quarta-feira, 30 de março de 2011

CRÓNICA COM DOR

“HÁ UM TEMPO E UM LUGAR PRÓPRIO PARA CADA COISA”

Por João Brito Sousa

A frase é do Montinho. Achei-a interessante e profunda. Peguei nela, porque esta é uma das suas tais frases poderosas, que eu referi algures.

O Chico Mário adorava escrever. Escrevia no seu diário quando estava com disposição para isso, escrevia para o jornal da terra onde tinha uma coluna e escrevia outras coisas mais. E lia muito. Livros e jornais tudo servia para estar ocupado. No fundo, ler e escrever era uma forma melhorada de passar o tempo. O vazio não era com ele. Ocupado sim. Gostava de estar só e meditar acerca do mundo, nas coisas que se passsavam no dia a dia, que nem todas percebia. E quando não percebia não perdia muito tempo com isso. Passava à frente.

Era daquelas pessoas que tinha que ter o jornal ao pequeno almoço para se informar enquanto se servia dos alimentos. Fazia tudo com uma certa grande velocidade, enfim, queria chegar longe na vida por este processo.

Na Faculdade que freqentou à noite, não admitia pensar não ser o melhor e esforçava-se para isso. Trabalhava de dia no seu posto de trabalho, ia às aulas à noite, era já casado e aos fins de semana, situava-se enre o dilema, estudar ou passear com a mulher e os filhos.

É uma questão cultural, como diz Nietzsche, que acerca disso, aconselhava os seus leitores a ler com calma e aprenderem a ler devagar, considerando isso uma exigência dirigida à cultura e não a este ou aquele leitor em particular.

Com esta pretensão, Nietzsche mostra que há um tempo próprio para a cultura, tempo esse que não deve ser confundido com nenhum outro. Lembremos apenas que é justamente pela distinção entre o tempo da lentidão e o tempo da pressa que os conceitos de cultura autêntica e de pseudo-cultura podem ser estabelecidos.

Nietzsche entende que cultura autêntica ou verdadeira, é aquela que permite ao homem aceder ao seu próprio ser e ao ser da natureza e construir assim uma vida em que a felicidade seja possível.

Que é, ao fim e ao cabo, o que nós todos andamos à procura. E nem todos encontramos. Dolorosamente.

Eis a razão da Crónica com Dor.

Ou da frase do Montinho.

Se Nietzsche tiver razão.


Ab.
jbritosousa@sapo.pt