segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017


Recordações

Embora se possa considerar um atrevimento escrever sobre uma figura com a dimensão do Dr. João Moniz Nogueira, porque tive a honra e o privilégio de com ele conviver, vou tentar recordar alguns episódios desse convívio.
Médico durante muitos anos na cidade de Faro, especialista em otorrinolaringologia, director do Hospital de Faro nessa especialidade e proprietário da Clínica de Saúde com o seu nome, na Rua de Santo António, no primeiro andar por cima da Ourivesaria Miranda.
A sua vida empresarial cingia-se à indústria hoteleira, porque era proprietário duma estalagem em Lagos.
A nossa amizade iniciou-se com uma relação médico-paciente. Posteriormente, essa relação estendeu-se à minha filha. Só algum tempo depois, a nossa relação se alargou às questõesprofissionais, o que nos proporcionou muitas horas de intenso convívio. O Dr. Moniz Nogueira era possuidor de uma enorme cultura e ouvi~lo era uma delícia. Tornei-me seu ouvinte fiel,quer pela forma como pelo conteúdo do seu imenso saber.
Relato um pequeno episódio, bastante elucidativo do que afirmo e demonstrativo da aprendizagem que esses encontros me proporcionavam.
O Dr. Moniz Nogueira residia na Estrada da Senhora da Saúde, defronte da actual Escola Afonso III, onde me deslocava quando a sua vida profissional não lhe permitia ir ao meu escritório.
Numa dessas primeiras visitas, depois de darmos por concluídasas questões profissionais porque sempre me manifestei como bom ouvinte - especialmente, quando reconheço o saber e a inteligência do meu interolocutor – o Dr. Moniz Nogueira dava azo ao seu gosto por conversar e, para mim, à “lição” de culturageral.
A sua colecção de pinturas foi, nesse dia, o alvo escolhido. Fui apreciando e apesar dos meus fraquíssimos conhecimentos sobre a matériafui dando opinião, baseada apenas na minha sensibilidadeSobre determinada pintura, o meu comentário foi negativo. Não gostei!
Com o prazer que lhe era peculiar, quando a arte era assunto, o Dr. Moniz Nogueira foi buscar um pequeno projector e depois de ligar à electricidade,  projectou a luz sobre o quadro. Maravilhoso! foi a minha expressão. Sorriu e disse-me que estava apreciando uma pintura de Vieira da Silva.
Pela primeira vez, corria o ano de  1978, tive oportunidade de apreciar uma pintura de Maria Helena Vieira da Silva. Outras se sucederam e ao Dr. João Moniz Nogueira devo a minha frequência da “escola primária” da cultura.
Falar hoje  de acupunctura é lugar comum. Na década de setentaera uma medicina alternativa praticamente ignorada.
Narrava-me o Dr. Moniz Nogueira que tinha visitado um Hospital na China a convite do seu colega director do mesmo. Uma tremenda dor de lumbago atacou-o na viagem e quando chegou ao Hospitalcom dificuldade se movia. O colega chinês convidou-o então a fazer um tratamento e o resultado foi o Dr. sair quase normal e com a recomendação de repetir no dia seguinte. Depois desses dois tratamentos, a crise de lumbago tinha desaparecido.
Ao Dr. Moniz Nogueira tinhasido aplicados tratamentos de acupunctura, uma das medicinas alternativas de que foi um defensor, perante os seus pares.
É com imenso prazer que escrevo estas parcas linhas, recordando uma figura da cidade que merece todo o relevo e sobretudo, um enorme respeito.

Jorge Tavares
costeleta 1950/56