segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010


FALANDO DE AUSÊNCIAS E COMENTANDO A MINHA


Caros António Palmeiro e António Encarnação

É com muito agrado e interesse que vejo os vossos artigos sôbre culturas do Brasil. Já manifestei várias vezes a minha satisfação
por tão enriquecedores assuntos e, para quem não conhece o Brasil, esses temas têm muito interesse para quem deseja reforçar a
sua cultura geral, dando-nos a conhecer civilizações que a maioria desconhece.
Agora e melhor do que nunca, uma vez que a nossa História tem sido esquecida, ou omitida, no ensino das nossas escolas, os vossos
artigos sobre o Brasil são bastante valiosos.
A permanência dos Portugueses em Terras de Santa Cruz foi valiosa , levou uma cultura e uma religiosidade tão fortes que hoje nos
envaidece e os enche de orgulho. Quem pode renegar isto ? Quem pode rejeitar o seu conhecimento ?
Tenho pena de me não ser possível comentar os trabalhos apresentados por estes dois bons amigos Costeletas, dar também uma
achega, mas o desconhecimento do Brasil, das suas gentes e culturas, obrigam-me sómente a assimilar o que me é apresentado
em boa hora pelos amigos Palmeiro e Encarnação. Continuem amigos !

Pena é que no Oriente o enraizamento da nossa Cultura não tenha sido mais forte, especialmente na India, uma vez que a nossa
Gente teve de lutar contra Civilizações instaladas e muito mais antigas, contra o Induísmo, o Budismo, o Eslamismo e muito especialmente
contra a Maura Gente que viu perder o seu comércio de especiarias e pedras preciosas .
Será que temas semelhantes sôbre a India e especialmente sôbre Goa , Damão e Diu, onde deixámos raizes profundas, seriam
enjeitados por alguns dos nossos Costeletas ? Julgo que não !

Embora seja sempre agradável recordar a nossa juventude, nunca é de mais falar sobre a Rua de St.º António, o Café Aliança,os jogos de
futebol e outras lembranças já contadas e recontadas, não será também útil conhecer um pouco mais de temas que nos dão a nós, e às
novas gerações ,ensinamentos bastante úteis e de grande interesse cultural ?
Tragam-nos mais coisas do Brasil .

Estoril , 22 de Fevereiro de 2010
MAURÍCIO SEVERO DOMINGUES

Os politicos,o circo e o bater mal da bola.

No nosso país,onde se fala de milhões nos dias de hoje como se falava de escudos quando eu cresci,como se fossem copos de água,pode parecer que os esbanjamentos governamentais são coisas abstactas,que nunca nos batem à porta,diluídas em obscuras contas do orçamento do estado que poucos ligam e muitos menos entendem.
Na última semana,porém vieram a público números de fazer arrepiar o cabelo até aos mais incautos e distraídos.E, mais ou menos é isto.Só para manterem os cinco estádios levantados de raiz aquando da realização do campeonato da europa de 2004, e para amortizarem as ajudas que concederam aos clubes locais nas obras de acesso a outros estádios, oito Camaras Municipais vêem-se hoje a braços com uma conta calada de 26 milhões de euros anuais em amortizações,juros e manutenção.Braga,Leiria,Aveiro,Faro,Loulé ,creIo que Porto e Guimarães tambem,gastam assim em contas redondas 71 mil euros por dia para pagarem uma folia que durou mais ou menos um mês e de que já ninguem se lembra.
Alguns estádios estão às moscas (o nosso por exemplo!).
Em outros,abrir os portões custa tão caro que o melhor é dixá-los fechados a sete chaves( Aveiro).
Na maioria dos casos, as edilidades só desejariam vender os mamarrachos assim houvesse algum interessado.
Quando os políticos nos presenteiam com o circo que em Portugal sempre substitui o pão, talvez devêssemos fazer melhor as contas.
Antes de TGVs,aeroportos e tal e tal,fazer contas antes.Não depois.
Sei que nem todos concordam, antevejo o meu amigo JBS,amante de futebol,vir à liça dizendo que houve mais dinheiro mal gasto e,eu concordo mas esta é a minha reação à noticia e, vale o que vale. Uma opinião de contribuinte!
Se fôr publicado,um abrço para todos.
Diogo

FORÇA e ESPERANÇA


UMA PALAVRA PARA A MADEIRA



De solidariedade, porque aquilo que aconteceu na ilha foi mau de mais, apesar de me parecer que o homem tem que ver, em parte, com o que aconteceu.

