quarta-feira, 16 de setembro de 2015


“Ti, Roseta, um fazedor de sonhos”

O recente anúncio, pelo Município, da reabertura da Travessa das Freiras, no largo do castelo, situada entre as oficinas da Câmara e a antiga Fábrica da cerveja, em plena “Vila-a-Dentro”, encerrada há mais de um século, para além de proporcionar mais um elemento da redescoberta daquela zona onde nasceu Faro, trouxe-nos à memória uma figura da nossa infância.
Referimo-nos ao “Ti Rosa”, que morava, no Largo Afonso II, junto ao Convento de Nossa Senhora da Assunção e era um verdadeiro artista, povoando-nos a mente de sonhos e projectos.
De corpo franzino, se a memória não nos trai, elevado grau de falta de visão pelo que usava uns óculos de fortes lentes, de trato afável e compreensível, governava a vida e encontrava a resposta para as exigências quotidianas de quem tinha família a sustentar e não era, tal como nós, possuidor nem de mundos nem de fundos, em afazeres múltiplos, desde a venda de castanhas assadas, quando era o tempo próprio (Outono/Inverno) ao fabrico em madeira de bonecos, que vendia nas feiras. Eram então, ao invés do que hoje acontece, duas: a de Santa Iria em Outubro, no Largo de São Francisco, em convivência com a sua modesta casa e a do Carmo, em Julho, nos terrenos anexos ao templo evocativo do mesmo nome, que hoje já se não realiza… e pena e prejuízo para a cidade o é.
Era com os carrinhos em miniatura (automóveis, carros de tracção muar com bestas e tudo, camiões, carros para bonecas, etc), as gaivotas a bater asas, as fundas, os ciclistas, os equilibristas nas escadas… tudo um mundo maravilhosos reproduzido na madeira recortada e pintada com cores que ele próprio concebia a partir das anilinas de vivas cores.
Ligado como filho, moço da nossa geração, o Roseta, que outro nome lhe não soubemos, à cívica causa dos Bombeiros, pai Roseta, fazia-nos sonhar com os seus bonecos, que nos chegavam, ociosamente e como um precioso tesouro, às nossas mãos e de tantas centenas de outras crianças farenses, pelas ofertas de “feiras” ou pelos tostões que íamos juntando para as comprar.
Um homem singular, um outro Chaplin, não de luzes e sombras, mas à sua escala e arte, de brinquedos que então nos faziam sonhar e criar universos de anseios e de histórias.
Sabe bem recordar o ti Roseta, de há setenta anos atrás…
P.S. – Para aqueles, poucos sei-o bem, leitores amigos, que ainda têm a santa paciência de ler estes escritos, o porquê da opção, em maioria, de memórias e lembranças, que vez de reivindicações ou apontar de necessidades. É os quase oitenta vividos nos dizem que à que aproveitar o que falta para deixar a recordação de um Faro que houve e se houve…