segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011


Hoje fui ver o Farense

Sim, fui à bola. À Bola, á moda antiga.
Ao domingo às 15 horas. Depois do almoço, como antigamente
O Farense jogou em Massamá onde fui almoçar a casa de meu filho.
O Adversário, foi o Clube local, o Real Massamá (onde se fez o Nani e o miúdo o Salomão que brilha no Sporting)
Há quanto tempo não via o meu Farense…
Recuei aos anos 50/60. Ao ritual daquele tempo.
Ao domingo … almoçar… e ir prá bola, com filho e netas
Qual jogos à noite, ao sábado, à sexta, isso viria mais tarde.
É certo que não conheci nenhum dos jogadores do Farense, é certo que nem sequer o nome de qualquer deles sei, já que não vivo na minha cidade, não frequento as tertúlias e o mediatismo dos inquilinos das divisões secundárias é praticamente nulo.
Que contraste com o antigamente, quando os sabia a todos de cor.
Mas fui. Era o meu Farense, ali tão perto.
Lá fomos, com minhas netas já a torcer pelo Real, pois vivem em Massamá desde que nasceram.
Meu filho neutro. Jogava o Clube do pai com o Clube das filhas.
Chegámos. Já lá estava o autocarro do Farense. O emblema, grande, na lateral do autocarro identificou-o de imediato.
Gente com bandeiras alvi-negras, caminhavam ruidosos. Não conheci ninguém.
O jogo começou.
Ali estava eu, no meio da escassa e desconhecida assistência, ausente do que se passava à minha volta, porque o meu subconsciente me empurrava para o “meu” velhinho S.Luis onde os intérpretes eram outros que eu tão bem conhecia.
Na minha frente corriam outros jogadores, ele era o Queimado, o Zé Maria o Alfredo
Aquela falta fora sobre o Reina.
O penalti por marcar fora carga sobre o Rendeiro. E na nossa baliza era o “Ratinho” que lá estava, protegido pelo Ventura e pelo Bentinho.
Volto à realidade, quando à minha volta não vejo na assistência o respeitável Sr. Gago, o Rodolfo e outros adeptos de todos os domingos.
Vi onde estava, quando não ouvi o habitual pregão do velho e baixote espanhol que vendia torrão de Alicante apregoando:
--Torró, torró!...
Empate, 1 golo para cada lado. Resultado justo. Uma palavra de apreço à claque do Farense. Apoiando sempre, durante toda a partida. Cantando incentivando. Ruidosa sim. Correcta também.

À saída só uma travagem brusca, e um esticão no meu braço, meu filho evitava que distraidamente entrasse numa passadeira de peões porque o meu cérebro revia o “maluco da bola” que o popular actor amador João Veríssimo (barbeiro de profissão na largo d’Alagoa) tão bem dizia, lendo os versos que o poeta e cronista desportivo Vítor Castela compusera para a revista “…o resto são cantigas!” levada à cena em meados dos anos 50 no já desaparecido cinema Santo António.

Dizia assim o saudoso João Veríssimo:


“ Ai meu Deus que estou chalado!
Não me toquem! Estou danado!
Sinto vertigens na tola!
Não ganhamos por um triz…
Eu venho do S. Luís,
Fui ver o jogo da bola!
Só espanhóis havia três,
Cada um por sua vez,
A mostrar mais ligeireza…
O Zé Maria ladino,
O famoso Celestino
E o potente Vinueza!
O Lãzinha passa ao lado,
Joga a bola pró Queimado
Que a endossa pró Rendeiro…
E eu com o meu amigo Gago
Por um pouco não me … deixo
Lá ficar o dia inteiro!
-Bola ao centro! Grita o Passos…
Há correrias, abraços,
Por isso ninguém se ensaia.
Os outros cheios de pasmo
E é tanto o entusiasmo
Que o Rodolfo até desmaia!
Há agora uma rasteira,
Surge bronca…--Que sujeira!
Grita de longe o Lacerda …
E o público indignado,
Começa a bramar irado:
--Ò seu árbitro vá …à fava!
Sofre o Manso e o Baptista
Que não é curto de vista
Segue entusiasmado a luta…
O árbitro não apitou,
Já dois cantos perdoou…
Que grande filho da mãe!
Terminou o desafio!
Eu estou a suar de fio
E embora mal pareça,
Não consigo descansar
Porque não posso tirar
Os dois cantos da cabeça!””


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Recordar esta rábula de 1955 no Cinema Santo António, foi o prolongamento de todas as recordações que este jogo a que hoje assisti, me trouxeram à memória.

Abraços


Jaime Reis