Andamos por todo o lado a brincar com natureza e depois dá nisto.

Gostava que se fosse entendimento da AAAETCABREIRA que este texto fosse publicada e levasse em nome de todos os costeletas, um abraço de apoio moral., aos madeirenses.

Sabemos que é pouco mas é uma forma de estarmos, em pensamento, com esses desventurados da sorte.

Penso que ninguém tem consciência plena da dimensão da catástrofe. Deverá ser verdadeiramente desolador .

Por isso CORAGEM.

Texto de
JBS
GRANDES FIGURAS ALGARVIAS

De Alfredo Mingau

Aos 23 anos

FRANCISCO FERNANDES LOPES

Embora sendo médico, notabilizou-se sobretudo como musicólogo, musicógrafo, historiador, filósofo, etnógrafo, inventor, etc., etc. ...
Nasceu em Olhão, em 27 de Outubro de 1884, onde permaneceu até 1965, vivendo os últimos anos em Lisboa, onde viria a falecer em 6 de Junho de 1969, com 84 anos.
Foi sempre um aluno brilhante em Olhão (Escola Primária) e em Faro (Curso Liceal Geral). Em 1901 segue para Lisboa para continuar os seus estudos (no Algarve não havia nessa época mais que o curso liceal geral) e conhece no Liceu da Regaleira alguns estudantes que o iriam marcar e tornar-se figuras importantes: Pulido Valente, que dará o seu nome ao actual Hospital Pulido Valente e o irá convencer a cursar medicina, e o futuro dramaturgo Ramada Curto que o levará a assistir à sua primeira ópera.
Além destes amigos, Francisco Fernandes Lopes torna-se também conhecido e admirado por muitas outras figuras importantes do princípio do séc. XX português: os irmãos músicos Luís e Pedro de Freitas Branco, Castro Freire, Câmara Reis, Rui Coelho, Carlos Amaro, Carlos Olavo, Israel Anahory, Ivo Cruz, Almada Negreiros e Fernando Pessoa.
Para conhecer melhor esta fase adolescente da sua vida, assim como dos seus colegas ilustres, convido o leitor a ler um artigo da autoria do próprio Francisco Fernandes Lopes (clique aqui)
Licenciado com dezoito valores pela Faculdade de Medicina de Lisboa em 1911 , doutorou-se em 1916 com dezanove valores, com a tese Drogas e Farmacopeia, mas recusa os convites para leccionar nesta Faculdade e regressa à sua Vila.
No que diz respeito à enorme importância que Francisco Fernandes Lopes teve para Olhão, apenas poderemos dizer que ele pôs a sua vila de pescadores no mapa cultural, não só a nível nacional como até internacional. Através das suas actividades ele "vendeu" como até hoje mais ninguém conseguiu, a imagem da sua terra, nas décadas de 1920 a 1960, como se tratasse uma autêntica "secretaria de estado da cultura e turismo", apenas dedicada a Olhão. Vivia-se então um momento de prosperidade económica atendendo ao labor das pescas, navegação de cabotagem e, sobretudo, à indústria conserveira e, nesse sentido, Francisco Fernandes Lopes foi também o homem certo no momento certo.
Em 1924-28 organiza os seus "Serões Musicais", no Grémio Olhanense, onde executa dezenas de palestras, ilustradas por excertos musicais executados por um grupo ensaiado por ele próprio.
Estas palestras adquiririam grande notoriedade nacional, tendo trazido a Olhão nomes importantes da música como Luís de Freitas Branco (director artístico do Teatro de S. Carlos), Rui Coelho, Francine Benoit, e a musicóloga Ema Romero da Câmara Reis (esposa de Luís da Câmara Reis). Esta convida Francisco Fernandes Lopes para repetir algumas das suas palestras em Lisboa (integrado num ciclo de conferências chamado Divulgação Musical) e publica-as na sua obra "Seis anos de divulgação musical" (Lisboa, 1929-1930). Foi no âmbito deste convite que Francisco Fernandes Lopes fez ouvir em Portugal, pela primeira vez, em 25 de Janeiro de 1932, o Pierrot Lunaire, de Schoenberg.
