NAQUELE
TEMPO
“Os bailes
da nossa Escola”
No início dos anos cinquenta… 1952… 1953, por aí… não
era fácil organizar um desses célebres bailes que nos deixaram boas recordações
e ainda hoje, muitas saudades.
Começávamos por nomear uma comissão de alunos com a
finalidade de ir pedir autorização ao Diretor (Dr. Fernando Moreira).
Normalmente o sim era concedido com duas condições: - Convidar um professor que
ficasse responsável do evento e mandar rezar uma missa por alma dos
professores, alunos e funcionários já falecidos.
Hoje vou recordar, precisamente, quando foi necessário
pedir a colaboração do nosso professor de religião e moral, ver. Cónego Falé
para a realização da missa na igreja da Misericórdia.
Não foi muito recetivo. Estava magoado com alguns
alunos porque acontecera, dias antes, uma situação embaraçosa durante a última
aula. O tema em debate era nem mais nem menos o Paraíso de Adão e Eva, nos
protagonistas naturalmente.
Comentávamos que tiveram dois filhos Abel e Caim… e
para a propagação da vida humana teria que acontecer sempre o incesto… dizia o
Zé Amâncio.
A este comentário contrapôs o ver. Falé referindo que
Adão e Eva tiveram mais filhos. Respondeu o J. Nobre: - Continua o incesto
entre irmãos, filhos e pais. O ver Falé corou com tanta insistente malícia. A
aula chegou ao fim com muitos comentários jocosos que nada ajudou a nossa
pretensão.
Não sei se foi causa suficiente mas a missa na igreja
da Misericórdia não se realizou. Foi transferida para a igreja da Sé… mas agora
com a necessidade da intervenção do ver. Cónego Bentes. A nossa comissão
deslocou-se ao seminário. Quando chegámos os seminaristas interromperam o jogo
de futebol e ficaram com “os olhos em bico” a contemplar as nossas duas colegas
que nos acompanhavam. Foi divertido. O rever. Cónego Bentes também nos recebeu
com algum azedume e indiferença… porque no domingo anterior à nossa visita
tinham colocado uma enguia viva na Pia Batismal que provocou sustos e gritos
sempre que alguém se benzia após molhar os dedos na água benta… a enguia
saltava.
Conseguimos, mesmo assim, com este cenário
desfavorável harmonizar a situação e a missa realizou-se com tanto carisma que
até o Filipe Vieira esteve presente (desculpa Filipe a ousadia desta
divulgação).
No decorrer da missa dois ou três alunos que nunca
tinham assistido a uma cerimónia religiosa acabaram comungando sem se
confessarem.
…Foram atrás de uns colegas que se levantaram no meio
da missa.
Depois de todos estes acontecimentos, para realizar o
baile, faltava arranjar uma sala condigna que foi possível com um pedido da
comissão ao Presidente da Câmara Municipal de Faro… a sala do antigo mercado.
Seguiu-se a angariação de fundos, isto é, as “massas”
para contratar a orquestra… também conseguido através das entradas pagas… mas
com a benesse do chefe das Finanças a quem a comissão tinha ido solicitar um “fechar
de olhos”.
Finalmente, a realização do baile com a orquestra
Império e o vocalista… nosso saudoso colega José António. – Quem não se lembra
dos boleros suspirantes “teus olhos castanhos”, “… quatro palavras” ou “como é
bom gostar de alguém”… etc. E os tangos dançados a rigor porque a rapaziada de
fato azul, camisa branca de nylon e engravatados condiziam com o ambiente
musical. Lembro-me das nossas colegas que esmeravam-se nos penteados com
preferência para os “rabos-de-cavalo”… estreava lindos vestidos… e, foi neste
período já longínquo, que apareceram as primeiras mini saias com quatro dedos
acima dos joelhos… um atrevimento para a época mas que todo o mundo aderiu… e
ainda bem!
Haja bom gosto!
Foi também neste período que a Ilha de Faro se
transformou do melhor que há na natureza com a chegada dos primeiros biquínis…
Bons tempos!... “Um regalo para as vistas”…
Resta-me acrescentar que no final do baile a comissão
limpou o salão e o bufete, arrumou as cadeiras, dançou uma única vez, comeu uma
bifana e bebeu um pirolito. Comissão sofria!... Como disse no princípio
organizar um baile não era fácil.
NOTA:- Aproveito para saudar com muita amizade a Maria
Beatriz Brito Figueira e todas as minhas antigas colegas da indústria que
estiveram reunidas no almoço de confraternização no Fórum Algarve em Faro.
Paixão Pudim
É com muito agrado que lemos estas Histórias passadas NAQUELE TEMPO
ResponderEliminarObrigado Paixão
Rogério Coelho