quinta-feira, 7 de maio de 2009

MENSAGEM 1000













MENSAGEM 1000

È especial.

1 - À CONVERSA COM JORGE TAVARES

Encontrei o Jorge Tavares na Rua de Santo António, à esquina do Aliança em frente à Caixa Geral de Depósitos, onde trabalhou o CUSTÓDIO JULIÃO, que fazia a linha média com o BASTO na equipa de futebol da Escola..

JOÃO BRITO SOUSA (BS) – Jorge, foste tu que disseste que a nossa foi uma geração de ouro. Ainda manténs isso?

JORGE TAVARES (JT) – Sem dúvida que sim. Repara que toda a nossa geração está aí, de cara levantada, todos, uns mais outros menos, fizemos uma carreira, descobrimos um itinerário de vida, estamos aqui. Sem vaidade assumimos os nossos erros, ganhámos e perdemos, chumbámos alguns anos, mas conseguimos. O importante na vida é conseguir, com honradez e trabalho, ganharmos o direito a um posto de trabalho. .

BS – A quem se deve isso?

JT – A duas vertentes. Em primeiro lugar à competência dos nossos Mestres e depois à dedicação dos alunos. Divertimo-nos mas estudávamos também. No nosso tempo tínhamos a noção que viver dá trabalho. E muitas vezes em condições precárias. Mas tivemos força e vencemos.

BS – Um professor que te marcasse?

JT - O professor que me marcou foram todos. Com métodos de trabalho diferentes mas com uma característica comum: uma enorme dedicação aos seus alunos e nós demos aquilo que pudemos. É interessante esse diálogo professor /aluno. Aconteceu que o diálogo nem sempre foi pacífico. Utilizar uma cábula é um processo de aprendizagem que só a escola nos dá a possibilidade de a por em prática. A escola prepara-nos com o apoio dos livros e obriga-nos a ser astutos ou espertos. É uma preparação para a vida de valor extraordinário. A vida lá fora é difícil e a escola dá-nos esse treino. É por isso que o saudoso Alex era sempre o primeiro a ser chamado no primeiro dia do período nas aulas do Dr. Uva..

BS – A malta?

JT - È o melhor que a Escola tem. A camaradagem, a inter ajuda, a amizade, as jogatanas, o andar à porrada, a bicicleta do Zé Vitorino Neves do Arco, os Alpinos do Zacarias e do Danilo, o Cucciollo do Vinebaldo Charneca, o Capitão Januário, o Ludgero Farinha sempre com o penteado em dia, o Zé Elias Moreno ( o Nestlé) e o Bernardo Estanco, o Ferro e o Salsinha com a mania da ginástica do Charles Atlas, o Matos Cartuxo, o Hélio de Loulé, a Cem à Hora, a Odete, o Banana, o puto Zé Correia, os Molarinhos e os Zambujal, o velho Frank, o João Leal, os inseparáveis depois da tropa Alberto Rocha e Zé Emiliano, o Brito de Estói, amicíssimo 100% do Alaberto Rocha que largou a bomba na aula do Xencora, Diamantino Piloto um pedagogo exemplar, o Mestre Olívio, o Mestre Mário do fado falado, Guerreiro e a D. Maria, Roseta, Damião e Cruz, Carolino inesquecível mestre, pergunte à máquina, a Drª Florinda, o Zé Vitorino na aula da Drª Celeste, Lozinha a Caixa, três quecas, sessenta paus, o Dr. Proença, anda cá Faísca que tu tens a mania que xabes, o Toino Zé Leonardo de S. Brás e as moças, o menino Jesus do Rio Seco, o Víctor Carromba, o Edménio e pistola na aula do fonética, os sempre impecáveis Jorge Barata e Fernando Bento de Sousa, o Manuel Zé Coelho Guerreiro, Rua do Lá Vai Um, PADERNE e eu, o Ludovico, o Teófilo, o Víctor Abrantes e a Marciana do Largo de S. Sebastião. E não me perguntes mais nada que uma lágrima já rola.

BS- Caro Jorge, desculpa o abuso, mas poderia ser assim. O que é que achas? Fico à espera da tua resposta.

JT -

2 - O LARGO DE S. SEBASTIÃO.

O Largo desempenhou grande função social nas aldeias, vilas e cidades, pois era ali que, noutros tempos, se juntava gente aos magotes para comemorar qualquer coisa. O Largo era o centro das localidades e era através do Largo que o povo comunicava com o mundo, como diz Manuel da Fonseca em “o Fogo e as Cinzas”.

