terça-feira, 26 de abril de 2011

O GERALDES

Por João Brito Sousa


Está na fotografia grande que o mano Roger publicou há dias e que envio em anexo. Parece-me ser o Julião que está na última fila, terceiro a contar da direita. De resto não conheci mais ninguém. Há assim umas caras conhecidas mas não dá para concretizar.


Mas vi o Geraldes e recordei-o com saudade.


Apesar de andar uns anos mais à fente, talvez com o Alberto Rocha, com o Jorge Tavares, com o Vitélio, com o Julião e com outros obviamente, o Geraldes, de quem ainda fui amigo, está nesssa foto na primeira fila de joelhos, com o seu soorriso de sempre.


Penso que todos gostavam dele. Era um rapaz muito comunicativo entre a rapaziada e junto das colegas tinha grande audiência. Tinha pinta. E tinha um espírito jovem, agradável, fresco e saudável.


Parecia.


Um dia passei pelo cemitério e ele lá estava. Fiquei triste com o contacto com essa realidade. E gritei-lhe, óh Geraldes. Não valeu a pena. Já não ouvia nada; estava do outro lado, que nos espera também a nos.


Mas o Geraldes era um belo amigo. Pelo sorriso que trazia sempre consigo. Usava óculos de aros finos, que lhe ficavam bem, parecia um actor de cinema. Era um senhor. Será que ainda é ?


Nada sabemos desse mundo. Mas… se houver alguma coisa, ai vai um abraço. Com amizade sincera.


O Geraldes era grande amigo do Bartolomeu Caetano das Neves, cunhado do Danilo, de Pechão.


O


JOSÉ CLERIGO DO PASSO


Faleceu.


E do tempo dos Zmabujal, Franklin, Ze António, Bica e Valério (acordeonistas) Molarinhos e….


Penso que o João Leal deverá saber disso. Foi professor primário e funcionário do BNU.


Paz à sua alma. Convivi bastante com o Passo em Almada, onde resdia, depois da Fuzeta.


Um abraço para o Alfredo Mingau também.


E para todos os costeletas do
JBS




VISÃO!

A mulher e a menina estão cobertas por uma manta e dormem a sesta na mesma cama.
O homem, no limiar da porta do quarto, olha-as, como se as visse pela primeira vez.
É tão grande a parecença entre elas que o homem sente-se excluído, habitante de um país diferente de­las. Elas que estão num mesmo ovo: branco.
O mesmo cabelo ondulado e a mesma fronte: “quando a menina crescer, terá as mesmas rugas da mãe”, pensa.
O homem tenta lembrar-se da cor dos olhos de ambas, mas resulta-lhe impossível. Vê uma só cor, indiferenciada, que coloca sobre a almofada, como numa paleta, e sabe que não é esse o azul de que estava à procura.
Os dedos longos da menina são uma antecipação dos dedos da mulher. E, agora que as mãos estão adormecidas, o homem não se lembra do que é que a mulher faz com essas mãos, como as move, como as pousa sobre a mesa, como utilizam o garfo e a faca. Sobretudo, o homem não se lembra do que essas mãos fazem sobre ele, e sente um repentino vazio no seu corpo: a sua sensibilidade esvaziada.
Volta às mãos da menina e pergunta-se pelo co­nhecimento que a menina recebe delas, como será o tacto da menina, o que pode sentir com as suas mãos.
Se a visão não se agudizar com o tempo, nem o ouvido, nem o olfacto ... nem o tacto, sim, amplia-se o armazém onde guarda as sensações que estes ór­gãos nos proporcionam.
O homem pensa que gostaria de ter a chave do armazém onde a menina guarda as recordações das suas mãos.
A mulher e a menina dormem aprazivel­mente e o homem pensa nos sonhos de am­bas.
A mulher rodeia a menina com um braço e o homem pergunta-se se a proximidade deste lado o será também do outro, do lado do sonho, ou se será distância.
O homem gostaria de que a mulher e a menina continuassem abraçadas no lado dos sonhos, mas como o pedir? Nem sequer sabe se a mulher estará presente no sonho da menina. Quanto ao sonho da mãe... , talvez a mulher habite em sonhos esse espaço do qual lhe fala, ausen­te deste lado, tantas vezes.
A possibilidade de que talvez ele esteja presente em a1gum desses sonhos e a impossibilidade de o sa­ber perturbam o homem, até ao ponto de sentir um desejo infinito de as acordar. A inveja fá-lo tremer.
É então que sente esse cheiro que lhe sobe do ventre e do peito, e o calor, que sai dele, nas suas cos­tas.
o homem dá a volta e avança pelo cor­redor, procurando. Cruza o salão da casa e assoma-se à janela.
Os salmos, da igreja, do outro lado do rio ressoam ao longe e elevam-se pelo ar, mal roçando esse banho intranquilo da húmida purificação.
Abre a janela.
E fica olhando e ouvindo a música, esse som encandeado, do chilrear dos pássaros, que se combina com o marulhar da água do rio a correr.
E pensa nelas, na mulher e na menina, uma visão de sensações que guarda no pensamento...

