segunda-feira, 14 de março de 2011



Homenagem a Marcelino Viegas - 12.03.2011
UM TEMPO DE AFECTOS


Este foi o tema do jantar de homenagem ao costeleta Marcelino Viegas.
Estive presente, e comigo os costeletas Jorge Miguel Tavares ( meu filho ) e João Brito de Sousa ( embora ausente fisicamente ).
Fiquei impressionado à chegada, quando abracei o Marcelino e me apercebi do grau da sua deficiência visual. É uma situação muito difícil e que vai necessitar de muita coragem e determinação para conseguir ultrapassar as grandes dificuldades, sobretudo nas horas de desânimo. Felizmente a mulher, companheira de longos anos, é também os seus olhos, inclusivamente dedilhando no computador a sua escrita - razão principal do seu viver.
O Marcelino Viegas viveu, nesta homenagem, um dos momentos inesquecíveis da sua vida. Rodearam-no mais de uma centenas de amigos, vindos dos mais variados quadrantes da sociedade algarvia e não só. Durante cerca de duas horas, inúmeras entidades expressaram ao Marcelino Viegas e a todos os presentes o seu pensamento sobre o homem e o jornalista. Caracterizado como um homem bom, justo, amigo do seu amigo, excelente companheiro de trabalho, bom pedagogo, e sobretudo jornalista de elevada craveira e merecedor dos mais rasgados elogios dos muitos órgãos de informação (rádio e jornais) presentes.
Das inúmeras pessoas presentes, não posso deixar de salientar a senhora Governadora Civil do Distrito de Faro, Presidentes das Câmaras Municipais de São Brás de Alportel, Faro e Loulé, vereadores, Presidentes de diversas Associações desportivas, nomeadamente futebol , atletismo, ciclismo, proprietários e directores de jornais de Vila Real de Santo António a Portimão, directores da Federação Portuguesa de Futebol e do jornal a Bola, e muitos outros.
Além das intervenções da mesa de honra, dos organizadores e dos muitos presentes que quiseram deixar o seu testemunho, também foram lidas mensagens de amigos e ex-companheiros, que impossibilitados de estar presentes, delegaram a outrém a expressão pública do seu sentir e da sua vontade.
Ausentei-me deste convívio, convicto do dever cumprido e questionando-me se a nossa Associação, que "primou" pela ausência ( directa ou por delegação ), estará de bem com a sua consciência.
Lembro a todos os costeletas que o Marcelino Viegas, iniciou a sua frequência na nossa escola em 1952, e frequentou o Curso Geral de Comércio e as Secções Preparatórias na Escola Tomás Cabreira.
As acções ficam com quem as pratica...e todos os que participaram na HOMENAGEM AO MARCELINO VIEGAS fizeram uma boa e justa acção.

jorge tavares
costeleta 1950/56

nota: junto um descritivo dos jornais aonde participou e os prémios e certificados com que foi destinguido


Nos jornais, entre outros:
o Arauto (Guiné), Jornal do AJgarve, Diário de Notícias,
A Capital, Diário Popular. Diário de Lisboa, Sul Desportivo (chefiou a Redacção), O Comércio do Porto, Record, A Bola (durante 2S anos). Norte Desportivo, O Alfaghar, O Algarve (chefiou a RedaC""ção), Povo do Algarve, Diário do Sul (coorde¬nou a delegação do Algarve). Notícias do Algarve, O Sambra~ sense, A Avezinha e Jornal de Notícias (actual correspondente).
Prêmios, certificados e homenagens, entre outros:
Gandula/ 1987 (rádio); "Jornalismo" da APTA-Albufeira; As-
sociação de Vela do Sul (Dezembro/S8); "Mais de 2S anos de jornalismo em prol do Desporto e da Região': (Governo Civil de Faro, Fialho Anastácio, Fevel~eiro 2002); Troféu Algarve 2002 da Associação de Atletismo do Algarve (Imprensa/Rádio); Diploma
da Região de Turismo do AJgarve - Prêmios Comunicação Social! J 988; Aperfeiçoamento em Imprensa, do Cenjor (Julho a Novembro 1993); participação nas Jornadas de Prevenção e Segurança na Floresta, da Associação Nacional de Bombeiros
Profissionais (Faro, Setembro 1999); Diploma de Louvor de Mérito Jornalístico, por "serviços relevant~s à causa do jornal¬ismo em prol da sua região e do País" (Secretário de Estado Adjunto do Ministro Adjunto do PrimeiroMMinistro, Feliciano Barreiras Duarte, Lisboa, Janeiro/2005); 10 Prémio de Comuni= cação, Honra ao Mérito Desportivo (Governo Civil do Distrito de Faro, 2010).

NOTÍCIAS CARTEIRA



Fagar vai levar água e saneamento
à Bordeira, Chaveca e Bela Curral



Água
A obra que permitirá levar água e saneamento às zonas da Bordeira, Bela Curral e Chaveca vai ser contratualizada no dia 17 de março, numa cerimónia a decorrer na Conceição de Faro.

A empresa municipal de Faro Fagar é a dona desta obra, que se estima que possa levar à adesão de 1500 novos clientes no abastecimento de água e 800 no saneamento.

Segundo a Fagar, as localidades a ser servidas são: «Quinta das Raposeiras, Agostos, Bordeira, Telheiro, Lagos e Relvas, Barros, Chaveca, Pé do Outeiro, Caliços, Bela-Curral, Brejo, Pereiro, Vale de El-Rei e Gional».

A empreitada tem um custo estimado de cerca de 6,5 milhões de euros e deverá estar concluída no prazo de dois anos.

