terça-feira, 18 de dezembro de 2018

RECORDANDO



Estórias
Todos os costeletas que frequentaram a vertente Comércio, tiveram a disciplina de Contabilidade.
No edifício novo da Escola, a aula de contabilidade era ministrada numa sala no primeiro andar e as carteiras eram escrivaninhas com  o assento num banco alto para permitir que pudéssemos escrever.
No segundo ano de contabilidade o meu parceiro de escrivaninha era o Julião, mais conhecido pelo Julião do Patacão, e como nota de rodapé direi, grande jogador de futebol.
A prova mensal que por obrigação tínhamos que efectuar, era a contabilização duma mercearia.
Em impresso próprio com Deve/Haver e Saldos Devedor ou Credor, contabilizava-se da seguinte forma:
Depósito no Banco em numerário retirado do Caixa:
BANCO
a CAIXA
  depósito no Banco xxx
Este lançamento era efectuado com dois aparos, um sem bico, com a extremidade de escrita rectangular e que era utilizado para as contas principais em letra francesa,  e outro de bico normal destinado à letra inglesa, utilizada no texto e no respectivo valor .
As escrivaninhas estavam munidas dum tinteiro com tinta afim de molharmos os aparos.
Preocupado na contabilização, eis que o Julião faz o seguinte pedido: Tavares, “borra”  aqui!
Olhei para a sua folha e estava um grande borrão de tinta, que o Julião pretendia que eu “borrasse”.
Corrigi e disse: Julião queres que utilize o meu “mata-borrão”. Resposta imediata: Sim quero “matar o borrão” de tinta que deixei cair na página.
Este termo “matar” na língua portuguesa tem variadíssimas utilizações. Esta estória é um exemplo, e no jornalismo escrito é muito frequente. Um texto ou uma crónica escrita por um jornalista, se o editor por qualquer motivo pretender tirar importância junto dos leitores, “mata “ colocando no seguimento desta algo mais apelativo, no tamanho da letra, com fotos ou nas mais diversas formas.
Estas estórias, e todos os Costeletas de certeza  têm imensas, são a riqueza da nossa camaradagem, convívio e fonte de alimentação da nossa provecta idade.
Jorge Tavares

1950/56