão filatélica com «cheirinho a Algarve» com a temática da gastronomia tradicional mediterrânica. Um deles é dedicado ao saboroso e apetitoso «arroz doce estoiense», referente ao conhecido doce feito na típica Vila de Estoi e o outro ao licor da flor de laranjeira, uma aromática e digestiva bebida de «beber e chorar por mais». O inebriante aroma à algarvia flor da laranjeira mantém-se activo por algum tempo, constituindo uma surpresa na edição filatélica em referência e aplauso. A edição de cada selo («arroz doce à estoiense» ou «licor de flor de laranjeira) teve uma tiragem de cem mil exemplares.
              Não sabemos a quem foi o responsável dos CTT que coube a feliz ideia. Mas os nossos parabéns são-lhe devidos!

Joáo Leal


terça-feira, 21 de julho de 2020

CRÓNICA DE FARO - João Leal


AQUELE CANTO...
                  ... Situado no movimentado cruzamento das Ruas do Alportel, Aboim Ascensão e General Teófilo da Trindade, frente à Igreja de Santo Amaro e ao Cemitério da Esperança, deve merecer um pouco mais de atenção e uma intervenção necessária, quanto antes.
                  É certo que se trata de uma propriedade particular, mas pela situação em que se encontra e o estado em que está justifica plenamente a nossa sugestão. Com efeito o local do demolido, há décadas, edifício onde durante anos e anos funcionou a típica e conhecida Casa de Pasto, Venda como então se dizia, do Quintas, é um indesejável local de arbustos selvagens, de lixos e de passagem a corta - mato, que em nada beneficiam o aspecto urbanístico e qualidade de vida da cidade capital sulina.
                   O «Quintas», juntamente com o seu «vizinho» Belchior, por debaixo do Clube Recreativo 20 de Janeiro, sociedade que nos anos 60 cessou a sua actividade recreativa e cultural, eram locais «obrigatórios» de paragem no retorno dos funerais.
                    Há que se encontrar a plataforma concordatória e legal, que seja conducente à concretização do alindamento deste local: ou a construção do justificado e correcto imóvel; ou a supressão e eliminação da lixeira e mato seco que ali persistem e ou a União de Freguesias da Sé / São Pedro ou a Câmara Municipal de Faro instalam ali um pequeno jardim e lugar de descanso, com bancos e sombras, enquanto o proprietário não procede à construção do prédio.
João Leal

INFORMANDO - Joáo Leal

NOTÍCIAS DO TURISMO ALGARVIO

O Partido Comunista Português (PCP) expressou que «o Turismo do Algarve precisa de medidas urgentes de apoio que garantam a sua sustentabilidade e o futuro da Região».
O «Sandcity», o maior parque temático de escultura em areia do Mundo, localizado entre os nós da E.N. 125 de Lagoa e Porches, com 6 hectares de área e mais de 80 composições, voltou a abrir com a série «A volta do Mundo».
Encontra-se em construção, devendo estar concluído no final do ano, o no-vo passadiço sobre as dunas, com 1 500 metros de extensão e 3 metros de largura, no concelho de Castro Marim, entre as praias da Altura e da Lota. Com um custo de 900 mil euros comportará uma passagem sobre a Ribeira do Álamo e, na 2ª fase, chegará até Monte Gordo.
Dos 4 parques aquáticos existentes no Algarve dois encontram-se em funcionamento, o «Zoomarine», na Guia (Albufeira) e o «Slide & Splash», em Lagoa.
A Câmara Municipal de Lagos colabora com a Universidade do Algarve no projecto «Sustowns», que visa promover a sustentabilidade e aumentar a vocação turística do concelho.
O Governo Português exigiu que o seu homónimo belga retire o Algarve das zonas arriscadas por via do coronavírus.
O Aeroporto Internacional de Faro desceu de 100 voos diários em Julho de 2019 para trinta voos este ano.
O Presidente da República, no decurso de um jantar em Lagos com autarcas algarvios para análise da situação económica e social do Algarve em virtude da pandemia apontou que: «A retoma seja um processo ascendente, difícil, lento a complicado».
A área balnear da Barragem de Odeleite, em construção pela Câmara Municipal de Castro Marim, com um empréstimo do BCE (Banco Central Europeu) ficará concluída em finais do ano comportando piscinas e um conjunto de apoio e serviços.                                                                        

                                                                            JOÃO LEAL



10ª E última de uma série de boas leituras
de autores nacionais
IN MÁRIO HENRIQUE LEIRIA

