O SORRISO
Os sinos da velha igreja soaram. É quase noite. A chuva cai tristonha, lentamente, muito lentamente,
O homem grita, a mulher segue-o. E a chuva indiferente, continua a cair.
O velho recorda, o menino sorri.
Acendem-se as luzes. Calaram-se os choros, os queixumes; mas a tristeza voltou.
Tudo isto é vida, sim é vida que passa, que ri e não torna mais. A lua redonda desponta lá muito longe rindo, rindo perdidamente.
Eu da minha janela vejo tudo isto. Vejo a vida lá fora a rir-se de mim.
Estou triste, porque quero misturar-me com ela, rir com ela perdidamente.
A chuva cai com mais força, a vida continua a fugir-me.
As sombras alongam-se na rua, o comboio passa.
Passa a vida indiferente, tudo passa estrangula-me e não me deixa pensar.
Ela não me ama, não me deseja. Sou matéria que ela arrastou e converteu em lama. O dia chegou. O sol voltou a brilhar. Lá fora a vida continua
António Anselmo Viegas
IN AÇOTEIA Nº 1