quinta-feira, 17 de setembro de 2015


MINI-DRAMA

NO BECO DA AMOREIRA

           Ao entrar na tasca”, pelo fim da tarde, Alfredo apercebeu-se do brusco saltar de assunto entre o Zé barbeiro e o Chico da Gertrudes, depois do olhar sibilino, inquiridor mas fugidio, com que ambos e o proprietário o miraram. Sinal de que andava no ar coisa menos boa a seu respeito e susceptível de induzir “lábia” prolongada ou acesa discussão. Mas fez-se desentendido, saiu, foi à consulta, comprou os comprimidos na farmácia e regressou à “tasca”.
É agora que vai pôr tudo em pratos limpos. A consciência não a tem muito em sossego, nunca a tem, mas desta vez cheira-lhe a mais uma das tramoias que as alcoviteiras do beco se entretêm a montar e a dar-lhes corda.
“A Flor do Roxo" está deserta. Nem o Zé, nem o Chico, ou quaisquer outros dos frequentadores. Melhor assim. O Maurício está na jogada, porventura até mais que aqueles dois, e o “papo-a-sós” com ele não terá muito por onde descarrilar. Senta-se ao balcão e pede um “medronhito”.
- Então que disse o doutor? Não tens nada de ruim pois não?  Pergunta aquele.
- Não. Por aí não há azar. E já comecei a tomar os comprimidos.
            - Mas ó Maurício não disfarces... Não penses que há bocado, lá por estar à pressa, não reparei no jeito como tu, o Chico e o Zé olhavam para mim. E também percebi que eles embrulharam a conversa quando eu entrei. Tem paciência, mas vais ter de abrir o jogo. Há aí qualquer “marosca” que me “tão” a esconder.
              Maurício inclina-se e responde-lhe fitando-o:
         - Olha “”, se tu ainda não sabes, não sou eu que te vou contar. Não gosto de me meter nesses enredos. Pergunta
a eles, se quiseres.
- Bem me pareceu que anda bicho no mato... E vocês “correm o fecho”, não é? “Porra”! Que grandes compinchas me saíram.
- Não fiques assim, Alfredo. Não leves a mal. Sabes bem que “badalar” certas coisas para um amigo, ainda mais se está doente, é sempre um enrolo do caraças. Só te digo isto: que anda bicho, anda. Mas não é no mato.
         - Ó “”: não me venhas com charadas,  adverte Al-fredo.
         Engole o resto do medronho, pousa o copo e, com um ar sério, a rondar a ameaça, insiste:
        - Eu já te disse que não tenho nada de mau. E se és mesmo meu amigo, não te feches em copas. Também não há-de ser uma coisa do outro mundo. “Tá’se” mesmo a ver que é mais uma das bocas do costume. Já “tou” habituado. Vá lá, “abre o saco”.
           - Sabes uma coisa? Se calhar já “piei” de mais. Mas se queres apanhar o bicho, não precisas nem de ir longe nem de procurar muito.
       - Maurício, duma vez por todas, deixa-te de “bitates ”, ou temos o “caldo entornado”.
       - Calma aí… Desde quando é que tu és homem p’ra não te aguentares com uma má notícia?
       - Ó “”, isso agora não interessa. E se é mesmo um sarilho do “catano”, eu vou sempre acabar por saber, ou não vou?
       - Pois, com certeza, o que muito me admira é como ainda não soubestes...
       - Mas ó Maurício, “eh ”, ainda me fazes “saltar a tampa”. Custa-te assim tanto abrires a “matraca”? Ao menos dá-me aí um “lamiré”!
           - É o que tenho “tado” a fazer. Não percebestes?, esclarece aquele num tom quase de escárnio.
           - Não! Mas então vá, continua.
            - Tudo bem. Mas prepara-te, segura-te.
- Já “tou” preparado. Anda lá...
- Olha, se te puseres à “coca”, é mesmo na tua casa que vais ver entrar o bicho.
- O quê? Espera aí, responde-lhe Alfredo sobres-saltado. Estica a cabeça para o amigo, sonda-o bem no fundo dos olhos e pergunta-lhe:
-  Queres dizer que a minha Júlia?
- Querias saber... Pois é isso mesmo. Nem se fala doutra coisa.
- Não me digas... Mas não, não acredito. Só pode ser mentira. Mais uma boca porca daquelas velhas “cuscas”, Não acredito!
- Fazes mal… Não falta muito começam a chamar-te corno manso.
            - A mim? Nããão! Se isso fosse verdade, também havia de saber-se quem é o “gajo”. Ou não?
            -  Mas sabe-se. É aquele papo-seco do banco-  Na tou a ver...
            -  Ó “”: o “gajo” que está hospedado na Ofélia...
          - O Rodrigues? Não pode ser! Não conheces bem a minha Júlia, “”. Se ela quisesse pôr-me os cornos nunca era com um “lingrinhas” daqueles, um escanzelado que até mete nojo. Ninguém me convence dessa.
- Então não te convenças. Mas olha, também não precisas de espreme-la nem de te pores à coca. Eu é que não me lembrei logo, mas ou tu tens andado muito distraído ou “tás” a ficar surdo.
-  Que é que queres dizer com isso?
-  Então a tua vizinha, a Etelvina, não tem um papagaio?
-  Tem. Mas que é que o pássaro tem a ver com o assunto?
-  O que é que tem? Parece que só tu é que ainda não o ouvistes, mas volta e meia  lá  “  ele:
-  “Ó Rodrigues, veste-te! O Alfrede tá chegar”!
           - Eh “”!... Nunca ouvi, não, assevera Alfredo de olhos esbugalhados. E num ligeiro balancear da cabeça para diante, como que a sublinhar cada palavra, conclui:
            -  Mas assim o caso já muda de figura...
            -  Agora tens é de ter calma, “”. Vê lá o que vais fazer – aconselha Maurício.
            -  Tu vais ver. Dá-me aí outro medronho!
            -  Vou ver o quê?
            -  Vou dar cabo do “sacana!
           - “Porra”! Não devia ter-te dito nada, recrimina-se o taberneiro acabando de encher-lhe o copo, e acrescenta:
            -  Tem calma “”! Não te metas em trabalhos!
-  Quero lá saber de trabalhos! Já disse: Eu mato o “gajo”! Não passa desta noite.
Emborca o medronho e sai desaustinado.

