domingo, 20 de fevereiro de 2011

"RETRATOS À LÁ MINUTA"



1. Apologia de Faro

Sou fanática pela minha terra.
Amo-a com paixão doentia fechando os olhos a todos os inconvenientes que, racionalmente, sei que existem.
Não consigo perdoar os que a criticam, embora possa entender as suas razões.
Sempre fui assim, neste AMOR por Faro.
Talvez por ter vivido no coração da cidade durante a infância, talvez por ter respirado a essência genuína emanada das pessoas, das casas e do ar ...
A grande marca vincada pela cidade, nas minhas recordações, é a Rua de Santo António.
Nela corri e saltei quando criança de escola, por ela passeei com colegas de liceu, para baixo e para cima, numa vivência inesquecível; e com brincadeiras de adolescentes .
Na Rua de Santo António namorei, andei de braço dado com o meu marido, empurrei os carrinhos de bebé das minhas filhas, ensinei-as a andar e vigiei-as ao longo do seu crescimento, transmitindo-lhes todo este amor e revendo-me na sua progressão.
Também elas pisaram a calçada da rua quando se emanciparam, casaram e procriaram.
Na rua da minha vida passeei, amparando a mãe já velhota, empurrei a cadeira de rodas do pai e nela enterrei a amargura da sua perda.
Todas as tardes entretenho os netos, esperando a hora de os devolver aos pais, . prevendo o futuro dos pés pequenitos que começaram a pisar as pedras da minha rua ...
A rua perdeu movimento, mas tanto eu como o meu marido continuamos a desfrutar dos passeios, do Jardim à Pontinha, com o mesmo entusiasmo do passado, olhando as casas, as pessoas, respirando com prazer de novidade tudo o que nos rodeia.
Há sempre um amigo para "3 dedos "de conversa, para comentar o presente, o passado, prever o futuro e recordar o cheiro da castanha assada, no Outono, a Ria Formosa, a Alameda, o Liceu, Santo António do Alto, a Doca, a Sé ... enfim ...
- É paixão doentia!!!!!!!!!!!!!
Tive uma avó que nas longas noites de Inverno, sem televisão, nos encantava com os seus cantares, as suas danças, as ladainhas, adivinhas, lenga-Iengas, poesias, relatos de histórias cómicas, dramáticas ou assustadoras. Armazenei esses conteúdos e adicionei-lhes os meus, para os legar-aos descendentes.
A vida actual é de tal maneira preenchida, que não existe espaço para ocupar com conversas de família, ou tempo para "perder" a ouvir uma avó ou uma mãe ...
Surgiu-me a escrita.
Lego as minhas crónicas e o meu Amor a Faro aos familiares, amigos, farenses de nascimento, farenses adoptados e aos simpatizantes da cidade.


Crónicas de Lina Vedes, na 1ª pessoa,
"IN FARO RETRATOS À LÁ MINUTA”
Continua
Colocado por Rogério Coelho