sábado, 26 de janeiro de 2019


Para entreter... Leiam, sorriem e... pensem nesta história.


Casais brigam pelos mais variados motivos. O que torna impossível determinar quem tem razão; é que estes dois possuem versões altamente convincentes. Vejamos:
Versão da Esposa
Certa madrugada, enquanto tomava meu chá na cozinha, em busca de algo que me ajudasse a dormir naquela noite insone, fui surpreendida pela chegada do meu marido. Claro, não havia nada de estranho no fato dele se levantar da cama e ir para cozinha. O problema era que ele ainda dormia. Até ressonava, percebi de imediato. Uma respiração estrepitosa.
Ele sentou-se junto a mesa, onde eu estava, e ficou fazendo aqueles ruídos irritantes com a boca, como era costume quando estava no seu sono mais profundo.
Até tentei chamá-lo, mas ele não respondeu. Tentei “ei”, “ow”, “psiu”, e nada. Então, bati com a xícara, depois com a palma da mão na mesa. Mas continuou ressonando.
Até que, entre um ruído e outro com a boca, ele disse:
– Eu pegaria um avião, amanhã mesmo.
Cheguei a tomar um susto. Sonâmbulos falam, é verdade. Mas fui apanhada de surpresa. Daí, comecei a me perguntar: será que são capazes de entabular uma conversa? Eu já tinha ouvido em algum lugar que sim. Então, decidi testar.
– O que dizes que farias?
– Pegaria um avião. O primeiro!
Ah! Ele respondeu. Aquilo parecia divertido.
– Avião? – perguntei, achando graça da situação. – Mas avião para onde, querido?
– Para o norte, eu acho. Ou talvez, até pra outro país, de preferência.
– E o que vai fazer para lá?
– Ficar o mais longe possível de ti.
Aquilo me desconcertou. Longe… de mim?
– Como assim?
– Preciso de paz. Não aguento mais as tuas manias.
De repente, a brincadeira perdeu a graça.
– Manias? Mas que manias?
– Como “que manias”?  O sonâmbulo começou a contar nos dedos. – Tu não admites que toalhas de mesa e colchas não estejam perfeitamente estendidas, fazes um escândalo quando deixo meus sapatos na sala, e ficas ainda pior quando guardo louça molhada no armário…
– Ei, alguém nesta casa tem que prezar pela organização, não é? – exclamei irritada.
– … implicas com a poeira que só tu consegues enxergar nos móveis e bibelôs, me excomungas se deixo o cão subir no sofá, entras em desespero quando coloco roupa usada na gaveta, me proíbes de deitar sem escovar os dentes.
– Alguém nesta casa tem que cuidar da higiene, não achas, porco malcriado?
– … além de implicar com tudo, absolutamente tudo o que faço.
– Mas… como te atreves?
– Por isso, minha vontade é desaparecer. Para bem longe. Talvez viver no meio dos índios, onde são mais civilizados que tu…
– Pois devias desaparecer mesmo, mal-agradecido. Se não valorizas o que tens, então some-te. A porta é serventia da casa – completei, bufando enquanto voltava para o quarto.
Versão do Esposo
Acordei naquela manhã, e a patroa parecia um porco-espinho. Toda ouriçada, uma expressão de buldogue mal-humorado, nem respondeu ao meu “bom-dia”. Mulheres… quem entende!

Um arranjo de Roger