A Viagem, enfim

Isto de ter sempre o mesmo sonho todas as noites torna-se aborrecido.
Era assim: saía de casa, ia até ao carro e dizia à família «vamos lá fazer essa viagem». Primeiro entravam a mulher e as duas crianças, depois os pais, ele instalava-se ao volante e pronto, não havia lugar para os sogros! Era sempre a mesma coisa. Por mais que empurrassem, não conseguiam metê-los lá dentro.
Acordava a suar, empurrando ainda qualquer coisa que não estava lá.
A mulher aconselhou-lhe uns calmantes, para ver se o sonho se ia.
Mas nada. Lá vinha sempre, todas as noites. É verdade que empurrava menos, talvez os calmantes, mas continuava naquele desespero de não conseguir enfiar os sogros no carro alucinante.
Os sogros disseram-lhe que não se interessavam em ir, não faziam questão, já estavam velhos para viagens.
Os pais prontificaram-se a ceder os lugares deles.
Toda a família colaborava, mas o sonho continuava.
Chegou a fazer experiências, a meter a família completa no velho Citroën arrastadeira. E conseguia, lá se metiam todos, mais ou menos apertados mas entravam. Mas no sonho não.
A coisa tornava-se desesperante.
- Porque é que não vais ao Mora? Ele é psicanalista, explica-te, tira-te isso – insistia a mulher, já arreliada, e preocupada também, com aquelas viagens nocturnas e frustradas em que ele se envolvia sem culpa.
O Mora era amigo de infância, nem sequer permitia que ele pagasse, era extraordinário! Às vezes até ia lá jantar. E respondeu à mulher:
- Tens razão, Xuxa, vou mesmo, que isto assim não pode ser. Tens sempre razão menina.
Contou tudo. O Mora mandou-lhe contar mais, o passado continua sempre oculto, ao que disse. Deitado, contou-lhe o que ele precisava era de derivar, sabem, encontrar qualquer coisa além do carro e da viagem que não fazia em sonhos. Derivar. Substituir o carro. Agradeceu e convidou o Mora para jantar no sábado. O Mora não podia e deu-lhe uma palmada nas costas.
Chegou a casa aliviado e esclareceu a Xuxa:
- Vou derivar, menina.
- Derivar?
Sim, substituir o carro e tudo o mais, excepto tu, as crianças, os velhos e a casa.
(...)
À noite não sonhou. No dia seguinte a Xuxa disse-lhe que até parecia dez anos antes.
Tudo voltou à normalidade, os sogros deixaram de se preocupar com a viagem, as crianças entusiasmaram-se com os estoiros da moto. E o carro na garagem.
E, de repente, tornou a sonhar. O sonho.
Assim: saiu de casa, foi até ao carro e disse à família «vamos lá fazer essa viagem». A mulher e as crianças entraram, depois os pais, e ele instalou-se ao volante. E não havia lugar para os sogros! Começaram a empurrar para os meter lá dentro, e nada. Então virou-se para a garagem. Estava um pouco diferente mas a moto continuava lá dentro. Deixou tudo, montou a moto, pôs o chapéu de palha e avançou pela estrada. Uma estrada larga, muito aberta a tudo. Pareceu-lhe já a ter visto alguma vez. Olhou para trás e lá ao longe, à porta da casa, continuavam a empurrar-lhe os sogros. Acenou uma despedida, acelerou e continuou, olhando árvores e nuvens. Ainda não voltou.

segunda-feira, 13 de julho de 2020

9ª de uma série de boas leituras
De autores nacionais.


