UM SERVIÇO ATRIBULADO
Jorge
Gancho estudara na Tomas Cabreira. Acabou o curso e passou a dirigir administrativamente
os negócios do padrinho que, ali no Rio Seco, dedicava-se à criação de porcos.
Naquele dia o Jorge chamou os empregados Diogo e Narciso para carregarem os
leitões da pocilga número cinco na pequena camioneta e fazerem a entrega ao
cliente de Paderne. A manhã estivera chuvosa, mas, depois do almoço, o tempo
levantara e o dia estava solarengo.
Pouco
depois de terem partido e cerca de Almancil avistaram na estrada, pedindo
boleia, um padre segurando um cabrito. O Diogo, condutor da viatura, e que não
pode ver um servo de Deus em dificuldade, parou prontamente o camião para ver
se poderia ajudar aquele santo homem. O padre caminhou até à janela e explicou
que precisava levar o Calisto, que era o nome do bode, ao assador de leitões de
Paderne. Que o motorista do autocarro não permitira que o Calisto subisse a
bordo, nem pagando a respectiva passagem. Que achava um despropósito porque o
animal era sossegado não conseguindo convencê-lo por ser teimoso. O Diogo
respondeu dizendo que não se mortificasse porque era precisamente ao assador de
Paderne que iam entregar os leitões e podiam levar o Calisto. O padre desfez-se
em agradecimentos. Em seguida despediu-se e aproveitou para tomar o autocarro
que nesse momento passava. Da porta da viatura, porque reparara que levavam um
garrafão no camião, recomendou:
-
Ah! Não dêem bebida alcoólica ao Calisto que ele fica muito excitado.
E
as complicações começaram.
Quando
o Narciso abriu a parte de trás da viatura para meter o Calisto, os leitões
assustaram-se com o novo companheiro de viagem e puseram-se a correr em
debandada para fora da viatura espalhando-se pelo mato.
Pegar
leitão no mato não deve ser das coisas mais invejáveis e correr atrás de leitão
sujo de lama é difícil porque ficam escorregadios. O Diogo e o Narciso perderam
mais de uma hora para recolher toda a porcalhada. O novo proprietário não iria
ficar nada satisfeito com a mercadoria em estado deplorável. O Narciso alertou
o facto e o Diogo respondeu que o fundamental era entregar os doze animais ao
comprador sãs e salvos.
Aquela
correria encheu-os de sede. O Narciso pegou no garrafão da aguardente de figo
que sempre os acompanhava. O Diogo bebeu meia caneca porque era o condutor e
foi para o volante. O narciso bebeu uma caneca e, olhando para o Calisto nota
que o observa com olhar de carneiro mal morto e pergunta:
-
Também queres?
E
deu-lhe uma caneca porque não ouvira o padre dizer para não darem bebida alcoólica
ao Calisto.
O
Calisto fica excitado e corre atrás dos suínos para agarrar algum.
Depois de muito
trabalho o Narciso conseguiu atar o calisto na grade da viatura.
E
voltaram à estrada.
Mais
adiante o Diogo vê uma linda moça, toda decotada e com a saia puxada, mostrando
o pernão, pedindo boleia na berma. O Diogo, com os olhos em bico, trava o carro
junto da moça. Ela veio rebolando as ancas e, junto da janela, pergunta com voz
meiga, e um sorriso convidativo, se passariam pela igreja de Boliqueime. O
Diogo respondeu que sim e disse ao Narciso para abrir a porta de forma que ela
entrasse e se espremesse no meio dos dois.
A
moça sorriu satisfeita, dirigiu-se para uma moita na berma e berrou:
-
Podes vir avó! Estes otários levam-te!
Acto
continuo e detrás da moita aparece uma velha carregando um baú de madeira.
A
moça olha para o Diogo e grita:
-
Deixa-a à porta da igreja de Boliqueime!
De seguida, dirige-se
atrás da moita e aparece sentada numa mota gritando:
- Ah!
e não a deixem beber aguardente porque fica excitada!
Acelerou
e sumiu-se na estrada.
O
Diogo e o Narciso olham-se com admiração e espanto e, sem pronunciarem qualquer
comentário, deixam entrar a velha e retomam o caminho com o baú junto dos
leitões.
Deixaram
a velha no largo da igreja de Boliqeime e retomaram para Paderne.
Quando
entregaram a carga no destino tiveram que pedir desculpa ao comprador dizendo
que a grade se abrira e os leitões fugiram para o mato com grande dificuldade
em os recuperar.
Um
arranjo de Roger
PS:
- Qualquer semelhança com pessoas da vida real é mera coincidência. Escrito sem
o acordo ortográfico. Verdade ou ficção?
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