quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

O COSTELETA ZÉ ALBERTO FIGUEIRA (II)

José Alberto Figueira
















GRANDE COSTELEETA, GRANDE HOMEM E GRANDE AMIGO

texto de Norberto CUNHA


Mas, pouco depois, a vida passou-lhe uma dramática e quase aniquiladora rasteira. Viajando feliz com a família, rumo à cidade e à praia do seu coração para as férias estivais, um espectacular acidente rodoviário sobre todos se abateu, causando-lhe danos físicos irreversíveis e comprometendo, quase liquidando, tantos desejos, sonhos, projectos. O José Alberto, com pouco mais de trinta anos, ficou paraplégico.


Condenado à cadeira de rodas para o resto da existência, recearam os amigos que, como réplica de um sismo, a diminuição física lhe contaminasse o espírito, perturbando-lhe o pensar e transviando-lhe o sentir, cerceando-lhe o prazer de estar vivo, levando-o da conformação à recusa, à desistência da luta. Mas isso só porque nem os mais próximos conheciam bem, em toda a sua real dimensão, apesar das provas que dela já dera, a grande força de espírito que ele possuía e felizmente possui.


Quem não o conhece e circunstancialmente se encontre perto dele, ouvindo-o por escassos minutos que seja, logo se dá conta de um optimismo perante a vida que não deixa lugar à pena de si mesmo, e se surpreende com um bom humor onde não faltam a piada ou anedota oportuna que sempre parece ter na ponta da língua, como se a cadeira onde se senta não tivesse rodas.


Terminado o internamento em Alcoitão, colocou a si mesmo o desafio de enfrentar e superar, a sua pesada, vitalícia e complicada condicionante, convertendo-a num obstáculo relativisável como qualquer outro, transponível em cada dia, pela força de vontade. E com espanto e pessimismo de alguns, mas alegria de outros, começou por recusar a derrota de uma prematura aposentação e regressou ao banco. E neste se conduziu como antes, afirmando-se exclusivamente pelas suas capacidades e empenho, arredando a priori, qualquer possibilidade, maior ou menor, próxima ou remota, de lhe ser concedida, num gesto de comiseração, alguma regalia ou privilégio.


Poucos anos depois, abraçando um projecto de formação e valorização pessoal e profissional mais ambicioso, ingressou no Curso de Direito que, dadas as barreiras arquitectónicas do edifício da Faculdade, nunca frequentou, mas prosseguiu. Socorrendo-se de sebentas e sumários de aulas, enfrentando professores que, com suspeição e alguma má-vontade, nos exames lhe cobravam a sua condição de absentista e autodidacta, atingiu e concluiu o terceiro ano. Só por ter secado então a fonte das sebentas e sumários não obteve a licenciatura. E é pena. Pela certa, ter-se-ia feito um advogado de renome, defensor de causas justas, grandes ou pequenas, indepentemente da bolsa dos seus constituintes.


Todavia, se mais não houvesse, o seu percurso profissional é prova bastante das suas invulgares qualidades humanas e profissionais. Elas o guindaram até ao topo da carreira – o cargo de director, que desempenhou durante os doze últimos anos ao serviço do banco.


O José Alberto Figueira Guerreiro foi, é, enfim, um daqueles, poucos, homens, que, contra dificuldades e o infortúnio, a si mesmo se fizeram.


Para ele, daqui vai, uma vez mais, o meu fraternal abraço. Texto de: recolha de


Norberto Cunha