segunda-feira, 9 de maio de 2016

CRÓNICA DE FARO:



Vivência literária Algarve/Açores


Opinião de João Leal


Durante dois dias consecutivos a capital sulina viveu uma verdadeira ponte de referência de escritores e poetas das duas regiões atlânticas, o Algarve (aguardando-se, só Deus sabe até quando a concretização deste ensejo milenar) e os Açores (na plena vivência deste modelo que a democratização de Portugal criada pelo Movimento dos Cravos tornou realidade, tal como a Madeira).
Primeiro aconteceu no Auditório da Biblioteca Municipal António Ramos Rosa, em Faro, com a instituída reunião mensal do Clube de Leitura desta instituição cultural, que há dez anos tem vindo a manter, com uma dinâmica admirável e ao desconhecimento da grande maioria dos farenses, uma atividade digna de todo o apreço. De destacar, porque de toda a justiça o é, a presença da drª Sandra Martins (diretora da referida biblioteca) e de Ruben Santos, o devotado presidente da casa dos Açores no Algarve, parceira nesta ação e cujo envolvimento na aproximação, em múltiplas áreas, entre as duas regiões, merece todo o respeito e admiração. E foi no “Dia Mundial da Poesia” que se ouviram a leitura e valiosos depoimentos sobre obreiros na poética e na prosa nascidos nesse rosário encravado em pleno Atlântico.

Antero de Quental, Vitorino Nemésio, Natália Correia, José da Silva Peixoto, Vitorino Nemésio, Rui Peixoto, Eduíno de Jesus, João de Melo, Margarida Bruno, Emanuel Félix, Armando Couto Rodrigues e muitos outros ali estiveram na beleza dos seus poemas e escritos, revelando não só a valia das suas obras como o peso da literatura açoriana no contexto da criatividade aquém e além Portugal. Sentiram-se, de maneira expressiva, na voz dos membros do Clube de Leitura da Biblioteca Municipal António Ramos Rosa, um colectivo que, como muitos outros existentes em Faro, passa à margem dos cerca de 50 mil aqui residentes.
Mas esta ponte Algarve/Açores, erguida em dois dias consecutivos, teve continuidade com uma sessão na sede da instituição açoriana (uma verdadeira universidade aberta, sénior e livre), que procura de forma empenhada, como o frisou o presidente Ruben Santos, “atingir e ter a participação dos amigos algarvios como comunidade envolvente…”). Foi a mesma dedicada ao veterano (85 magníficos anos com a força jovem dos vinte…) escritor, jornalista, escultor, pintor e tanto mais para referir que seria exaustivo o fazer, Henrique Dentinho. No centro a apresentação do seu primeiro livro (fazê-lo nesta fase da vida é obra!) “Misturas Intemporais”, dissecado por esse artista pleno e a dizer como poucos o sabem fazer, que é o Joaquim Eduardo Gonçalves Teixeira.
Joaquim Teixeira, que teve também a colaboração da filha do autor, Patrícia Dentinho, no dizer de vários poemas, destacou que “o título da obra coincide com o autor, fruto do inconformismo e frontalidade que são peculiares deste “homem do mundo” que, nascido e vivendo em Faro, tem fortes raízes em Olhão, havendo feito o curso superior da Escola Superior de Agricultura de Santarém e vivido em Angola, Moçambique, Brasil, França e no Alentejo.
Certo, plenamente certo é que Henrique Dentinho ficou constituindo também um dos fortes pilares desta vivência literária entre os Açores e o Algarve.
João Leal