Francisco Fernandes Lopes escreve ainda sobre música em vários jornais regionais, nacionais e em revistas francesas da especialidade, continua os seus "Serões Musicais" em Olhão (1929-30) e é convidado a participar em novas conferências musicais em Lisboa (1934) e em programas radiofónicos na Emissora Nacional , onde fica célebre uma sua palestra, pela polémica - "A evolução do Fado, da guitarra à sinfonia"(1935).
Francisco Fernandes Lopes também compõe a música de fundo para o Auto das Rosas de Santa Maria, escrito pelo poeta algarvio Cândido Guerreiro, que é executado em público pela Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional (maestro Pedro de Freitas Branco), em Sagres, no ano de 1940, no âmbito das Comemorações da Fundação da Nacionalidade.
Interessa-se também por História, sobretudo dos Descobrimentos, escrevendo vários artigos sobre a localização da Vila do Infante (que revela ser em Sagres e não no Cabo de S. Vicente), da vida de Cristóvão Colombo, dos irmãos Corte-Real, de Duarte Pacheco Pereira, dos castros e fortalezas portuguesas em África e, sobretudo, da vida do Infante D. Henrique, com a publicação em 1960 do livro "A Figura e a Obra do Infante D. Henrique", ao qual foi atribuído o único Prémio no Concurso das Comemorações Henriquinas desse ano.
No Algarve, sobretudo em Faro, foi professor em diversas escolas - Liceu Nacional João de Deus em Faro, a Escola Primária Superior de Faro (da qual foi director durante 7 anos) e a Universidade Popular do Algarve - e de diversas disciplinas totalmente diferentes, desde as línguas - dominava o castelhano, francês, alemão, italiano e russo -, até à Matemática, História e Ciências Naturais, Geografia e Desenho.
Não renegava a sua origem social pobre e analfabeta - o pai foi comerciante de peixe - e dizia frequentemente que precisava recuperar o que os seus antepassados não puderam aproveitar. Talvez por isso, quando se casou em Olhão com Raquel Pousão do Ó (sobrinha do pintor Henrique Pousão e prima do poeta João Lúcio), em 9 de Junho de 1915, não quis trajar o melhor fato e pôs sebo nos sapatos para estes não brilharem demasiado...
Foi pai de cinco filhas e um filho, aos quais deu nomes curiosos: Belkiss (nome da Ópera que musicou, retirado de um poema de Eugénio de Castro), Melusina, Raquel , Isis , Selma e o Francisco Lopes (júnior) - o Lopinhos - também médico.
O amor imenso pelo povo da sua terra, fizeram-no resistir sempre aos convites prestigiantes para leccionar nas Universidades de Lisboa, Porto e Coimbra. Para ele, o "velhíssimo Reino do Algarve mais cantado" era "aquele que tem Olhão no centro" e "Olhão era um laboratório de sociologia permanente, viva, prática e aplicada, que vale sempre a pena e cada vez mais estudar, compreender e aprofundar, tão rica e surpreendente se nos apresenta".
Politicamente foi um republicano radical na sua juventude que, por vezes, se assumia como anarquista. Pertenceu ao corpo redactorial de uma revista mensal - a "Mocidade", publicada em Lisboa entre 1901 e 1905, que congregou jovens estudantes republicanos e libertários. Aquando da instauração da República em 1910, com 26 anos e enquanto terminava o seu curso de Medicina em Lisboa, advogava a instauração da Ditadura Republicana por um período temporário, de forma a ensinar os valores republicanos ao Povo e assim libertá-lo do jugo cultural dos caciques monárquicos da província.

Muito, mas mesmo muito, poderíamos acrescentar à biografia e obra de Francisco Fernandes Lopes. Mas cremos ser o suficiente para darmos a conhecer esta grande Figura Algarvia.

Recebido e colocado por RC