Era ali que os viajantes se apeavam das diligências e contavam as novidades. Também à falta de notícias, era aí que se inventava alguma coisa que se parecesse com a verdade. Nada a destruía; tinha vindo do Largo.

Estas crónicas que escrevo por puro prazer, para mim, constituem um elo de ligação à cidade que continuo a adorar, porque Faro é a minha cidade, a cidade que muito contribuiu para o estatuto de homem que hoje possuo.

Falar de Faro, constitui uma aproximação às origens, e na minha escrita por impulsos, apraz-me recordar locais e nomes de pessoas e contar algumas peripécias de outros tempos, que tenham acontecido comigo ou que tenha sido testemunha aí para essas bandas de S. Sebastião.

Quem entra em Faro e vem do Posto da Polícia de Viação e Trânsito em direcção ao refúgio Aboim Ascensão, à esquina da primeira rua à esquerda, que antigamente ia dar à estrada da Senhora da Saúde, ficava aí um estabelecimento comercial de comes e bebes e mercearia, salvo erro, cuja exploração pertencia a um polícia, cujo filho é o Zézinho “Polícia”, que me parece estar a residir em Coimbra e costumava andar aí com a gente.

Continuando em direcção ao Refúgio, primeira à direita é o Largo de S. Sebastião, zona de residência da minha colega de Magistério, a Professora Marciana. Gente “célebre” daí do meu tempo eram os irmãos Primitivo, o Jorge e o Teófilo, o Joaquim Padeiro (um rapaz adorável) o Jorge Tavares e o Ludovico, todos lá da Escola Comercial.

O Teófilo e o Ludovico eram excelentes jogadores de futebol, sendo o Ludovico até um super dotado na matéria. O Joaquim Padeiro evidenciou-se no andebol escolar, pois era detentor de um remate alto lá com o charuto.

Saindo de S. Sebastião em direcção a S. Pedro, fica à direita o Posto da GNR, onde nós, os da Escola Comercial íamos aos sábados aprender a manejar armas não sei para quê; era o serviço de Milícias.

Era aí que o Quinta Nova, um rapaz lá da Escola Comercial que tinha queda para militar, dava as suas instruções técnicas. Mas não matámos ninguém.

Segue-se depois à direita ainda, a cadeia antiga, onde esteve preso o Rui Rebola lá do Patacão, por ter sido apanhado pela polícia a conduzir um tractor agrícola sem carta de condução. Ainda me lembro de ir ver o Rui, aos sábados, mas não consegui entrar na cadeia, vi-o cá de fora. Ao lado da cadeia há ali uma capela onde ficam uns cadáveres à espera do enterro.

Foi de lá que saíram os funerais do Xico Zambujal, grande figura de professor e de artista de Faro e de pessoal ali do Patacão, entre os quais o meu padrasto. Como me competia, estive lá no funeral dele e o senhor padre, que acompanhou a cerimónia final, teve um discurso deste tipo:

Tens muito dinheiro...olha (e com o indicador apontava para o caixão...), como que a dizer que isso não vale de nada, tens ar condicionado?... e apontava, tem isto tens aquilo e apontava sempre. Saí de lá convicto que somos mesmo pó e que não valemos nada.
Continuando, agora à esquerda, ficava aí a sapataria Limpinho, cujo “boss” era casado com a Teresinha, que tinha sido minha mestra de escola paga, na Senhora da Saúde. E seguindo, estava agora à esquerda uma casa que recebia raparigas estudantes e depois entrava-se no Largo de S. Pedro, onde está a Igreja onde eu fui baptizado pois sou natural de S. Pedro e afilhado do Padre Zé Gomes.

Faro é a minha cidade. Vamos continuar a falar dela. Farense, sempre.


3 - À CONVERSA COM

JOSÉ CORREIA XAVIER DE BASTO

José Correia Xavier de Basto é natural de Faro onde estudou e se preparou para a vida.. É reformado da banca comercial, onde percorreu vários serviços com desempenhos de boa qualidade. É um homem estimado pelos amigos e um bom conhecedor da vida . Muito cuidadoso com o seu aspecto pessoal, foi igualmente muito cuidadoso com a sua imagem profissional. Gosta de desporto e ele próprio foi jogador de futebol. Foi com ele que tivemos esta conversa. Que deu nisto.