14 de Março de 2011 | 15:00

RC


CRÓNICA DA LOUCURA

O melhor da terapia é ficar observando os meus amigos loucos.
Existem dois tipos de loucos. O louco propriamente dito e o que cuida do louco, o analista, o terapeuta, o psicólogo e o psiquiatra. Sim, somente um louco pode
dispor-se a ouvir a loucura de seis ou sete outros loucos todos os dias, meses, anos.
Se não era louco ficou.
Durante quarenta anos, passei longe deles. Pronto, acabei diante de um louco, contando as minhas loucuras acumuladas. Confesso, como louco confesso, que estou adorando estar louco semanal.
O melhor da terapia é chegar antes alguns minutos e ficar observando os meu colegas loucos na sala de espera.
Onde faço a minha terapia é uma casa grande com oito loucos analistas, portanto a sala de espera tem sempre três ou quatro, ansiosos, pensando na loucura que vão dizer dali a pouco.
Ninguém olha para ninguém. O silêncio é uma loucura e eu, como escritor, adoro observar pessoas, imaginar os nomes, a profissão, quantos filhos têm, se são rotarianos ou leoninos, corintianos ou palmeirenses. Acho que todo o escritor gosta desse brinquedo, no mínimo, criativo.
A sala de espera de um “consultório médico” como diz a atendente absolutamente normal (só uma pessoa normal lê tanto Paulo Coelho como ela) é um prato cheio para um louco escritor como eu. Senão vejamos:
Na última quarta-feira, estávamos:
- Eu
- Um criolinho muito bem vestido.
- Um senhor de uns cinquenta anos
- Uma velha gorda
Comecei, é claro, a imaginar qual seria o problema de cada um deles. Não foi difícil, porque eu partia do princípio que todos eram loucos, como eu. Senão, não estariam ali, tão cabisbaixos e ensimesmados.
O pretinho, por exemplo. Claro que a cor, num país racista como o nosso, deve ter contribuído muito para levá-lo até aquela poltrona de vime. Deve gostar de uma branca e os pais dela não aprovam ou conseguiu entrar como sócio do “Harmonia do Samba”, notei que os ténis estavam um pouco velhos. Problema de ascensão social, com certeza. O olhar dele era triste, cansado.
Comecei a ficar com pena dele. Depois notei que ele trazia uma mala, podia ser o corpo da namorada esquartejada lá dentro. Talvez apenas a cabeça. Devia ser um assassino, ou suicida no mínimo. Podia ter também uma arma lá dentro, podia ser perigoso. Afastei--me um pouco dele no sofá. Ele dava olhadelas furtivas para dentro da mala assassina.
E o senhor de terno (fato) preto, gravata, meias e sapatos também pretos!
Como ele estava sofrendo, coitado. Ele disfarçava, mas notei que tinha um pequeno tique no olho esquerdo, corno, na certa. E manso. Corno manso sempre tem tiques, já notaram?
Observo as mãos, roía as unhas. Insegurança total, medo de viver. Filho drogado? Bem provável.
Como era infeliz esse meu personagem. Em certo momento tirou o lenço e eu já estava esperando as lágrimas quando ele assoou o nariz violentamente, interrompendo o Paulo Coelho da outra.
Faltava um botão na camisa, claro, abandonado pela esposa. Devia morar num flat, pagar caro, devia ter dividas astronómicas. Homossexual? Acho que não. Ninguém beijaria um homem com um bigode daqueles. Tingido.
Mas a melhor, a mais doida, era a louca gorda e baixinha. Que bunda imensa. Como sofria, meu Deus. Bastava olhar no rosto dela. Não devia fazer amor há mais de trinta anos. Será que se masturbava? Seria esse o problema dela? Uma velha masturbadora? Não! Tirou um terço da bolsa e começou a rezar. Meu Deus o caso é mais grave do que eu pensava. Estava no quinto cigarro em dez minutos. Tensa. Coitada. Onde estarão os filhos dela? Acho que os filhos dela não comem a macarronada da “mama” há dezenas e dezenas de domingos. Tinha cara também de quem mentia para o analista. Minha mãe rezaria uma Salve-Rainha por ela se a conhecesse.
Acabou o meu tempo. Tenho que ir conversar com o meu psicanalista.
Conto para ele a minha viagem na sala de espera. Ele ri, ri muito e diz-me:
- O Ditinho é o nosso Office-boy.
- O de terno preto é representante de um laboratório multinacional de remédios e passa aqui uma vez por semana com as novidades.
-A gordinha é Dona Dirce, a minha mãe.

E você não vai ter alta tão cedo.

Luís Fernando Veríssimo (Escritor, cronista e jornalista, brasileiro, filho do grande escritor que foi Érico Veríssimo)

Esclarecimento:

Sou grande admirador da obra do autor da crónica que acima transcrevo e conheço o seu estilo bem como o refinado senso de humor.
Vem esta nota a propósito de há três semanas atrás eu ter assistido a um programa de televisão transmitido pela Rede Globo, denominado “Altas Horas” e no qual participava como convidado Luís F. Veríssimo. O apresentador do programa perguntou-lhe em determinado momento:
- É verdade que circulam pela Internet crónicas e outros escritos cuja autoria lhe é atribuída, mas que na realidade não são seus?
Ao que ele respondeu:
- Sim é verdade, não sei qual a intenção mas na verdade isso acontece!
Por isso meus amigos não leiam “gato por lebre” quem conhece a obra do autor percebe nitidamente o que é dele ou não.
A crónica acima transcrita parece-me ser dele mas não tenho certificado de autenticidade.

Ferreira Borges