IN ALICE VIEIRA

Vinte Cinco  a Sete Vozes

Olhe que foi mesmo por acaso! Quando saí de casa, nem pensava em passar por aqui. Mas depois tive de ir ali ao Montepio levantar a minha pensão, e lembrei-me de dar uma palavrinha ao Paulito. Para mim ele há-de ser sem­pre o Paulito.... Olhe que foi dos melhores alunos que eu tive! Uma pena não ter conti­nuado a estudar, uma pena! Se fosse hoje, nada disso tinha acontecido, mas naquele tempo... E eu lembro-me que a família dele passava muitas dificuldades, o pai ora estava empregado ora desempregado, e além disso sofria do coração, havia dias que quase nem se podia mexer. A gente bem lhe dizia para ele ir ao médico, mas onde é que havia médico, e onde é que havia dinheiro para médico. «Isto é tudo ner­vos», dizia ele. Só quando morreu é que se sou­be que era do coração que sofria.
Mas então a nossa conversa vai ser sobre o 25 de Abril de 1974, não é? Nessa altura eu já não estava na escola onde o Paulo andou, tinha sido colocada mais cá para baixo, numa aldeia chamada Vale de Mu, lá para a serra do Caldeirão. Aquilo era uma terra onde não ha­via nada, nem vinha no mapa, a escola não tinha condições nenhumas, mas nenhumas! Agora já estou reformada, como deve calcular, mas quando ainda estava no activo e ouvia colegas meus queixarem-se das más condições das escolas onde ensinavam, só tinha vontade de os levar a Vale de Mu para eles verem o que era uma escola degradada. Não que as nossas escolas de agora estejam todas bem, não é isso, mas comparadas com a de Vale de Mu são o pa­raíso! Se calhar essa escola hoje até já nem existe, se calhar até já fechou, como tantas por esse país fora.
Como já referi a escola não tinha nada. E quando eu digo nada, é nada mesmo. Olhe que nem sequer o retrato do Américo Tomás e do Marcelo Caetano ela tinha! A menina é muito nova, e se calhar não sabe estas coisas, mas antes do 25 de Abril todas as escolas primárias... Agora elas já não se chamam assim, acho que se chamam escolas do ensino básico, mas para mim continuam sempre a ser escolas primárias! Mas dizia eu que todas as escolas tinham na parede o retrato do presidente da República e do presidente do Conselho. Eu ain­da apanhei escolas com o retrato do Carmona, depois o Carmona morreu e veio o retrato do Craveiro Lopes, que foi o presidente a seguir, e depois o do Américo Tomás, que foi o que esteve até ao 25 de Abril, como a menina sabe. Ao lado do retrato do presidente da Repúbli­ca, estava sempre o retrato do Salazar, que foi presidente do Conselho mais de quarenta anos. Um dia, em 1969, como a menina também deve saber, o Salazar caiu de uma cadeira abai­xo, bateu com a cabeça no chão e teve de ser substituído pelo Marcelo Caetano, que ficou até ao 25 de Abril. Isto em traços muito largos, claro, porque pelo meio houve histórias e mais histórias, mas agora não vêm ao caso.
Pois lá em Vale de Mu nem o retrato do Marcelo Caetano nem o do Américo Tomás havia. Nem isso, que o Ministério queria sem­pre que não faltasse, para os meninos saberem logo de pequeninos quem é que mandava em todos!
Não é que os retratos dos homens me fi­zessem falta, quanto menos olhasse para eles, melhor. Mas isto é só para a menina ver como aquela escola era desprezada. Olhe que não havia um pau de giz! Nem sequer o mapa de Portugal! Eu queria dar aritmética e geometria, e nem uma caixa com os pesos ou com as fi­guras geométricas lá havia, como havia noutras escolas. Nada. O que se chama nada.
Então eu, pacientemente, escrevia todos os meses uma carta ao Ministério e explicava que a escola não tinha material, e sem material como é que eu podia ensinar as crianças, e lá dizia também, para ver se os comovia, que a escola nem os retratos do senhor presidente da República e do senhor presidente do Conse­lho tinha nas paredes, e que era uma vergonha para o país uma escola naquele estado, santo Deus.
E do Ministério, nada. O silêncio mais completo.
E lá vinha outro mês, e lá voltava eu a escrever para o Ministério, a mandar ofícios, a fazer pedidos a toda a gente – e do Ministé­rio apenas o silêncio.
Foram anos terríveis. Eu já não sabia como inventar maneiras de ensinar os miúdos. Já viu como é que se ensina Geografia de Portugal sem um mapa? Ensinar-lhes as serras, os rios, as linhas de caminho-de-ferro – sem lhes mos­trar no mapa onde ficavam? Coitadinhos, eles sabiam tudo de cor, mas não faziam a mínima ideia onde é que tudo aquilo era! E o meu ordenado, claro, tão pequeno que nem dava para pagar o material do meu bolso. Ainda paguei muitos paus de giz, e um apagador para o qua­dro, e alguns cadernos para aqueles que não tinham mesmo possibilidades nenhumas, mas não podia ir muito além disso. Tinha dois filhos para criar, e fiquei viúva muito cedo, como o Paulo lhe deve ter dito. A vida era muito difí­cil também para mim.
Mas nunca desisti. Todos os meses lá ia a carta para o Ministério. Isto durante anos! Só em selos devo ter gasto uma pequena for­tuna!
Até que um dia, já eu desesperava de tudo, aparece-me junto da escola uma carrinha, a trazer, finalmente, material que o Ministério mandava. Só não deitei foguetes porque não os tinha, mas senti-me rebentar de felicidade. Até que enfim eu ia poder ser uma professora a sério! Estava tão feliz, mas tão feliz, que nem estranhei a pressa que o chofer tinha em des­pachar aquilo, e nem liguei, quando ele disse que em Lisboa tinha havido qualquer coisa es­quisita, tinha encontrado muita tropa na rua quando de lá saíra, e aquilo não lhe parecera normal.
Acho mesmo que nem ouvi bem o que ele disse. O que eu queria era abrir os pacotes, ver o material, colocá-lo na sala, e poder dar, final­mente, uma aula decente às crianças.
A menina até pode nem acreditar, porque esta história parece mentira, mas juro que foi assim mesmo que aconteceu: a senhora Auro­ra, que era quem limpava a escola, a chegar ao pé de mim e a dizer que na rádio se falava de uma revolução, de um Movimento das Forças Armadas que tinha ido prender o governo todo, e eu a abrir os pacotes cheia de alegria, e a dar de caras com os retratos do Américo Tomás e do Marcelo Caetano! Nem um pau de giz, nem um mapa, nem formas geométricas, nada de nada, a não ser os retratos daqueles dois para pendurar na parede. A senhora Aurora, coi­tada, aflitíssima, «senhora Professora, há uma revolução em Lisboa!», e eu a olhar para os re­tratos no chão e a pensar, «e agora, o que é que eu faço com estes dois?»
Ainda hoje, que já se passaram 25 anos, de cada vez que vejo, na televisão, documentários sobre o 25 de Abril, com o chaimite que levou o Marcelo Caetano e o Américo Tomás do Quartel do Carmo, só me lembro do retrato deles, no chão, à entrada da escola, e do meu espanto no meio de tudo.


