Poema da insónia vencida
A crise está-me a dar volta
ao sono e à cachimónia,
e o pensamento me solta
a poesia da insónia.
Não vale a pena chorar
sobre o leite derramado.
A crise veio p'ra ficar,
o melhor é ficar parado.
Parado,até que um dia...
um milagre aconteça,
e nos devolva a alegria
sem puxar pela cabeça.
Porque pensar também cansa
não vale a pena inventar,
Há que ter fé e esperança;
alguém nos há-de salvar.
Já temos tantos pensadores,
jornalistas e doutores
a estudar o esquema;
que se formos opinar,
podemos sem querer agravar
a solução do problema.
Mandamos fazer lá fora
para comprar baratinho,
queremos comprar agora
e falta-nos o dinheirinho.
Do Alqueva vamos fazer
Turismo para o ripanço.
Está-se mesmo a ver...
o corpo pede é descanso.
Pescar dá muito trabalho;
-barcos,redes e anzóis?!
Para comer rodovalho
compramos aos espanhóis!
Os férteis campos de outrora,
que davam vinte sementes,
vejam como estão agora;
inúteis e decadentes.
Para entrar em Medicina
só se com vinte valores,
agora que triste sina;
temos que importar doutores.
Demos Novos mundos ao Mundo,
Somos os maiores...já se vê!
Temos o saco no fundo
mas vamos ter TGV.
Mas nem tudo é ruim,
e uma boa aqui vai:
O Pavilhão do Amorim
Lá na Expo de Shanghai.
Todo feitinho em cortiça
para poder flutuar,
não vá ser como a Justiça
no caso de naufragar.
Chega Sua Santidade;
que luxo e que riqueza!
Nem sombra de austeridade
Nem sinais de pobreza.
Está o País a rezar,
no Papa de olhos postos
vem o governo anunciar:
mais taxas e mais impostos.
Do meu cérebro já cansado
vem o pensamento obscuro:
Critica-se tanto o Passado,
Que nos reserva o Futuro?
Entrámos na CEE
Para ficar abonados!
e agora como é?
Vamos ficar depenados??
Um presidente poeta
vinha mesmo a calhar;
para de musa e caneta
pôr o País a sonhar.
Com patrióticas baladas
e heróicas poesias,
ou eram dívidas saldadas,
ou as algibeiras vazias.
A Natureza deu tudo
ao Homem p´ra ser feliz.
Mas egoísta contudo
ele rejeitou e não quiz.
Num Futuro de incerteza,
como ganhar confiança?
Falta-nos saber e destreza
Só nos resta a esperança.
Estou mesmo a caír
de sono e de cansaço.
Boa noite.Vou dormir.
despeço-me com um abraço.
Fez-me bem reflectir
estou menos deprimido,
e na cama vou cair
sem tomar o comprimido.
Mas não vou ficar feliz
amanhã ao acordar;
Vou pensar no meu País,
e a depressão vai voltar.
13 de Maio de 2010
J.Elias Moreno
MEU CARO,
ResponderEliminarA TUA VOZ INCOMODA....
Ab.
JBS
Meu carissimo Elias Moreno,
ResponderEliminarDeliciei-me a ler a tua poesia. Há muito que não lia com tanto prazer uma poesia dita de "raízes populares". Sem grandes preocupações métricas, mas contendo sátira, humor e realidades, escreveste uma poema ao nível da nossa Escola...porque as nossas raízes são essas (embora tenhamos tambem espaço para o erudito)
Bem hajas e um abraço
Jorge Tavares
costeleta 1950/56
Viva.
ResponderEliminarÉ bom não esquecer que o Tavares e o Moreno foram parceiros de carteira.
O texto do JT leva um abraço sincero ao colega.
E é um bonito gesto.
Aprecio a amizade costeleta.
Muito.
JBS