sábado, 15 de agosto de 2015

CANTINHO DOS MARAFADOS
EVOLUÇÃO DAS CEROULAS/CUECAS DOS MARAFADOS DESDE 1950

A caganêra de Castro Verde   

A minha mãe era pufessôra descalicificada quera uma pufessôra ca dava escola ós mininos descalicificados serrenhos e dos montis que só percisavam da aprenderi a contari e até dez pruque na havia pastoris com mais de uma dizena de bichos e de aprenderi a leri qualquer côsita pra ódespois insinarem o gado a leri e a escreveri.
Mas a minha mãe inté quera uma grandi pufessora queu na era descalicificado e inté aprendi os rios, os comboios, os serros e montes, os reis e batalhas,e os poemas queram assim frasis bonitas com floris sem floris e com museca sem museca, na sê se ma tão a comprenderi mas um poema é um poema e na adianta a gente  falari sobre ele pruque ou nos toca a alma ou o pilexo solar e se toca toca se na toca na se entende o poema.
A minha mãe era pois aquilo a ca se chamava uma rigente iscolar ca dava escola como uma pufessora das calicificadas e ca ganhava uma chincha e ia pra cada sito ca só de burro se lá chegava e foi assim queu ma fiz amigo do Zacarias quera um burro que ai de quem ma levantasse a mão pra me dar um tabefe cu Zacarias era logo coice inté dizer chega.
A minha mãe foi pois com a tralha e com o Zé Manel pró palácio da iscola do Rolão quera um monti entre duas aldeias, Sã Marcos dos Trovões e Santa Barbra da Ataboêra e tenho cá ideia ca já baralhei os nomes todos qué uma limpêza.
Na sesqueçam ondi eu vô queu conto já duas histoiras uma em cada aldeia: em Sã Marcos Dátaboêra e não dos Trovões fui eu cá uma vez cortar a trunfa caté na tava nada de fêtio pró grandi mas ca minha mãe embirrou queu devia cortari proque tinhamos quir à festa de Santa Bárbra dos Padrões e não da Ataboêra e prarecia mal quê levassea trunfa grandita.
O barbêro fez-me cá uma desfêta  quinda hoje se matazanam as tripas só de pensari na maldade do home. Tava eu limpêro pra me sentar naquela cadêra quinté rodava assim a modos que carroceli cando o home me disse, vá lá bem educado, queu isso reconheço:”Menino Zé Manel, vamos lá pôr este banquinho pra ficar mais altinho”.
Eu perdi a estribêra!
E disse: Eu uso gravata (por acaso ali na tinha quia cortar a trunfa na ia prá festa) , sou grande ca nem um raio e vomecê quer-me pori um banquito? Ò meu senhori, ó me corta a trunfa como os ôtros sem banquito ou na ma corta queu na dêxo!
Por acaso inté cortou sem banquito e prontos cá eu tivera razão. Mas pior cu banco do barbêro eram as amigas da minha mãe ca raios as parta eram umas bejoquêras do piorio mas era só cá pra mim ca se calhari andavam com fomi de bêjos e eu cá é cas pagava.
Mal achegávamos a Santa Barbra dos Padrões aí vinham elas de bêços aprontados: ”Ai o Zé Manelinho tá um home, ora dá cá um bêjinho...”
E eu pobre inté tomava banho na fronha tanta era a água quelas botavam das bêçolas. Por instinto  de sobrevivencia eu cá acabei por aprender a fintar as bejoquêras: passei a levari os cordões todos 
adesbotoados e assim cas via agachava-me a atacar  e só malevantava cando os instintos bêjoquêros das matronas acalmavam.
E assim passei a dar só bêjinhos mas aí era eu ca gostava na minha companhêra de viagem de carro de mula cagente brincava ao marido e mulheri mas dos casadinhos de fresco pruque casados com muito tempo na eramos que na havia tabefes.
Um dia nas vésperas da Fêra de Castro Verde a minha mãe disse:
“O Zé Manel, anda comeri ca mãe hoje teve um dia daqueles  pouco reprodutivos e inté tive candar a panhar mininos da iscola candavam a tratar do gado em vez de tratarem  da instrução e só agora pude aprontar o jantar qué de favas queu sei ca tu gostas muito mas olha cas favas a esta hora inda ta dão volta à tripa”
Bruxo! Inda por cima na Fêra ca na havia sítio oculto ondi eu pudesse abaxar a calça e arriar o calhau ca na era calhau antes era areia molhada e a toda a hora e as dores eram tantas na tripa caté pensei quera como as doris de parto mas mal chêrosas.
Mas como não há mal ca na tenha em si um beim aquando fiz o exame da quarta classe saiu uma ridação quera pragente escrever ca tinha vindo à Fêra e o ca tinha fêto...
E vai daí eu escrevi:
“A Fêra de Castro Verde e a minha rica caganêra!”.

Devem ter gostado pruque passei com distinção.
  
Nota que é por causa das moscas: na se esqueçam que isto na é escrevinhar mal; é a liberdade do acordo hortigrafico. Escreve-se como se fala e no Algarve fala-se Algarvéu! E muito aportuguesado estou eu que me besuntei mais do que devia com as palavras finas de Lisboa.

Autor desconhecido