CANTINHO DOS MARAFADOS
EVOLUÇÃO DAS CEROULAS/CUECAS DOS MARAFADOS DESDE 1950
A caganêra de Castro Verde
A minha mãe era pufessôra descalicificada quera uma pufessôra ca dava
escola ós mininos descalicificados serrenhos e dos montis que só percisavam da
aprenderi a contari e até dez pruque na havia pastoris com mais de uma dizena
de bichos e de aprenderi a leri qualquer côsita pra ódespois insinarem o gado a
leri e a escreveri.
Mas a minha mãe inté quera uma grandi pufessora queu na era descalicificado
e inté aprendi os rios, os comboios, os serros e montes, os reis e batalhas,e
os poemas queram assim frasis bonitas com floris sem floris e com museca sem
museca, na sê se ma tão a comprenderi mas um poema é um poema e na adianta a
gente falari sobre ele pruque ou nos toca a alma ou o pilexo solar e se
toca toca se na toca na se entende o poema.
A minha mãe era pois aquilo a ca se chamava uma rigente iscolar ca dava
escola como uma pufessora das calicificadas e ca ganhava uma chincha e ia pra
cada sito ca só de burro se lá chegava e foi assim queu ma fiz amigo do
Zacarias quera um burro que ai de quem ma levantasse a mão pra me dar um tabefe
cu Zacarias era logo coice inté dizer chega.
A minha mãe foi pois com a tralha e com o Zé Manel pró palácio da iscola do
Rolão quera um monti entre duas aldeias, Sã Marcos dos Trovões e Santa Barbra
da Ataboêra e tenho cá ideia ca já baralhei os nomes todos qué uma limpêza.
Na sesqueçam ondi eu vô queu conto já duas histoiras uma em cada aldeia: em
Sã Marcos Dátaboêra e não dos Trovões fui eu cá uma vez cortar a trunfa caté na
tava nada de fêtio pró grandi mas ca minha mãe embirrou queu devia cortari
proque tinhamos quir à festa de Santa Bárbra dos Padrões e não da Ataboêra e
prarecia mal quê levassea trunfa grandita.
O barbêro fez-me cá uma desfêta quinda hoje se matazanam as tripas só
de pensari na maldade do home. Tava eu limpêro pra me sentar naquela cadêra
quinté rodava assim a modos que carroceli cando o home me disse, vá lá bem
educado, queu isso reconheço:”Menino Zé Manel, vamos lá pôr este banquinho pra
ficar mais altinho”.
Eu perdi a estribêra!
E disse: Eu uso gravata (por acaso ali na tinha quia cortar a trunfa na ia
prá festa) , sou grande ca nem um raio e vomecê quer-me pori um banquito? Ò meu
senhori, ó me corta a trunfa como os ôtros sem banquito ou na ma corta queu na
dêxo!
Por acaso inté cortou sem banquito e prontos cá eu tivera razão. Mas pior
cu banco do barbêro eram as amigas da minha mãe ca raios as parta eram umas
bejoquêras do piorio mas era só cá pra mim ca se calhari andavam com fomi de
bêjos e eu cá é cas pagava.
Mal achegávamos a Santa Barbra dos Padrões aí vinham elas de bêços
aprontados: ”Ai o Zé Manelinho tá um home, ora dá cá um bêjinho...”
E eu pobre inté tomava banho na fronha tanta era a água quelas botavam das
bêçolas. Por instinto de sobrevivencia eu cá acabei por aprender a fintar
as bejoquêras: passei a levari os cordões todos
adesbotoados e assim cas via agachava-me a atacar e só malevantava cando os instintos bêjoquêros das matronas acalmavam.
adesbotoados e assim cas via agachava-me a atacar e só malevantava cando os instintos bêjoquêros das matronas acalmavam.
E assim passei a dar só bêjinhos mas aí era eu ca gostava na minha
companhêra de viagem de carro de mula cagente brincava ao marido e mulheri mas
dos casadinhos de fresco pruque casados com muito tempo na eramos que na havia
tabefes.
Um dia nas vésperas da Fêra de Castro Verde a minha mãe disse:
“O Zé Manel, anda comeri ca mãe hoje teve um dia daqueles pouco
reprodutivos e inté tive candar a panhar mininos da iscola candavam a tratar do
gado em vez de tratarem da instrução e só agora pude aprontar o jantar
qué de favas queu sei ca tu gostas muito mas olha cas favas a esta hora inda ta
dão volta à tripa”
Bruxo! Inda por cima na Fêra ca na havia sítio oculto ondi eu pudesse
abaxar a calça e arriar o calhau ca na era calhau antes era areia molhada e a
toda a hora e as dores eram tantas na tripa caté pensei quera como as doris de
parto mas mal chêrosas.
Mas como não há mal ca na tenha em si um beim aquando fiz o exame da quarta
classe saiu uma ridação quera pragente escrever ca tinha vindo à Fêra e o ca
tinha fêto...
E vai daí eu escrevi:
“A Fêra de Castro Verde e a minha rica caganêra!”.
Devem ter gostado pruque passei com distinção.
Nota que é por causa das moscas: na se esqueçam que isto na é escrevinhar
mal; é a liberdade do acordo hortigrafico. Escreve-se como se fala e no Algarve
fala-se Algarvéu! E muito aportuguesado estou eu que me besuntei mais do que
devia com as palavras finas de Lisboa.
Autor desconhecido