quarta-feira, 1 de outubro de 2008

DO CORREIO







Almoco de confraternização de "Costeletas"
As fotos mostram um grupo de "Costeletas", reunidos em almoço de confraternização, num restaurante da Fuzeta.
Fotos envidas pelo Victor Venâncio, que também se encontra presente.
Também estão presentes: Agostinho, Caronho, Matias, Reina, Fonte Santa, Elias, Poeira, Parra, Malaia, Casaca e Horta
Recebido e colocado por Rogério Coelho




UM TEXTO DO CONVIDADO MANEL PIORNA. UM ESCRITOR E COSTELETA DE ELVAS.


MEUS CAROS AMIGOS COSTELETAS,

Nos velhos papéis, encontrei este quando da apresentação do meu primeiro livro e achei que não só as mulheres da Planície são dignas da minha Florbela, pelo que resolvi também mostrá-lo em louvor das Costeletas. Aí vai.

DISCURSO APRESENTAÇÃO DE
“PUTOS GANDULOS E GUERRA”
22/04/2000

Porque a vida não se troca, nem se vende por nada!
Só não sente, quem não tem capacidade para recordar!

A influente conspiração contínua, do adquirido sobre o inato. Vai metamorfoseando o (barro) Homem, inoculando-lhe na inocência, -“o saber de experiência feito”- a escola da vida. Assim se vai nesta complementaridade, construindo o Ego de cada um de nós.

Escrito sobre homens. Subreptíciamente vai revelando a influência da mulher, na sua desmultiplicação de: Mulher mãe, irmã, amante, companheira e amiga. Heis pois, como gato sobre brasas, “Putos, Gandulos e Guerra” transcreve: a observação -vivida- de alguém sobre o que o rodeia.

Não é este livro, pretensão literária! Mas tão somente o tentar transpor para a escrita, o sentir da vida -sofrida- do povo da Planície.

E porque não também, essa força-mulher, que foi Florbela Espanca?

Pobre de Cristo

Ó minha terra na planície rasa,
Branca de sol e cal e de luar,
Minha terra que nunca viste o mar,
Onde tenho o meu pão e a minha casa.

Minha terra de tardes sem uma asa,
Sem um bater de folhas... a dormitar...
Meu anel de rubis a flamejar,
Minha terra moirisca a arder em brasa!


Minha terra onde meu irmão nasceu
Aonde a mãe que eu tive e que morreu
Foi moça e loira, amou e foi amada!

Truz... Truz... Truz... _Eu não tenho onde me acoite,
Sou um pobre de longe, é quase noite,
Terra, quero dormir, dá-me pousada!...

Sou um sofredor!... O cordão umbilical ainda não me foi cortado. Confio que não o seja!... Sinto-me bem ligado à Terra-Mãe.
Por esse motivo, aqui trago estas folhas, as quais espero sejam o símbolo de uma aldeia una, nesta linda planície.

Assim sendo:
Este livro não é meu!
É dos que do nascer ao pôr do sol, -por magra jorna- trabalharam a terra que não era sua.
É de quem vergado sob o sol escaldante de meio do dia esgotava as forças -dádiva da magra açorda com azeitonas-, puxando pela torta, ceifando o -pão- trigo do mítico celeiro de Portugal.
Este livro é também dos e das que encharcados, sob o agreste frio e chuva do Inverno enterrando as mãos na gélida terra, apanhavam: a fonte que daria força às sopas e luz à humilde candeia.
Este livro é das mulheres escravas que após um dia de trabalho, em vez do merecido descanso, tinham ainda marido e filhos para tratar e a casa que, limpa e branquinha, lhes dava merecido orgulho!
Este livro é daqueles e daquelas que sofreram a saudade da partida e a ansiedade da chegada, dos seus mais queridos, que viram partir para a guerra!
Este livro é dos que aqui nasceram, e dos que aqui chegando criaram raízes!
Também vale a pena recordar Eugénio de Andrade:


Eu sou devedor à terra,
E a terra me está devendo.
Que a terra me pague em vida,
Que eu pago à terra em morrendo.

Este livro é vosso homens e mulheres da minha terra!

Manel Piorna, amigo do blogue, convidado e costeleta de ELVAS.