Um arranjo e digitalização de Roger. Espero que gostem.

domingo, 12 de julho de 2020

INFORMANDO - Jao Leal



TURISMO DO ALGARVE EM NOTÍCIA

Vai decorrer em Sagres, entre 2 e 5 de Outubro, o 11º Festival do Algarve de Aves, que é o maior evento da Natureza que ocorre no País e de grande interesse turístico.

Os CTT procederam a uma emissão filatélica de assinalada importância para a nossa Região. Insere-se na temática «gastronomia tradicional mediterrânica» e trata-se da edição, com uma tiragem total de 200 mil exemplares, de selos com aroma e dedicados a dois produtos do Algarve - «o arroz doce à moda de Estoi» e «licor de flor de laranjeira».

A 4ª edição do «365 Algarve» regressa, entre 15 de Julho e meados de Novembro, com um programa para todos os gostos - do cinema aos piqueniques e à arte urbana.

«Barman at Home» (O barman em casa) é um produto inédito no Algarve, promovido pelo «Columbus Bar», em Faro e que disponibiliza um serviço que leva até à habitação, escritório, casa de férias ou eventos as bebidas desejadas.

Reiniciaram as suas viagens os ferry - boats entre Vila Real de Santo António e Ayamonte, serviço que levara ao seu encerramento devido ao fecho da fronteira Algarve / Andaluzia, por via da pandemia.

A equipa algarvia «Algarve Safe Tourism» venceu o concurso europeu de soluções inovadoras e disruptivas na área do turismo, visando minimilizar o impacto do corona vírus no sector. Trata-se de uma solução para facilitar a procura turística baseada em tecnologias avançadas e de geoglobalização.

O Governo prepara um «Programa Especial de Apoio ao Algarve », segun-do afirmou o Ministro da Economia Pedro Siza Vieira, para atenuar as con-sequências da quebra do turismo. 
                                                        JOÃO LEAL 

CRONICA DE FARO - LOÃO LEAL


 FERNANDO BITOQUE, O 
«SENHOR TÉNIS DE MESA DO ALGARVE»

