sábado, 9 de agosto de 2014

CRÓNICA DE FARO


Manuel Passos e Rui Rebocho, 
dois farenses honrados que nos deixaram
Recentemente, a quando do acidente que nos levou por três semanas ao internamento hospitalar, a morte chamou a si, dois homens íntegros, solitários e votados aos outros, nascidos na que foi a freguesia de São Pedro desta cidade que tanto amaram e honraram e “costeletas” assumidos, pois frequentaram a Escola Tomás Cabreira. Às suas saudosas lembranças e ao que foi o testemunho deixado das suas vidas, a nossa fraterna e reconhecida recordação e o preito da mais justa homenagem.
MANUEL HENRIQUE PASSOS foi um dos mais dedicados presidentes directivos da nossa embaixada regionalista em Lisboa, a representativa Casa do Algarve, para a qual sonhou até à exaustão a ideia da sede própria e do Lar do Estudante Algarvio, a par de outras dinâmicas acções. Foi um dos fundadores em 5 de Outubro de 1947 do Corpo Nacional de Escutas (CNE), O agrupamento n.º 157 – Nuno Álvares Pereira e aí desenvolveu uma actividade acção, na vivência do ideal educativo preconizado por Sir Baden Powell of Gilwell. Unia-nos, para além da forte amizade intenso laço familiar. Pois era filha da tia avó Maria Passos, que teve uma mercearia na Rua de São Pedro (histórias de Faro dos tempos idos que urge compilar para que a memória citadina se não esqueça). Desenvolveu em Paderne, na Casa do Povo, com o apoio do Comendador Libânio Correia, uma intensa actividade social, sendo de referir a percursora Colónia de Férias, levando crianças do interior para a beira mar, em adoptadas instalações de um armazém de frutos secos, onde hoje se situam os edifícios do INATEL, e em que, jovens professores, colaborámos com esse sempre lembrado Franklim. Mais tarde radicou-se em Lisboa, desenvolvendo grande actividade profissional, primeiro no sector automóvel e depois, com uma grande superfície de móveis na zona de Benfica. Foi o período em que impulsionou a Casa do Algarve e, ainda que sofrendo os revezes de deixar as instalações da Rua Capelo (imóvel da Rádio Renascença) ou das incompreensões em torno do projecto, por muito considerado “megalómano”, de erguer a nossa verdadeira embaixada na capital.
Faleceu um homem bom, generoso e a dar-se em cada instante que vivia até à exaustão o sonho maravilhoso de amor à Terra Mãe.
Com RUI MANUEL GODINHO REBOCHO tivemos vidas partilhadas desde que ao mundo viemos já que nascemos, com escassos minutos de diferença, a escassas dezenas de metros nos típicos bairros farenses da Estação (Rua Sebastião Teles), um e o outro da Ribeira (Rua Miguel Bombarda), no mesmo dia (26 de Dezembro de 1937), filhos de jovens sempre amigas, amizade que ambos partilhámos até à morte. Curiosamente o acenar do adeus, que outro gesto não nos era físicamente permitido pelo estado em que nos encontrávamos, aconteceu na Urgência do Hospital de Faro. Partilhámos as Escolas Serpa Pinto e Tomás Cabreira e a aventura partilhada, nos anos primeiros da década de 60, do nascente turismo, com o Rui Rebocho a trabalhar na EVA (Agência de Viagens), dirigindo mais tarde várias estruturas deste sector, dirigindo o Parque de Campismo da Praia de Faro, organizando várias edições do Congresso de Turismo do Algarve promovido pelo Skal Clube do Algarve, de que foi fervoroso dirigente. Com ele partilhámos ainda outras avenidas, entre as quais o Teatro Lethes de que foi um destacado artista a nível nacional.
Dois devotados farenses que nos deixaram. Ás suas honradas memórias a saudade, bem expressa nestas lágrimas rebeldes que nos toldam o coração, bem de como amaram esta terra, onde, para pleno orgulho de todos nós, tiveram a dita de nascer.

João Leal
O "Blogue Costeleta" deixa um abraço a João Leal e uma rápida recuperação.