segunda-feira, 17 de maio de 2010

DO CORREIO ELECTRÓNICO

Este artigo escrito no Diário de Notícias, pela jornalista Fernanda Câncio, mereceu o meu aplauso´e desde logo a minha concordância com todo o seu conteudo.
Entendi que seria interessante descrevê-lo no nosso blogue, para leitura de todos os que não lêm aquele periódico, justificando deste modo uma reflexão e quiçá uma tentativa de colaborarmos na mudança de comportamento s cívicos.
Jorge Tavares
costeleta 1950/56

LADRÕES DE CASACA


Bom, lá veio o apocalipse:
aumentos em praticamente todos os impostos, retracção no investimento píblico e um recuo do governo em várias das suas apostas e promessas nas ùltimas eleições. Isto sucede, estranhamente, no momento em que se descobre que Portugal é, na UE, o país cuja economia mais cresceu - ou seja, melhor recuperou da recessão.Bem sei que não percebo nada de economia (é sempre bom avisar) mas isto é, até para uma néscia como eu, um bocado paradoxal de mais.
Faz sentido sufocar e castigar uma economia quando ela dá mostras de recuperação? Não poderão estas medidas ter efeitos recessivos, ou seja, agravar a situação do país?
E se os motivos próximos ou mesmo directos destas medidas são as avaliações desfavoráveis das empresas de rating, que se deveriam à noção de que a economia portuguesa não iria recuperar, se está a recuperar como se explica que se funcione como se não estivesse?
Mais: se ainda anteontem o Governo, o Presidente da República e até os responsáveis da UE frisavam que Portugal e toda a zona euro estavam a ser objecto de um ataque "dos espectuladores" sob a forma das avaliações das empresas de rating, por que motivo agora se conformam com funcionar de acordo com regras e parâmetros cuja justeza, veracidade e eficácia não reconhecem?
Como cidadã Portuguesa e eleitora deste Governo, gostava de ver estas minhas perguntas respondidas. Como gostava de perceber porque motivo, num País em que a fuga de impostos é estimada em 20% do PIB - pelo menos o dobro da regra das economias avançadas--,se assiste a tão poucos progressos e tão poucos anúncios de esforços tendentes a direccionar a máquina fiscal no sentido de recuperar aquilo que anualmente anda, nas previsões mais conservadoras, nos 10 mil milhões por ano, uma maquia que corresponde a cerca de dois terços do défice - ou seja, do problema.
Em toda a minha vida de trabalhadora e portanto contribuinte - vinte e poucos anos - nunca ganhei um tostão sobre o qual não fosse obrigada a pagar impostos.
E sempre vi quem o fizesse, de empreiteiros a advogados, de médicos a sapateiros, de restaurantes e lojas aos inevitáveis canalizadores e electricistas.
Gente que não exime, porém, de beneficiar daquilo que o Estado lhes oferece com o esforço contributivo dos outros - as mais vezes até reclamando da falta de qualidade dos serviços.E se são mais uma vez os mesmos de sempre, os que impreterívelmente cumprem, a salvar o barco, é tempo de declarar-se como escândalo público as fugas sistemáticas ao fisco a que assistimos diariamente. E lembrar que, se os especuladores internacionais são ladrões de casaca, estes roubam-nos na nossa cara, contando com a nossa bonomia e colaboração. Qua tal começar por aí?

Reprodução SIC.