1 - (JBS) – A vida, o que é no seu entender? E gosta da vida?

XAVIER DE BASTO – A vida é andar por aí. É cumprir com as nossas responsabilidades, é ser leal, ser solidário... A vida, é, digamos, cumprir um programa que nos foi destinado ou que nós criamos, é cumprir com os objectivos traçados, é dizer bom dia, boa tarde, ser educado, é ir ver um bom espectáculo, emocionar-se, rir e chorar, a vida é viver e conviver. Quanto ao gostar da vida acho que é uma obrigação gostar da vida. A vida é uma janela que nos ofereceram para entrar e não podemos recusar a entrada. E depois é gerir essa estadia, umas vezes gere-se bem outras nem tanto. Mas é a vida.

2 – JBS - Os momentos de alegria?

XB – Haverá certamente alguns. Mas um dos momentos de grande alegria que senti, foi quando fui treinar futebol para jogar nos juniores do Farense, e o treinador me veio dizer que gostou de me ver jogar e que contava comigo. Foi um dia grande para mim porque eu tinha o sonho de jogar futebol no Farense e consegui. E gostei muito de jogar futebol..

3 – JBS– Qual a razão?

XB – Porque o futebol forma e educa as pessoas Exige muito de nós mas também nos dá muita coisa. Conheci muita gente no futebol e o futebol ensinou-me a estar presente em muitas cerimónias em ambientes exigentes, ensinou-me a ser solidário, a ser correcto com os adversários e muita coisa mais. Em suma, o futebol preparou-me para a vida e ajudou-me a viver, não financeiramente mas socialmente

4 – JBS- A escola, como foi?

XB – É o local que nunca mais esquecemos. Os primeiros amigos fazem-se aí na escola, na primária e depois na secundária, não só a nível de colegas mas também a nível de professores. A escola não é só o local onde aprendemos mas sim o local onde nos ensinam coisas importantes que nos acompanharão toda a vida.. Os valores da honra, da verdade, do cumprimento das nossas obrigações e outros valores aprendem-se na escola. E assim nos fazemos homens. Esta era a escola do meu tempo. Hoje parece que não é bem assim.

5 – (JBS ) - nome de um grande professor.

XB – Citarei dois. Américo Nunes da Costa, um professor, um pedagogo, um conhecedor profundo das relações sociais, em suma, um amigo, um grande amigo. Foi ele que nos educou a todos sendo amigo de todos na mesma dimensão. Foi Pai, foi Mestre , foi amigo e foi professor. Um grande homem. O outro que quero referir é outro professor que por sinal e de Olhão, o professor Diamantino Piloto, um Mestre e um amigo extraordinário

6 – (JBS) - Cultura, para si, o que significa? ...

XB – Há uma frase feita que elucida muito bem o significado dessa palavra. Cultura será então tudo o que nós sabemos depois de termos esquecido tudo o que aprendemos. No fundo cultura é saber em termos de possuir conhecimentos, é saber estar, é saber respeitar os outros, e saber dignificar-nos a nós e aos outros, cultura no fundo e o conhecimento total que a pessoa .

4 - A MELHOR EQUIPA DE ANDEBOL DA ESCOLA

Em continuação do que já foi dito sobre esta eqipa , aí vaida nossa conversa telefónica, vou tentar reconstituir o percurso da equipa de andebol de que falámos.
A equipa-tipo era constituída da seguinte forma : guarda redes - Canseira, defesas - Amaranto, Figueiredo e Vargas, avançados – Ribeiro, Casaca e Hélio; depois havia 4 ou 5 suplentes. Entre estes estava o Soromenho, os outros não me recordo,mas há uma fotografia tirada em Beja onde está o grupo todo, por isso tentar arranjar a fotografia.

Esta equipa participou no Campeonato Nacional na altura da Mocidade Portuguesa, na categoria de vanguardistas A (tenho a impressão que era assim que se chamava).
O primeiro jogo foi realizado no velhinho campo de São Luís contra o liceu de Faro, que na altura tinha como guarda redes o Jaiminho (infelizmente já falecido) e tinha também um grandalhão que era maior que o Figueiredo; o resultado foi 4 a 1 a favor da escola, que ao intervalo perdíamos por 4 a zero, mas na segunda parte virámos o jogo a nosso favor com o 1º golo marcado por mim e os restantes 3 já não me lembro, mas tenho a impressão de que foi o Figueiredo e o Casaca.

