quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

CONVERSANDO COM

O título com o nome REVIVENDO era de letras maiúsculas, certas, vermelhas.
Quem lesse ficava pensativo.
Eu olhava para o Rogério e, com semblante em que se notava admiração, dizia em voz baixa:
- Que “ganda gaita” pá!, nem que eu cantasse do António Mourão, o tempo voltava pra trás.
- Você acha, heim? Com as coisas como vão… você tem razão!
Recostei-me na cadeira, peguei no copo de medronho depois de ter saboreado o café, dei um trago, fiz uma careta, poisei o copo e respondi:
- Aquele texto tem “cabelo na venta”…
Rogério retrucou:
- Vai outra golada? E para o garçom “mais dois copos”.
Um velhote tocando gaita, aproximou-se. Ficámos calados ouvindo. Quando parou a música disse-nos:
- Pagam-me um copo?
A esplanada do café estava vazia.
- Sente-se disse eu.
O homem trazia um cachecol azul, pegou no cálice de medronho e puxou conversa:
- Boa tarde… São servidos?
- Boa noite, já é seis horas, disse o Rogério.
- É mesmo! Já bateu as seis horas. Enguliu o medronho. Me vou, obrigado.
Rogério, enquanto olhava para o velhote a afastar-se, comentou:
- Então Montinho, continuas a escrever para o blogue?
Enquanto, com toda a calma, bebia o último trago, respondi:
- Não! A minha colaboração foi curta mas terminou.
Levantei-me da cadeira, sorri para o Rogério e olhei em silêncio a rua. Fiquei indeciso se subia ou descia a rua. Cuspi e esfreguei o pé em cima do cuspo. Por fim decidi e lá fui ladeira acima.

Um último arranjo do Montinho

PS: - O Rogério que me desculpe por ter usado o nome dele

REVIVENDO II

Por João Brito Sousa

AO MONTINHO, em especial

Porque o título é dele e não o quero usurpar. Permita-me que o utilize agora. Para dizer que gostei dos textos assinados pelo costeleta Montinho. Porque me pareceu ser um homem justo, sem menosprezo algum por todos os outros, obviamente. Gosto desta postura nos homens. Foi por estas e outras que Hemingway disse "é muito difícil ser homem" .

Reviver é ter saudade, é sentir outros tempos, outros comportamentos, é vontade de voltar, em suma, é voltar a viver. Achei particularmente bela aquela referência aos avós. Saramago disse o mesmo do avô Jerónimo e da avó Josefa.

Leia-se o Montinho-

O meu Revivendo II é resultado duma saudade de estar, sim, mas também revelador duma certa irregularidade no meu comportamento. Têm-me ensinado tanto e aprendido tão pouco. Conta até dez diz o Moreno, João, tens o coração perto do teclado diz o Jorge Tavares. Bons amigos.

Refugio-me na frase de Hemingway.

O Mingau bem me disse num seu texto, estou lá, vê lá se adivinhas. Nada, não adivinhei nada.

Se escrevo isto é por pensar que tudo isto é reviver. Reviver aproxima as pessoas, contribui para aumentar a auto estima, permite que me auto analise. É preciso ser-se autêntico e responsável, o que nem sempre sou. Mas adiante.

A Escola de 1952 / 61, que belas recordações. Que ficam para outra altura.

Para publicar, se se achar bem. Como dizia sempre o Montinho.

A quem deixo um abraço.

E aos ouros todos também.


João Brito Sousa
Costeleta 1952 / 61