quinta-feira, 3 de setembro de 2015




A “TAMPA”

Foi no princípio do Verão que a conheci sem ficar a conhecer… Mas vou contar o que se passou.
A esplanada junto à costa com vista para o mar do Sul estava repleta. Ninguém mostrava desejo de abandonar o local até porque a sombra era confortável. Notei que uma mesa estava ocupada por apenas uma jovem. Aproximei-me e dirigi-lhe a palavra:
- Desculpe a intromissão mas como não há lugares vagos poderei sentar-me na sua mesa para tomar um café?
Os dados estavam lançados, poderia ser uma companhia agradável, mas ela não respondeu. “Que pena pensei”. Alguns segundos depois, sem deixar de olhar o horizonte, fez um gesto com a mão indicando a cadeira vazia. Compreendi, agradeci e sentei-me. Olhei para o empregado que entretanto aparecera e solicitei um café.
Durante meio minuto observei-a de esguelha notando que devia estar pelos trinta e poucos, bem proporcionada, beleza normal, morena, cabelos negros caídos sobre os ombros, sem ser do tipo sexy que a blusa e as calças de ganga não lhe proporcionavam, atraente, mas com um semblante bastante sério.
Fiquei admirando a misteriosa calma que aparentava sem que se dignasse olhar-me, mantendo o olhar em apreciação do pôr de Sol que submergia ao longe sobre o oceano.
Não me contive e dirigi-lhe a palavra:
- Parece-me muito sozinha, perguntei através da pequena distancia que a mesa nos separava.
- Também você. Respondeu, não de imediato, sem deixar de manter a observação no Sol que desaparecia no horizonte.
- Pelo ar  sério que apresenta gostaria de lhe per-guntar se tem algum problema, pois teria imenso gosto em ajudar, perguntei.
- Oh!, não se incomode, nada de importante. Apetece-me apreciar a natureza e a beleza do por de Sol, sonhar acordada.
- Isso quer dizer que a minha presença está a interromper o seu sonho?
Levou um certo tempo a responder. Não quis interromper o seu pensamento e aguardei. E a resposta veio com voz calma e baixa:
- A minha resposta é afirmativa e que o facto de repartirmos esta mesa me deixou de certa forma inconformada com a companhia. Acho que me precipitei em alterar o meu repouso intelectual.
- Acha que sou uma péssima companhia?
E a resposta veio rápida:
- Não o conheço, não poderei ter uma opinião formada. Respondeu sem deixar de fixar o poente.
- Isso quer dizer que estou a interferir com a sua postura?
- Admiro e agradeço a sua compreensão.
Tomei o café, que entretanto arrefecera, coloquei a moeda no pires, levantei-me e desejei-lhe um bom resto de tarde, e saí da esplanada sem que ela respondesse, fizesse um gesto ou deixasse de olhar o horizonte. Durante todo este tempo nem um olhar me dirigiu.
Antigamente, naqueles tempos, quando íamos aos bailaricos e a moça respondia que não queria dançar, os amigos diziam-nos:
“Apanhaste uma tampa”.
E Foi de facto o que apanhei desta vez…

UMA GRANDE TAMPA!

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