                                                                           §
Júlia adormeceu e despertou sozinha, mas sem sobressalto ou estranheza. Quando o Alfredo não vem jantar, já se sabe. Meteu­-se com os bêbados do Chico e do Zé e só vai aparecer à hora do almoço. Emboneca-se e desce para as compras.
Pela certa, ferve mexerico na mercearia da Gertrudes. Quando ali se juntam a Ofélia fadista, a velha Etelvina, a mulher do Maurício e mais alguma, nunca falha. Só que desta vez parece ser diferente. Em ­nenhuma se vê o sorrisinho cúmplice, o olhar “pulando o ombro”, o ciciar das palavras. Mal acabou de entrar, todas se calaram muito sérias. Júlia tem um mau pressentimento e pergunta para o grupo:
-  O que foi?.. Aconteceu alguma coisa?
            -  Não se esteja a fazer de novas, que a culpa é toda sua, sabe bem, reponde-lhe a Ofélia.
-  A culpa é minha? Culpa de quê?
- Ah não sabe? Coitadinha... Não se arme em parva,   escarnece a mulher do tasqueiro olhando-a de viés.
-  É  tão esperta para certas coisas...
-  Vocês é que devem “tar parvas. Não sei do que é que “tão a  falar!
- Não sabe? Então não foi o seu Alfredo que esganou o pobrezinho?, retalha a fadista com desdém, as mãos nos quadris, e acrescenta: 
- A si é que ele devia ter esganado, sua “puta”!
          - “Puta” é você! Sua fadista de “merda”. Eu não sei, não vi nada, nem me digam mais nada! Sou “muita” mulher e sei respeitar o meu homem!
Tolhida de espanto, afogueada de raiva, olhos chispando, adivinha-se que Ofélia vai atirar-se a Júlia.
A velha Etelvina vem suster o iminente engalfinhar das duas.
Mas rompendo em soluços, Ofélia grita:


           - Ai não sabes? Então porque é que foi, que ele, me matou o papagaio?

NOTA: - Uma história de ficção. Qualquer semelhança com pessoas, factos e lugares é pura coincidência.


CRÓNICA DE UM "COSTELETA" DIRECTIVO
   
ENCONTROS E REENCONTROS


   A Associação dos Antigos Alunos da Escola Tomás Cabreira, levou a efeito no dia 13 de Junho do corrente ano, mais um almoço convívio no Hotel D. Pedro Golf em Vila Moura. O mesmo foi seguido da Assembleia Geral, finalizando com um convívio  dançante.
   Durante a recepção e o almoço, foi um matar de saudades e, rever alguns "costeletas dos anos 50/60/70. Poderei dizer-vos, que uma grande maioria dos anos 50/60, muito mais "usados" do que eu, mas, acima de tudo costeletas como eu, cruzamos-nos algumas vezes nas ruas da nossa cidade de Faro, para não dizer em algumas localidades do nosso Algarve. Encontrar neste grupo alguns "costeletas" que passaram pelos bancos da nossa Escola como alunos e, mais tarde nossos mestres é uma alegria enorme e, peço-vos desculpa de citar dois ou três sem menosprezar os restantes, pois não será por falta de educação ou respeito para com os restantes. Aqui vos menciono como, já referi: Manuel Silo da Graça Caetano, Manuel Inocêncio da Costa e Libertário dos Santos Viegas.
   Por outro lado, e, voltando aos anos 60/70, onde marcaram presença um número razoável de costeletas, foi bom rever também esses costeletas, com os quais mantenho um contacto mais directo no dia a dia, assim como nas redes sociais e, neste "pacote" grupo, permitam-me que mencione aqui alguns deles: Joaquim Eduardo Gonçalves Teixeira (desde o tempo da Mocidade Portuguesa), Henrique Brito Figueira (desde o tempo do Rotary Clube de Faro e actualmente nas redes sociais), Joaquim António Ramalho ( da Mutualidade Popular de Far), Carlos Pedro Gordinho (da Comissão do Circulo Cultural do Algarve e das redes sociais),  a nossa querida Presidente Isabel Maria Lopes Roberto Coelho conhecimento de longa data. 
   Para além do encontro e reencontro com os nossos "costeletas", também foi bom rever alguns que frequentaram a Escola Primária de Mar e Guerra e, que mais tarde, depois de concluídos os estudos do ensino primário ingressaram na nossa Escola Tomás Cabreira ou, melhor dizendo,  Ex. Escola Industrial e Comercial de Faro.
   Sou a dizer-vos que a  minha missão é de muita responsabilidade, não só por fazer parte da actual Direcção da Associação dos Antigos Alunos da Escola Tomás Cabreira como, fazer parte da realização dos convívios dos Electrões, ou seja, antigos alunos do Curso de Formação Montador Electricista da Escola Industrial e Comercial de Faro. Digo e afirmo, responsabilidade, por tentar canalizar o convívio dos Electrões e, de outros convívios existentes de ex. alunos como tenho conhecimento através das rede sociais.
   Termino esta minha pequena intervenção com um grande abraço de um "costeleta",

   Florêncio Pereira Vargues