A “TAMPA”
Foi
no princípio do Verão que a conheci sem ficar a conhecer… Mas vou contar o que
se passou.
A
esplanada junto à costa com vista para o mar do Sul estava repleta. Ninguém
mostrava desejo de abandonar o local até porque a sombra era confortável. Notei
que uma mesa estava ocupada por apenas uma jovem. Aproximei-me e dirigi-lhe a
palavra:
-
Desculpe a intromissão mas como não há lugares vagos poderei sentar-me na sua
mesa para tomar um café?
Os
dados estavam lançados, poderia ser uma companhia agradável, mas ela não
respondeu. “Que pena pensei”. Alguns segundos depois, sem deixar de olhar o
horizonte, fez um gesto com a mão indicando a cadeira vazia. Compreendi,
agradeci e sentei-me. Olhei para o empregado que entretanto aparecera e
solicitei um café.
Durante
meio minuto observei-a de esguelha notando que devia estar pelos trinta e
poucos, bem proporcionada, beleza normal, morena, cabelos negros caídos sobre
os ombros, sem ser do tipo sexy que a blusa e as calças de ganga não lhe
proporcionavam, atraente, mas com um semblante bastante sério.
Fiquei
admirando a misteriosa calma que aparentava sem que se dignasse olhar-me,
mantendo o olhar em apreciação do pôr de Sol que submergia ao longe sobre o
oceano.
Não
me contive e dirigi-lhe a palavra:
-
Parece-me muito sozinha, perguntei através da pequena distancia que a mesa nos
separava.
-
Também você. Respondeu, não de imediato, sem deixar de manter a observação no
Sol que desaparecia no horizonte.
-
Pelo ar sério que apresenta gostaria de
lhe per-guntar se tem algum problema, pois teria imenso gosto em ajudar,
perguntei.
-
Oh!, não se incomode, nada de importante. Apetece-me apreciar a natureza e a
beleza do por de Sol, sonhar acordada.
-
Isso quer dizer que a minha presença está a interromper o seu sonho?
Levou
um certo tempo a responder. Não quis interromper o seu pensamento e aguardei. E
a resposta veio com voz calma e baixa:
-
A minha resposta é afirmativa e que o facto de repartirmos esta mesa me deixou de
certa forma inconformada com a companhia. Acho que me precipitei em alterar o
meu repouso intelectual.
-
Acha que sou uma péssima companhia?
E
a resposta veio rápida:
-
Não o conheço, não poderei ter uma opinião formada. Respondeu sem deixar de
fixar o poente.
-
Isso quer dizer que estou a interferir com a sua postura?
-
Admiro e agradeço a sua compreensão.
Tomei
o café, que entretanto arrefecera, coloquei a moeda no pires, levantei-me e
desejei-lhe um bom resto de tarde, e saí da esplanada sem que ela respondesse,
fizesse um gesto ou deixasse de olhar o horizonte. Durante todo este tempo nem
um olhar me dirigiu.
Antigamente,
naqueles tempos, quando íamos aos bailaricos e a moça respondia que não queria
dançar, os amigos diziam-nos:
“Apanhaste
uma tampa”.
E
Foi de facto o que apanhei desta vez…
UMA
GRANDE TAMPA!
d