Respigámos da Revista eTc. artes&design, de Dezembro de
2011, da nossa Escola
A COLUNA
DO DOUTOR VIRIATO
PRAGMATISMO
Confesso que foi com alguma apreensão que acedi ao pedido que me foi
formulado pela Redação desta revista, para ocupar um espaço de opinião. Receava
que as minhas convicções pudessem ser escarnecidas por uma comunidade escolar
com a qual já não me identifico. Mas a insistência da Redação, o estado da
Educação e do país e o sentido do Dever falaram mais alto e aqui estou.
A Tomás Cabreira foi a minha alma mater nos idos anos 50. Aqui
cresci, estudei e fiz grandes amigos - saúdo todos eles e também o Aníbal.
Nesse tempo o Ensino era pragmático - utilizava saberes já adquiridos e
acrescentava outros. Sabíamos fazer coisas. Hoje o Ensino nega os ensinamentos
do passado e o saber adquirido e, sem
nada aproveitar e nada dar, pretende ocupar todo o espaço do conhecimento. Os
alunos não sabem fazer nada. Mas chega de lamentações, falemos da grande remodelação
em curso na Tomás Cabreira.
Acompanhei pelos media o início
do processo e alarmaram-me as ideias modernaças que então circulavam: arquitetura
pós moderna, ecologias, integração na alameda, “reabilitação” urbana, abertura
à comunidade e outros disparates. Como já é bastamente visível, o bom senso,
graças a Deus, imperou: o edifício apresenta-se expurgado de aventureirismos arquitetónicos
decadentes e impõe-se, sólido e viril, no seu traçado funcionalista e
industrial da arquitetura dos meus tempos de aluno. Melhor, prescinde de
qualquer ideia arquitetónica para cumprir cabalmente o seu verdadeiro objetivo:
dar um teto a jovens, e professores, saudáveis que dispensam os belos
pormenores arquitetónicos que apenas os distrairiam das suas nobres missões:
aprender e ensinar. Apesar da enorme poupança que esta opção, seguramente, representou
para o erário público, restaram alguns lamentáveis sinais de novo riquismo,
como o ar condicionado. No entanto, pelo que julgo saber, estará desligado
grande parte do tempo. A crise, há males que veem por bem, obriga a que o ar
condicionado seja substituído pelo ar livre. E é disso que a juventude precisa
- ar livre.
Queria, por fim, referir um assunto que, pela sua importância, tem
monopolizado as conversas acerca do novo
edifício: o amarelo que reveste o topo. Concordo totalmente com a escolha da cor: o pigmento amarelo é o mais barato
e, por isso, foi utilizado no Estado Novo (facto histórico) para revestir os
edifícios públicos.
Em tempos difíceis a Economia prevalece sobre a Estética. Seguindo o
louvável exemplo do projetista, pouparei na tinta terminando esta, já longa, dissertação,
despedindo-me com amizade.
DOUTOR VIRIATO - IN Revista eTc.artes&design
Transcrito
por
Rogério
Coelho