terça-feira, 12 de maio de 2009

XAVIER BASTO, ZÉLIA NEVES e ZÉ JACINTO


3º ANO 1ª TURMA, ANO LECTIVO 1955/ 56

Cheguei no ALFA de hoje a Faro, à minha cidade. Foi aí que me preparei para a vida. Saí da estação e olhei demoradamente a rua Ventura Coelho, em frente, onde no nº 4, estive hospedado na casa da Natércia Pires Correia, a mulher do Francisco Zambujal. depois de lá ter estado também, o poeta Manuel Inocêncio Costa.
Estava nesta de matar saudades quando me cruzo com a Maria das Dores de BORDEIRA. E pergunto-lhe

JOÃO BRITO SOUSA (JBS) – Tu és a Maria das Dores de Bordeira, do 3º /1ª de 55/ 56 ?
MARIA DAS DORES (MD) – Sim, sou, como me conheces?

JBS – Conheço-te lá da Escola, do tempo do Zé Jacinto de Sousa Pinto e do Zé Correia Xavier de Basto e de muitos outros.

(MD) – Esses dois eram cá dois borrachos, dois moços mesmo giros que punham a cabeça em água às moças. Mas não se podia fazer nada. Se fosse hoje? ...

JBS – Mas tens estado com eles, perguntei.

(MD) - Às vezes vejo o Zé Jacinto, ele mora na rua Gago Coutinho, perto do Jumbo. Mas olha lá, não é ele que vai ali. Ó Zé Jacinto? Anda cá, pá.

JOSÉ JACINTO (JJ) – Olha a MARIA, há quanto tempo .... dá cá um abraço. E este cavalheiro quem é?, perguntou.

(MD) – É um colega mais novo do que nós que encontrei aqui. Lembras-te da Natércia do Zambujal que morava ali no 4. Foi hospede lá, em 1952. com o Manel Costa, lembras-te?

(JJ) – Nunca mais vi ninguém. Nem o meu grande amigo Zeca Basto, sempre muito penteadinho, bem engraxado, tudo a maneira, internacional da Escola ao lado do Julião, no tempo do Victor Caronho, Poeira, Parra e Nuno. Não sabes nada do Zeca Basto?

(MD) – Sei, o Zeca foi um excelente profissional da Banca, BNU, a secretária dele sempre limpinha, tudo no seu devido lugar, aquela caligrafia que até dava gosto olhar quando ele fazia os livros selados do Banco, foi um grande amigo. Lembras-te dele Zé Jacinto.

(JJ) – Se me lembro dele, então o Zeca Basto foi o meu melhor amigo aqui em FARO, na Escola e na tropa, ele é que me fazia a barba e dizia-me, tens pouca barba deb.... Tenho saudades dele, como tu dizes, sempre elegante.

(MD) – Então e a tua vida Zé Jacinto?

(JJ) -Vai-se andando mais ou menos. Sou um homem da saudade, lembro-me de tudo da minha juventude, o melhor tempo que a gente tem. E lembro-me bem da baixa da cidade, onde a malta passeava na Rua de Santo António, no Natal, era a Rua cheia de gente, o Bernardo Estanco dos Santos e o José Elias Moreno, sempre, na noite da procissão da sexta feira Santa, o silêncio da noite e depois no verão os bailes da alameda, eu o Basto e o Filipe Vieira. O Filipe lixava sempre a gente. Dançava muito bem, mademoiselle s´y vous plait, me concede l´honour de une dance. No baile do Grémio em Faro, na passagem do Ano, o Zeca Basto tinha um casaco claro de pele de camelo, camisa preta, gravata como o nosso Dr. Coroa e com uma piscadela de olho convidava a menina mais bonita do baile. E a malta gritava Aí Zeca Basto....

(JBS) – Ó Zé Jacinto, eu tenho aqui o telefone do Basto, vais falar com ele, ok.

(JJ) – Não acredito, dá-me aí. Aló Basto... aló....

ZECA BASTO (ZB) – Aló... aló... quem fala?

(JJ) – Basto és tu, há quanto tempo eu não te via. Onde é que estás ó Basto.

(ZB) – Estou na Costa da Caparica. Sabes quem é que me veio cá visitar há dias?

(JJ) – O Teixeira, o Farinha?....

(ZB) – Nenhum desses. Foi o General Alves de Sousa,

(JJ) – Esse que apertou com a gente quando o Murta nos apanhou à paisana?

(ZB) - Exactamente esse.

texto de
João Brito Sousa