sexta-feira, 17 de abril de 2009

CASIMIRO DE BRITO


CASIMIRO DE BRITO,

É costeleta e escritor algarvio natural de Loulé, hoje um dos autores mais importantes da Literatura Portuguesa contemporânea (a sua sistemática reeleição como Presidente do P.E.N. Clube Português é disso sinal, assim como o a Presidência do Festival Internacional de Poesia anualmente realizado em Porto Santo) e com maior projecção internacional (recordo, a título de exemplo, que o Prémio Leopoldo Senghor, na sua primeira atribuição, lhe foi entregue em Paris no final de 2002), prestígio que se reforçará aquando da publicação de uma obra sua como a segunda de uma colecção de autores contemporâneos que a UNESCO se propõe lançar em breve.
Vejamos alguns dos seus melhores trabalhos

fragmento 117 do LIVRO DAS QUEDAS

SE,

Se o mundo não tivesse palavras
a palavra do mar, com toda a sua paixão,
bastava. Não lhe falta
nada: nem o enigma nem
a obsessão. Entregue ao seu ofício
de grande hospitaleiro
o mar é um animal que se refaz
em cada momento.
O amor também. Um mar
de poucas palavras.


UM CORPO UM PAÍS
primeira biografia

Frente ao mar
meu corpo ardente e nu de marinheiro pelo sangue.
Fervem-me nas veias
um milhão de ondas em repouso
Em meus olhos cativos e saudosos
— imagem da minha solidão imensa —
o abraço que me une a ti
ó mar
deus pagão de olhar luminoso e belo!

Recebe ó mar este afluente silencioso
que para ti corre
e contigo se confunde:
o líquido cantão canto a quem me ligo
pelo drama de não ser só teu.


PORTUGAL
(campo de concentração)

Ocupado país ocupado e seco
pelas unhas do sono
e da usura
pelo espinhento abandono
da terra
pelas grades agressivas da Espanha
e do mar
sempre em volta

(a caminho da Europa)

Transparente país despovoado
ao sol deitado

Transparente país por fazer

Entre paredes deixado
a apodrecer


LIBERDADE

Como se de asas de tratasse
invoco teu nome liberdade.

Procuro nos teus seios de lava
palavras nuas à beira da morte.

Âncoras de sol,
frutos indistintos que prometam
um porto com a forma do corpo.


DA PEQUENA MORTE

Alimento a tua pele silenciosa
enquanto renovas a paz do meu sangue
a morte o sismo a transparente cruel-
dade onde naufragamos onde agora
o pão e o sol e o canto inventamos

A noite convoca o arco distendido
a ponte reconstruída dos corpos

Alimento com minha armas vagarosas
âncoras de sangue do mar libertas
a luz que nos unes até aos ossos até
ao núcleo em que terra e fogo desfazem
no corpo a pequena visitação da morte


ESPAÇO CRUEL

Neste espaço cruel
onde me perco onde encontro
neste espaço cruel onde o deserto
nos dá por companhia os próprios ossos
e a morte reflete a nudez de quem
no amor viajado contempla
de frente o sol

Neste espaço cruel onde dos ossos somos deserto a própria companhia
e nos perdemos se nos
encontramos

Neste espaço cruel
a morte nos domina e a morte
dominamos


TEXTOS EN ESPAÑOL

Traducción de
XOSÉ LOIS GARCÍA

UN CUERPO UN PAIS
primera biografia

Frente al mar
mi cuerpo ardiente y desnudo de marinero por la sangre.
Me hierven en las venas
un millón de olas en reposo
En mis ojos pequeños y nostálgicos
— imagen de mi soledad inmensa —
el abrazo que me une a ti
oh mar
ίdios pagano de mirada luminosa y bella!

Recibe oh mar este afluente silencioso
que hacia ti corre
y contigo se confunde:
el liquido canto a quién me uno
por el drama de no se solo suyo.


PORTUGAL
(campo de concentración)

Ocupado país ocupado y seco
por las uñas del sueño
y de la usura
por el espinoso abandono
de la tierra
por las verjas agresivas de España
y del mar
siempre alrededor

(camino de Europa)

Transparente país despoblado
al sol acostado

Transparente país por hacer

Entre paredes dejado
pudrir


LIBERTAD

Como si de alas se tratase
invoco tu nombre libertad.

Busco en tus senos de lava
palabras desnudas al lado de la muerte.

Anclas de sol,
frutos indistintos que prometan
um puerto com la forma del cuerpo.


DE LA PEQUEÑA MUERTE

Alimento tu piel silenciosa
la muerte el seismo la transparente curel-
dad donde naufragamos donde ahora
el pan y el sol el canto inventamos

La noche convoca al arco distendido
al puente reconstruído de los cuerpos

Alimento com mis armas lentas
ancls de sangre del mar liberadas
la luza que nos une hsta los huesos hasta
el núcleo en que tierra y fuego deshacen
em el cuerpo la pequeña visita de la muerte


ESPACIO CRUEL

En este espacio cruel
donde me pierdo donde me encuentro
en este espacio cruel donde el desierto
nos da por compañía a los propios huesos
y la muerte refleja la desnudez de quién
en el amor viajado contempla
de frente al sol

En este espacio cruel donde por los huesos
somos abandonados a la propia compañía
y nos perdemos si nos
encontramos

Em este espacio cruel
la muerte nos domina y a la muerte
dominamos


recolha de
João Brito Sousa