                 Desde menino e moço manifestou o seu invulgar talento e comprovada, pela vida em fora, dedicação, pelas coisas do desporto. Quando veio para Faro, no início da adolescência, de sua terra natal, a histórica vila de Porches, com presença marcada nos sete castelos da Bandeira Nacional, Fernando Bitoque, de seu nome completo Fernando António Passarinho Bitoque, deu notórios e firmados testemunhos desse seu pendor. Era um sonho que o acalentou, mesmo quando a saúde começou a ser periclitante, volvidos mais de 80 anos de idade. Era uma chama ardente que o motivava a nunca dizer não e a acreditar que democratização também pode e deve acontecer pela promoção da prática desportiva.
                Quando chegou a esta cidade, que o acolheu como se sua fosse, o meu amigo desde então, veio desempenhar funções de acólito, na Igreja da Misericórdia, de que era Capelão o saudoso cónego, meu mestre, José Augusto Vieira Falé. Subiu a pulso, como raras vezes com tanta probidade se escreveu, a escada íngreme da vida. Estudou, alterou a actividade profis-sional (comércio), estruturou toda a acção do seu ideário desportivo, que o leve da incipieza e acreditar da criação, em que fui seu parceiro do clube de pouca duração, o JDF (Juventude Desportiva Farense), filial do Juventude de Évora, então em grande apogeu futebolístico. 
                  Depois foi essa grande obra que para sempre ficará, como um paradigma ligado à sua vida, com a criação em 1964, da Associação de Ténis de Faro, a actual do Algarve, com um punhado de gente da primeira linha que formaram um bloco homogéneo e concretizador - Teixeira Melão, Bastardinho, Donaldo (recentemente falecido), Correia de Almeida, entre outros. A Região em fora aderiu e o popular pingue pongue, com tantos e tantos valores, não só aqui (Rosa Nunes, talvez o mais eclético de todos os atletas algarvios, Vinhas, Madeira, Beldade, Ferradeira...) como por todo o sul lusitano, desenvolveu-se com entusiasmo e actividade. Quem se não lembra desse fabuloso certame, com profundas motivações turísticas, que era o «Torneio Internacional da Feira de Santa Iria», em que chegaram a participar cerca de dois mil atletas? Um dos sonhos do Fernando Bitoque realizou-se com a concretização da sede própria (um apartamento cedido pelo Município de Faro, da presidência do Dr. Rogério Bacalhau, no coração da Atalaia e jamais nos esqueceremos do sorriso enorme com que a todos nos acolheu nesse fim de tarde de 2016, a quando do acto inaugural.
            Fernando Bitoque, um apaixonado, tal como sua lembrada Esposa, pelo Sporting Farense, nas tardes de Domingo, na bancada dos sócios. Foi sobretudo um homem de causas e com que paixão, neste caso, do ténis de mesa, com uma dedicação total.

sexta-feira, 10 de julho de 2020

O VIRUS...



ENFRENTAR A REALIDADE

        Por muito que custe, chegou a hora de aceitar a realidade.

    Com alarme ou calamidade, com multas e restrições, os números são cristalinos: o vírus chegou para ficar. Não vale a pena fugir-lhe, não sabemos onde está; não vale a pena fechar-lhe a porta, entra pela fechadura. E vai continuar a aproveitar-se das nossas fraquezas para se alimentar e multiplicar, ganhar novas formas, matar os mais frágeis. Até que uma droga o deixe narcotizado ou uma vacina acabe com ele. Não podemos é acabar connosco, deixar que o medo tome conta das nossas vidas, que os profetas da desgraça nos deprimam.

    A melhor forma de combater o vírus é não pensar nele, como não pensamos no cancro, na sida, no Alzheimer, no Parkinson com quem podemos tropeçar no labirinto da vida. Se um dia nos tivermos de confrontar com estes demónios, logo se vê quem ganha o duelo. Até lá - e que nunca se chegue lá – aproveitemos para nos divertir e fazer aquilo de que gostamos, de máscara sempre à mão e desinfetante na carteira. 

   A vida é demasiado curta para ficarmos prisioneiros do tempo. Basta olhar para trás para percebermos que não nos demos conta de como chegámos até aqui.

    IN CM – NOTA EDITORIAL - Paulo João Santos
    Um arranjo e digitalização de Roger

8ª de uma série de boas leituras
De autores nacionais.