Alfredo Mingau
OBS. Um conto para pôr água na fervura da "crise", dedicado a Brito de Sousa e Jorge Tavares de quem aprecio as suas publicações neste Blog..
COMENTÁRIO AO MESMO TEXTO
RETIRADO DO BLOGUE
DEMOCRACIA PARTICIPATIVA.


Por julgar ser interessante comparar ideias, aí vai.

"Os partidos cada vez mais desacreditados, funcionam essencialmente como agências de emprego que admitem os mais corruptos e incapazes (...)"

Isto acontece um pouco porque não há brio em ser político. Já existe há muito tempo uma imagem generalizada de que o político é mentiroso e corrupto. É encorajado a mentir para ganhar votos, e não é punido quando o faz. Não há honra em ser político.

É curioso que a classe que tem a maior das responsabilidades - que é governar - é a menos respeitada na sociedade. Há, portanto, uma tendência para os mais competentes se estabelecerem e singrarem noutras áreas, onde há real prestigio, enquanto os mais medíocres se acumulam em grupos (vulgo partidos) e "esperam a sua vez" pelo controlo da nação. É certo que há excepções...

"(...) não se encontrando forças capazes de alterar o status, parece que a democracia pré-fabricada não encontra novos instrumentos."

Se a democracia pré-fabricada não ganha força, é porque já não se adapta às vontades e necessidades da sociedade, e portanto um novo paradigma democrático é necessário.

"(...) a ignorância de uma população deixada ao abandono (...) não tem capacidade de decisão, a não ser a que lhe é oferecida pelos órgãos de Comunicação. Ora e aqui está o grande problema deste pequeno país."

Falta a iniciativa. Falta vontade de mudar para melhor. As pessoas não se querem chatear muito. Se a senhora na televisão diz que é assim, é porque deve ser assim. Felizmente que este fenómeno tem tendência para diminuir, graças à internet.

Veja-se o caso dos islandeses que se reuniram todos os dias à porta da assembleia, mandaram o governo abaixo e elegeram uma nova assembleia independente. Eles não foram na cantiga de pagar pelos erros do sistema bancário.

Aqui está um homem lúcido. Desde a corrupção inerente ao sistema partidário, ao peso excessivo das forças armadas no orçamento, à falta de imparcialidade dos media, à falta de discernimento e proactividade na sociedade, este senhor acertou em tudo. Os últimos dois parágrafos são perfeitos.

Num à parte, fico impressionado como é que alguém de fora de Portugal pode ter uma imagem tão nítida (mesmo para um cidadão informado) sobre o estado do nosso país.

21 de Abril de 2011 10:14

Recolha de
JBS

Nota:- por achar que era um tanto extenso, como comentário ao texto de Jaques Amaury, publico em post. (Recebido hoje - 26/4 - às 1045)
RC.