quarta-feira, 15 de abril de 2009

VALORES DA LITERATURA COSTELETA


AS PERSONALIDADES LITERÁRIAS DA ESCOLA.

Grandes professores de português da Escola do meu tempo, teriam sido a Drª Maria José Chamiço Guilherme, a Drª Maria Almira, a Drª Irene Jacinto, a DrªCândida, a Drª Celeste, os Drs. Proença, Queiroz e Zeca Afonso, estes os que me lembro.

Quando digo grandes, era no conhecimento que dispunham e na disciplina que sabiam impôr numa aula. Com qualquer desses professores a postura era estar calado e aprender. Grandes mestres foram.

Lógico que destes grandes mestres saíssem gradas figuras da literatura nacional.

MÁRIO ZAMBUJAL; MAIS OU MENOS UM HISTÓRIA

"Queres então saber como me tornei jornalista e escritor. Para começar: escritor não sou... vou sendo, de vez em quando. Por acaso agora estou a ser: saiu o "Primeiro as Senhoras", que até nem se está a portar mal. Mas para se ser escritor, e salvo melhor opinião, é preciso estar sempre a escrever, o que, como se sabe, dá muito trabalho. E esse não é, definitivamente, o meu objectivo. Repara que escrevi o meu primeiro livro em 1980, a "Crónica dos Bons Malandros", e bem me lixei, que nunca mais me livrei da fama de ser um grande malandro. Colou-se-me à pele.
Desde 1980 até agora escrevi cinco livritos. Achas que me posso considerar um escritor? Um quarto de século para cinco prosas! Nã, eu sou é um pacato cidadão, um jornalista bem reformado há uns anitos, que vai continuando a olhar a vida e a contar umas histórias, por vezes na forma escrita. Assim é que está certo.
Está bem, já sei, queres que eu diga como é que surgiu esta mania e queda para escrever. Olha, desde miúdo que tinha alguma inclinação e gosto por estas coisas. Na escola, eu e o meu irmão Francisco, que era mais velho um ano, já fazíamos jornais de parede - ele desarrincava os bonecos (era fabuloso nessa arte) e eu os textos.

Depois, um dia, o meu professor de português, Ângelo Coimbra, gostou de uma redacção que eu fiz - agora nas escolas já não se fazem redacções, fazem-se outras coisas - e achou que devia mandar aquilo para um semanário lisboeta chamado "Os Ridículos", que tinha como director um grande jornalista, o Carlos Rebelo da Silva.

Eles publicaram aquilo, com alguma surpresa da minha família. O meu irmão é que era uma cabeça e eu não passava de um mau aluno, só queria bailes e farras. Olharam para mim de soslaio e pensaram incrédulos: "Querem ver que se faz daqui alguma coisa?".

Eu tinha muita fome de viver, era um puto sedento de diversão. Bailes, namoradas, praia, desporto... Era mesmo o que o Algarve pedia. Um dia, o Nobre da Costa, que era o correspondente do jornal "A Bola" em Faro (não tinha nada a ver com o outro que chegou a primeiro-ministro) e a quem chamávamos "O Vagem" por ser muito alto e magro, adoeceu.
Convém talvez dizer que nasci em Moura, no Alentejo, mas fui viver desde pequeno para Faro, onde o "Vagem" me conhecia de ginjeira. Vai daí, pediu-me para o substituir até ele ficar bom outra vez. Foram três meses. Quando ele regressou, na Bola disseram: ficam os dois. Eu fiquei e pouco tempo depois convidaram-me a vir para Lisboa, o que acontecia pela primeira vez no jornal. Hesitei muito. Em Faro sempre tinha oito meses de praia no ano... Mas lá vim. Também me agradava o novo, a aventura, o desafio. Se bem me lembro, tinha p'raí 25 anos. Fiz bem em ter vindo.
Nesse meu primeiro jornal conheci pessoas extraordinárias, tanto do ponto de vista profissional como humano, como foi o caso, e para dar só dois exemplos, dos meus chefes Vítor Santos e Carlos Pinhão. Gratificante.

Porém, um dia, surgiu um convite do Diário de Lisboa. Hesitei de novo, mas aceitei. Fui também o primeiro jornalista da redacção de "A Bola" a sair - e ainda por cima com algum sentimento de que estava a ser injusto. Trataram-me sempre tão bem, fiz tanta viagem... "Vai o Mareta", dizia o Carlos Pinhão, quando era preciso ir a algum lado, e era preciso muitas vezes... Foi ali que me fiz jornalista. Mas por outro lado interrogava-me se era aquilo que eu queria fazer toda a vida. E não era. Tinha sede de escrever outras coisas, e se a Bola me tinha dado tudo, isso não me podia dar.
texto retirado da net
por João Brito Sousa