domingo, 4 de maio de 2014

UM EXAME DESASTROSO?




               MESTRE CAROLINO, MAIS UMA VEZ                                                                                                                                                                              
Por Norberto Cunha                                                                                                                                 

Porque apenas mestre Carolino e eu nele participámos, o episódio que adiante se relata é aquele que mais tenho hesitado trazer a público. A inexistência de terceiros que dele dessem testemunho e a remota probabilidade de outro aluno do mestre ter passado por situação idêntica, são circunstâncias que fragilizam a credibilidade da narrativa. Mas quem não deve, não teme, e ela aqui vai.   

No início do quarto ano do “Curso Geral de Comércio”, decidi fazer também toda a escolaridade liceal. Um dos problemas que então se me depararam consistia na articulação do calendário de exames dos dois estabelecimentos de modo a ultrapassar a coincidência data/hora de alguns deles. E jogar com as segundas chamadas foi solução que funcionou na mais pacífica normalidade até chegar a vez da prova de dactilografia.  

Esta disciplina era, senão a única, uma das raras de frequência facultativa no horário nocturno. Por isso, escudado na minha prática de empregado de escritório e sem o menor entusiasmo por reencontrar o mestre, nunca pus os pés nas suas aulas embora acompanhasse de perto o que nelas se ensinava e exigia. Foi pois com a maior confiança que compareci à segunda chamada do exame. 

Dez minutos antes da hora já me encontrava defronte da sala, ainda deserta. E na expectativa de a todo o momento ver surgir alguém, mestre Carolino ou outro para fiscalizar a prova, aproveitei para rememorar os lamirés de dois ou três colegas sobre o melhor modo de abordá-la. Porém, mal acabava essa revisão mental já o tempo se escoara, eu permanecia tão só como antes e sobressaltei-me. Todavia, caso fosse averiguar se algo imprevisto se passava, corria o risco dum desencontro com o supervisor que porventura viesse a caminho e, consequentemente, de vir a ser dado como faltoso, o que seria irremediável. Assim, e receando a concretização de algum dos outros maus cenários que já desfilavam na minha cabeça, ali me detive indeciso e ansioso, o olhar dividido entre o limite do corredor e o relógio, contando os minutos, os segundos...           

Com alívio, avistei por fim mestre Carolino na sua lenta passada e a cara de pau do costume. E movido talvez pelo subconsciente desejo de assegurar a sua benevolência, logo que ele se aproximou antecipei-me com o cumprimento cordial de “Bom dia mestre Carolino”. Em Vão. “Bom dia. É então você que vem fazer o exame?”, retorquiu num tom sarcástico e mal-humorado. “Sou sim, mestre”, confirmei cordato e um tanto apreensivo, levando já na conta de mau presságio o estado de espírito dele. E não errei. “Pois é: — comentou em tom severo, olhando-me de soslaio — Mas se eu nunca o vi nas minhas aulas, acha que vale a pena vir perder o seu tempo e fazer-me perder o meu?”. Alarmado com o óbvio propósito da insidiosa pergunta, foi num acento já menos amistoso que contestei: “Perder tempo? Desculpe mestre, não estou a perceber…”. “Ah não percebe? — ripostou ele com desdém — Então fique a saber que está chumbado”. 

E eu que desde as aulas de caligrafia julgava conhecer de sobra a mentalidade, o temperamento, modos e caprichos do mestre, quase me senti manietado, amordaçado. Nunca o imaginara capaz de tão arrogante e preconceituosa prepotência. Mas, olhos nos olhos e levantando o tom de voz, não tardei a protestar: “Chumbado como? Se ainda não fiz a prova?”. Então, despeitado mas precavido, mestre Carolino recuou. “Bom. Não vai adiantar nada. Mas se insiste, não sou eu quem o proíbe. Pode entrar. “ — Respondeu-me, estendendo o braço em direcção à porta. 

Com a sentença já lavrada, o meu desempenho poderia ter sido desastroso. 

Felizmente encarei-a como desafio, concentrei-me, fiz uma prova mais que boa e até me sobrou tempo. E convicto de ter demonstrado ao mestre que o seu juízo prévio sobre a minha aptidão não tinha o menor fundamento, abandonei a sala. Na tranquilidade do dever bem cumprido, desci ao átrio, e foi no cimo dos degraus da entrada que, com demorado prazer, fumei o meu cigarro. Depois, sem expectativa ou ansiedade, regressei para ver a pauta. Verifiquei então que, tal como presumia, mestre Carolino não descera de todo do seu pedestal. Tinha consolado o seu orgulho beliscado e tirara desforço da minha ousadia ao furtar-me ao suplício das suas aulas, punindo-me com a injusta, miserável nota que me deu: dez valores. Mas acabei por me regozijar. Para mim, apesar de tão modesto, tal resultado teve o sabor duma vitória.

Colocado por
Rogério Coelho

MÃE HÁ SÓ UMA


DIA DA MÃE

Para todas, especialmente para as Mães costeletas.
Aqui vai o nosso desejo de um dia recheado
de felicidade
Beijos e abraços Costeletas

Colocado por
Rogéerio Coelho