ILUSÔES (III)
Não pretendo fazer comparações de consentimento com quaisquer fazendeiros do nosso burgo. E muito menos com os montanheiros, que o Brito de Sousa não me leve a mal, ali dos Braciais.
O que é certo é que os ciganos precisam de bons terrenos para que o seu “trabalho” prospere. Têm que estar perto dos “clientes” e para isso precisam de descobrir campos de relva, de feno, de aveia ou de milho cortado a dois passos das respectivas cidades. Sem pedirem licença aos seus proprietários. Aqui, para terem comida para os seus animais, ali para se deslocarem com facilidade e tratar do seu “comercio na cidade”.
Numa manhã de Sábado resolvi visitar o José cuja morada se situa nos subúrbios e resolvi deslocar-me a pé apreciando os campos verdes de erva, sem nada semeado, uma lástima, verificando, antes de chegar a casa do José, um pequeno aglomerado de, chamemos assim, “favela cigana”.
Abri a cancela da propriedade do José e entrei naquele pequeno jardim, de certo modo florido, e reparei que o proprietário, de joelhos, podava umas roseiras.
- Bom dia José! posso entrar?
Respondeu com um resmungo, que percebi ser “já entrou” e acrescentou:
- Oiça, disse ele através do espaço que nos separava, “este mundo, e tudo o que nele existe, não passa de ilusões, Fernando! Desde as coisas mais íntimas – são tudo ilusões! Percebe o que eu quero dizer?
Não houve piscar de olhos nem sorrisos; como se de repente ficasse furioso comigo por eu não saber aquilo há mais tempo. Pensei, “a coisa promete” e respondi
- Sim, está bem, são ilusões, foi tudo o que eu consegui responder. Mas mudei de assunto e disse:
- José, você tem aqui próximo instalados novos vizinhos.
- Vizinhos? Isso é outra ilusão. Satisfazem a fome aos animais, roubam-me a água e, de repente desaparecem e noto depois que tudo o que é de ferro e cobre desapareceu também. Não será isto uma ilusão? Nómadas!
- De facto não deixas de ter razão mas, até ser ilusão…
- Fernando, respondeu. No livro que lhe emprestei está lá escrita esta máxima:
“É uma ilusão imaginar o universo belo, justo e perfeito”.
Conversámos sobre outros assuntos e, na hora do almoço, o José apontou-me o dedo e disse:
- Vou tratar do meu almoço e você, se quiser almoçar, vá para sua casa fazer o mesmo…
Despedi-me, desejando-lhe bom apetite, saí a cancela e ao mesmo tempo que pensava naquele à vontade, indelicadeza e falta de cortesia, dizia para os meus botões:
Isto é uma ilusão
Tudo o que se passou aqui pode estar errado
Montinho
Nota:- Não é falta de respeito falar dos montanheiros dos Braciais… senhor JBS.
Mas se achar que é, peço-lhe perdão. ILUSÕES III a seu pedido.