CRÓNICA DE FARO
JOÃO LEAL
UM ESCRITO PARA O DANIEL....
Foi, com um misto de alegria e de perplexidade, que tive o grato ensejo de ler excelente escrito publicado na internet pelo «moço do meu tempo... o Daniel Fins Santana. «Moço do meu tempo» e como eu, um louco pela terra onde nascemos e onde aspirámos aquele ar, único e salinoso de «moço da ribeira», é que a rua do Daniel (a Gil Eanes, por todos conhecido por «Rua da Parreira», em cujo rés-do-chão morava uma curiosa e típica figura de Faro, o meu primo paterno, o «Manelinho Tapioca». O Daniel, moço traquina e irrequieto, era filho de um respeitado casal: a Dona Branca (benquista senhora e conceituada explicadora de Matemática) e o sr. Mateus da Silveira Santana, apenas e só, durante oi anterior regime político, o mais conhecido adversário da situação vigente. O «Santana Rádio», como por todos era conhecido, com o seu inseparável cachimbo, foi herói na França ocupada pelos nazis e homem do «maquis», que teve a alegria de viver o 25 de Abril, não obstante ofensas que lhe fora feitas, como aconteceu no respeitado Círculo Cultural do Algarve e que num próximo escrito narrarei. Teve uma casa de rádios, na Rua Filipe Alistão, onde desde há anos, funciona a Casa Piteira. Daí o sobrenome que lhe foi colocado a seguir ao Mateus. Lutador pela liberdade, raro era o dia em que não aparecia na tertúlia do desaparecido Café Atlântico, com a manta debaixo do braço após mais uma pernoita nos escritórios da PIDE. Jornalista, foi dos primeiros do «Jornal do Algarve», como seu colaborador desportivo, foi o grande impulsionador em Portugal da classe vélica «Moth», organizando aqui o primeiro campeonato nacional deste barco de iniciação. Ao sr Santana deve ser, a título póstumo, atribuída pelo Município a «Medalha de Ouro» da Autarquia.
Conheci e muito bem o seu avô, sr. Mateus da Silveira, dinâmico empresário com a sua estância de madeiras na Rua Francisco Barreto, então o «estádio», pois não conhecia o movimento rodoviário que hoje regista. Grande benemérito o era com sua saudosa avó, a cujo palacete o bairro ocorria para ver o monumental presépio ...e as «mãos nunca vinham a abanar». A ausência do seu honrado nome na toponímia farense é uma lacuna moral grave. Lembro-me e muito bem do que foi um dos seus mais dedicados colaboradores, o sr. Herculano da Silveira Herdade, que durante décadas comandou a «Cruz Lusa» (Bombeiros Voluntários), outra lacuna nos nomes das ruas de Faro.
Lembranças, meu Caro Daniel, de uma cidade dos tempos idos e que o seu escrito me fez reavivar.
Obrigado!
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