O segundo jogo foi em Beja onde ganhámos por 9 a 1.Só não sei se foi contra a Escola ou Liceu, aqui quem foi o nosso treinador e responsável foi o Coronho, porque na altura o professor Américo já andava para se mudar para Lisboa e entregou a equipa ao Coronho.(Foi aqui em Beja que tirámos várias fotografias).Para irmos a Beja foi realizada uma excursão numa camioneta da EVA conjuntamente com os BIFES que também iam jogar voleibol. Em plena Serra do Caldeirão parámos a camioneta e tirámos uma fotografia (tenta descobrir também esta fotografia).
O terceiro jogo que fizemos foi com a Escola de Setúbal para apurar o representante do Sul para ir à final com o do Norte.
Este jogo também foi realizado no São Luís e o resultado foi a Nosso por 6 a 3. E assim chegamos à final que foi realizada em Lisboa no Liceu Gil Vicente.

Fomos de comboio numa sexta – feira, partimos as 23.30 no Correio e chegámos a Lisboa no sábado de manhã (vê lá como tudo mudou). Ficámos num refeitório da fnac, hoje Inatel que era para os lados da Junqueira.

O jogo realizou-se no Domingo de manhã (fomos da Junqueira para o Gil Vicente no eléctrico).
Neste jogo da final já contámos com o Professor Américo mas também com o Coronho; perdemos por 4 a 3 mas no prolongamento porque no tempo regulamentar estávamos empatados a 3. Esta equipa do Norte não sei se era Escola ou Liceu quase a totalidade dos jogadores já jogavam no FCP e Salgueiros que na altura era uma grande potência do Andebol Nacional especialmente de onze.
Este andebol neste ano ainda foi com as regras antigas, portanto a NOSSA EQUIPA foi muito grande.

E no princípio do Ano Lectivo houve uma reunião Magna no Ginásio, para dar a recepção aos alunos e onde nos entregaram as medalhas referentes ao segundo lugar alcansado. Que eu me lembro, no meu tempo que andei na escola nunca mais se realizou esta reunião nos outros anos seguintes até eu sair da Escola.
Curiosidades de que eu me lembro
1 – Como sabes, na altura para nos deslocarmos para estes jogos tínhamos que ir vestidos com a farda da Mocidade Portuguesa, como nunca comprei esta farda,o Fernando(Belinha) é que me emprestava a sua.
2 – O Professor Américo foi dar aulas para Lisboa.
3 – O casaca jogou andebol de 7 muitos anos no Belenenses (não sei chegou a Internacional
4 – O Figueiredo jogou andebol de 7 no Benfica foi internacional.(quando eu regressei do Ultramar nos anos 60 encontrei-o por acaso em Sete Rios, ia treinar e convidou-me para ir também mas recusei por várias razões que não vale a pena dizer
5 – O Ribeiro foi jogar futebol nos juniores do Benfica (não sei qual o seu percurso como futebolista. Só há pouco tempo é que o encontrei em Faro
6 – O Soromenho (já falecido) foi guarda redes na primeira equipa do Farense, jogou também no Benfica andebol de 11 como guarda redes e praticou atletismo no mesmo clube na especialidade de salto em comprimento e triplo salto, creio que chegou a Internacional. Com o Fontainhas participou em vários Ralis do Algarve e de Portugal entre outros, em representação da Ford. Foi vendedor de automóveis no Entreposto de Faro e por acaso vendeu-me alguns carros “NISSAN” e conseguiu dar-me a volta quase sempre, Paz à sua alma.
7 – Dos outros que faltam perdi-lhes o rasto.
8 – Já me esquecia de te dizer o mais importante que tinha chumbado o ano por faltas a Religião e Moral (como os tempos mudam).
Amaranto Romão

Coordenação de

JBS

MENSAGEM 999


Na mensagem 1000, a seguir, pintei a manta
Quero enviar um abraço
para todos e um especial ao Jorge Tavares, a quem fiz uma entrevista que eu imaginei.

RECORDAÇÕES

Da malta costeleta que foi valente
Grandes cenas de porrada no recreio
O Rodrigues, o Reinaldo Neto, o João Cuco
O Alfredo Teixeira, o Nogueira e o irmão
O Zé Maganão ...
O Fuzeta e o Santa Luzia, o Campina

E tantos outros ...
JBS