IN SOFIA DE MELO BREYNER

RETRATO DE MÓNICA

Mónica é uma pessoa tão extraordinária que consegue simultaneamente: ser boa mãe de família, ser chiquíssima, ser dirigente da «Liga Internacional das Mulheres Inúteis», ajudar o marido nos negócios, fazer ginástica todas as manhãs, ser pontual, ter imensos amigos, dar muitos jantares, ir a muitos jantares, não fumar, não envelhecer, gostar de toda a gente, gostar dela, dizer bem de toda a gente, toda a gente dizer bem dela, coleccionar colheres do séc. XVII, jogar golfe, deitar-se tarde, levantar-se cedo, comer iogurte, fazer ioga, gostar de pintura abstracta, ser sócia de todas as sociedades musicais, estar sempre divertida, ser um belo exemplo de virtudes, ter muito sucesso e ser muito séria.
Tenho conhecido na vida muitas pessoas parecidas com a Mónica. Mas são só a sua caricatura. Esquecem-se sempre ou do ioga ou da pintura abstracta.
Por trás de tudo isto há um trabalho severo e sem tréguas e uma disciplina rigorosa e constante. Pode-se dizer que Mónica trabalha de sol a sol.
De facto, para conquistar todo o sucesso e todos os gloriosos bens que possui, Mónica teve que renunciar a três coisas: à poesia, ao amor e à santidade.
A poesia é oferecida a cada pessoa só uma vez e o efeito da negação é irreversível. O amor é oferecido raramente e aquele que o nega algumas vezes depois não o encontra mais. Mas a santidade é oferecida a cada pessoa de novo cada dia, e por isso aqueles que renunciam à santidade são obrigados a repetir a negação todos os dias.
Isto obriga Mónica a observar uma disciplina severa. Como se diz no circo, «qualquer distracção pode causar a morte do artista». Mónica nunca tem uma distracção. Todos os seus vestidos são bem escolhidos e todos os seus amigos são úteis. Como um instrumento de precisão, ela mede o grau de utilidade de todas as situações e de todas as pessoas. E como um cavalo bem ensinado, ela salta sem tocar os obstáculos e limpa todos os percursos. Por isso tudo lhe corre bem, até os desgostos.
Os jantares de Mónica também correm sempre muito bem. Cada lugar é um emprego de capital. A comida é óptima e na conversa toda a gente está sempre de acordo, porque Mónica nunca convida pessoas que possam ter opiniões inoportunas. Ela põe a sua inteligência ao serviço da estupidez. Ou, mais exactamente: a sua inteligência é feita da estupidez dos outros. Esta é a forma de inteligência que garante o domínio. Por isso o reino de Mónica é sólido e grande.
Ela é íntima de mandarins e de banqueiros e é também íntima de manicurascaixeiros e cabeleireiros. Quando ela chega a um cabeleireiro ou a uma loja, fala sempre com a voz num tom mais elevado para que todos compreendam que ela chegou. E precipitam-se manicuras e caixeiros. A chegada de Mónica é, em toda a parte, sempre um sucesso. Quando ela está na praia, o próprio Sol se enerva.
O marido de Mónica é um pobre diabo que Mónica transformou num homem importantíssimo. Deste marido maçador Mónica tem tirado o máximo rendimento. Ela ajuda-o, aconselha-o, governa-o. Quando ele é nomeado administrador de mais alguma coisa, é Mónica que é nomeada. Eles não são o homem e a mulher. Não são o casamento. São, antes, dois sócios trabalhando para o triunfo da mesma firma. O contrato que os une é indissolúvel, pois o divórcio arruína as situações mundanas. O mundo dos negócios é bem-pensante.
É por isso que Mónica, tendo renunciado à santidade, se dedica com grande dinamismo a obras de caridade. Ela faz casacos de tricot para as crianças que os seus amigos condenam à fome. Às vezes, quando os casacos estão prontos, as crianças já morreram de fome. Mas a vida continua. E o sucesso de Mónica também. Ela todos os anos parece mais nova. A miséria, a humilhação, a ruína não roçam sequer a fímbria dos seus vestidos. Entre ela e os humilhados e ofendidos não há nada de comum.
E por isso Mónica está nas melhores relações com o Príncipe deste Mundo. Ela é sua partidária fiel, cantora das suas virtudes, admiradora de seus silêncios e de seus discursos. Admiradora da sua obra, que está ao serviço dela, admiradora do seu espírito, que ela serve.
Pode-se dizer que em cada edifício construído neste tempo houve sempre uma pedra trazida por Mónica.
Há vários meses que não vejo Mónica. Ultimamente contaram-me que em certa festa ela estivera muito tempo conversando com o Príncipe deste Mundo. Falavam os dois com grande intimidade. Nisto não há evidentemente, nenhum mal. Toda a gente sabe que Mónica é seriíssima toda a gente sabe que o Príncipe deste Mundo é um homem austero e casto.
Não é o desejo do amor que os une. O que os une e justamente uma vontade sem amor.
E é natural que ele mostre publicamente a sua gratidão por Mónica. Todos sabemos que ela é o seu maior apoio; mais firme fundamento do seu poder.

Um arranjo e digitalização de Roger.