domingo, 27 de março de 2011


TELEGRAMA do JUVENAL

Desempregado há meses.
Com a resistência que só os brasileiros têm o Juvenal foi tentar mais um emprego em mais uma entrevista.
Ao chegar ao escritório, o entrevistador observou que o candidato tinha exatamente o perfil desejado, as virtudes ideais e lhe perguntou:
Qual foi seu último salário?
'Salário mínimo', respondeu Juvenal.
Pois se o Senhor for contratado, ganhará 10 mil dólares por mês!
Jura?
Que carro o Senhor tem?
Na verdade, agora eu só tenho um carrinho pra vender pipoca na rua e um carrinho de mão!
Pois se o senhor trabalhar conosco ganhará um Audi para você e uma BMW para sua esposa! Tudo zero!
Jura?
O senhor viaja muito para o exterior?
O mais longe que fui foi pra Belo Horizonte, visitar uns parentes...
Pois se o senhor trabalhar aqui viajará pelo menos 10 vezes por ano, para Londres, Paris, Roma, Mônaco, Nova Iorque, etc.
Jura?
E lhe digo mais.... O emprego é quase seu. Só não lhe confirmo agora porque tenho que falar com meu gerente. Mas é praticamente garantido.
Se até amanhã (6ª feira) à meia-noite o senhor NÃO receber um telegrama nosso cancelando, pode vir trabalhar na segunda-feira com todas essas regalias que eu citei. Então já sabe: se NÃO receber telegrama cancelando até à meia-noite de amanhã, o emprego é seu!
Juvenal saiu do escritório radiante.
Agora era só esperar até a meia-noite da 6ª feira e rezar para que não aparecesse nenhum maldito telegrama.
Sexta-feira mais feliz não poderia haver.
E Juvenal reuniu a família e contou as boas novas. Convocou o bairro todo para uma churrascada comemorativa à base de muita música.
Sexta de tarde já tinha um barril de chope (cerveja) aberto. Às 9 horas da noite a festa fervia.
A banda tocava, o povo dançava, a bebida rolava solta.
Dez horas, e a mulher de Juvenal aflita, achava tudo um exagero...
A vizinha gostosa, interesseira, já se jogava pro lado do Juvenal.
E a banda tocava!
E o chope gelado rolava!
O povo dançava!
Onze horas, Juvenal já era o rei do bairro. Gastando horrores para o bairro encher a pança.
Tudo por conta do primeiro salário.
E a mulher resignada, meio aflita, meio alegre, meio boba, meio assustada.
Às onze horas e cinqüenta e cinco minutos... Vira na esquina buzinando feito louco, um cara numa motoca amarela...
Era do Correio!
A festa parou!
A banda calou!
A tuba engasgou!
Um bêbado arrotou!
Uma velha peidou!
Um cachorro uivou!
Meu Deus, e agora? Quem pagaria a conta da festa?
Coitado do Juvenal! Era a frase mais ouvida.
Joguem água na churrasqueira!
O chope esquentou!
A mulher do Juvenal desmaiou!
A motoca parou!
O cara desceu e se dirigiu ao Juvenal:
Senhor Juvenal Batista Romano Barbieri?
Si, si, sim, so, so, sou eu... A multidão não resistiu... OOOOOHHHHHHHHHHH!!!!!!!!!!!
E o cara da motoca: Telegrama para o senhor... Juvenal não acreditava...
Pegou o telegrama, com os olhos cheios d'água, ergueu a cabeça e olhou para todos.
Silêncio total.
Não se ouvia sequer uma mosca!
Juvenal respirou fundo e abriu o envelope do telegrama tremendo, enquanto uma lágrima rolava, molhando o telegrama.
Olhou de novo para o povo e a consternação era geral.
Tirou o telegrama do envelope, abriu e começou a ler.
O povo em silêncio aguardava a notícia e se perguntava:
E agora? Quem vai pagar essa festa toda?
Juvenal recomeçou a ler, levantou os olhos e olhou mais uma vez para o povo que o encarava...
Então, Juvenal abriu um largo sorriso, deu um berro triunfal e começou a gritar eufórico.
Sou o homem mais feliz do mundo !
Que alegria e felicidade me deu este telegrama !
Mamãe morreeeeuuu! -Mamãe morreeeeuuu!!!!!!
Pode continuar com a festa... para brasileiro festa é festa...


Será só para os Brasileiros ?

Saudações Costeletas

António Encarnação

CRÓNICA DE DOMINGO

Por João Brito Sousa

OU CRÓNICA À MODA DO PORTO

Não deve haver cidade no mundo onde a relação residente / cidade, seja tão acentuada como aqui neste velho burgo. O portuense ama a sua cidade e é livre na sua forma de pensar. Há os que são portuenses e portistas e os que não são. Mas os que são são mesmo. Impressionantemente.
Aconteceu comigo, quando uma vez necessitei de uma consulta hospitalar. O senhor Doutor disse-me: já vi que você é dos outros. Segunda divisão com eles. Mas, depois da consulta terminada escreveu o nome e o nº de contacto telefónico e disse-me: para si, liga a qualquer hora, dia ou noite.
Fiquei estupefacto.
Outra; certo Natal, comprei, para oferecer, um livro sobre o Porto do professor, escritor e jornalista Hélder Pacheco. O prefácio era do Dr. Miguel Veiga, que me deixou encantado ao lê-lo. Liguei-lhe a dizer-lhe isso mesmo, Dr. o prefácio que o senhor escreveu encheu-me a alma. E foi mesmo.
Uns dias depois recebia em casa um livro de sua autoria, com dedicatória, “ao meu amigo JBS …” com o título, “A Minha Única Curiosidade é o Infinito”. Fiquei impressionado. Dei uma olhada por dentro e este advogado de barra de há mais de quarenta anos, fundador do PSD, figura grada da élite portuense que reside na Foz, maravilhou-me pela forma como fala da sua cidade.
E às tantas leio esta frase: “trago sempre um poema no bolso”.
Outra: certa vez estava a almoçar no Arnaldo, eram 13 horas e o telejornal abriu com esta notícia: Não há dinheiro para o Metro do Porto. E um dos presentes, aí duns oitenta anos, levantou-se, furioso e disse: “se fosse para Lisboa, já havia.”
É o grande problema destes tipos, que, com Lisboa nada. Fui à Biblioteca e constactei que isso já vem de longe, desde o tempo da construção do Palácio de Cristal. Lá terão as suas razões.
Esta crónica, segue para publicação, com um abraço para todos os costeletas, mas, entre eles, vai um abraço um pouco mais apertado para o Montinho, pessoa que comecei a admirar. Aquela maneira de escrever …
Faço questão.
O meu próximo livro é sobre a cidade do Porto. Já está na editora. Depois dou notícias. Deve sair em breve.
Gosto disto.
E de vocês também.
Deixo-vos com um abraço do

Jbritosousa@sapo.pt