domingo, 26 de junho de 2016

PEQUENAS HISTÓRIAS


O BORDEL

Havia ficado deslumbrado, no Teatro, na praça Central da cidade, de ver os homens baterem-se pelo sexo das mulheres, içarem-se dos seus assentos em tração sobre os seus braços, depois golpearem os seus colegas ou velhos amigos íntimos que ignoravam, perto da passerelle onde elas desfilavam num pincel de luz, não perdendo de vista a cabeça escolhida para a colar às coxas afastadas, e eu assisto à distância num desses bancos de madeira, aterrorizado e aturdido, encolhendo-me e incrustando-me nesse banco à medida do desenrolar do espetáculo, o mais primário e mais triste do mundo, essa comunhão dos homens com o tesão das mulheres, esse impulso juvenil mesmo dos mais velhos para o atingir, eu bebia-lhes dos olhos os corações que batiam, quase desaparecendo sob o meu assento com medo de ser eleito por uma das strippers, pois forrar o meu focinho no seu triângulo era desvanecer-me definitivamente do mundo, e aí perder a minha cabeça para sempre, a desfolhadora avançava na minha direção desafiando-me, chegava-se cada vez mais perto, mostrando o meu esforço como um elemento cómico ao riso dos outros jovens, prestes a acocorar-se em frente à minha cara e agarrar a minha cabeça encaracolada, a única loura entre toda a assistência, e maltratá-la até que os meus lábios se entreabrissem para honrar a fenda, e beber da sede dos jovens homens que aí se tinham saciado, mas de um só golpe as luzes se acenderam, a mulher surpreendida estremece, atira o robe sobre uma cadeira e foge, e os obreiros escapam-se como bestas, a golpes de assobio ou mesmo de chicote, os jovens homens sequiosos ou saciados, que haviam perdido o seu entusiasmo num relâmpago como uma ilusão de óptica, uma ilusão de sombra, à luz onde eles se revelavam trabalhadores casados, de fatos descorados e mesquinhos, que tinham escondido a sua mulher na cadeira ao lado deles. Coitados...

Autor desconhecido

NOTA DA REDAÇÂO: O que acham, que o que está escrito é uma "ilusão de óptica"?
Roger