sexta-feira, 6 de maio de 2011

HOMENAGEM PÓSTUMA

José Rosário da Silva, artista plástico, vai ser homenageado pela Câmara Municipal de Faro. A data está prevista para o dia 7 de Setembro de 2011 (Dia da Cidade). O seu nome irá fazer parte da toponímia da cidade, a uma rua na área do Bom João.
José Rosário da Silva, Costeleta, foi funcionário dos CTT e era nosso associado.
Felicitamos o seu irmão e nosso associado Costeleta
João Rosário da silva

CAFÉ, JORNAL E BLOCO DE NOTAS

Obrigado Alfredo.
O café, estabelecimento comercial, o café liquido em chávena que em Faro pelo menos apelidamos de bica, o jornal à borla se possível, e, agora mais um elemento, por sugestão do Alfredo e com direito a agradecimento acima, o, como ele lhe chama, bloco de notas.
Neste conjunto, diariamente, é que costumo funcionar.
Ah… e um livro.
“A DAMA VELADA” de Nathaniel Hawthorne, um escritor norte americano, considerado pela crítica, como um dos melhores escritores do mundo no estilo mito trágico.
O que retirei do livro PARA O BLOCO DE NOTAS foi o resultado de um provérbio oriental, que, considera um indivíduo com três virtudes como um homem normal, mas com cinco virtudes será considerado um génio.
E foi isso que Hawthorne conseguiu na sua obra: cinco virtudes igual a génio.
PRIMEIRA VIRTUDE – Imparcialidade, virtude considerada irmã gémea da justiça. No seu comportamento literário, NH, não defende nem ataca os problemas, coloca-os nas mãos do leitor obrigando-o a pensar. Assim, em cada obra o autor oferece-nos uma verdadeira lição de vida.
SEGUNDA VIRTUDE: - Ser idealista. Nesta área o autor ataca o pecado onde havia o pecado, oferecendo-lhe todavia a esperança da regeneração. O sonho sobrevive à tragédia da vida e o sonho significa qualquer coisa de ideal. Para lá da fealdade do pecado está a beleza do sofrimento. Há idealismo, mesmo quando se sofre. O idealismo rompeu com a velha tradição que considerava a literatura entre as coisas mais pecaminosas do mundo, que chegou a ter de socorrer-se do rótulo de “PRELECÇÕES MORAIS”. Sonhava mais que vivia e alimentava a confiança no futuro.
TERCEIRA VIRTUDE –Ser verdadeiro. Um romance deverá ser uma autentica confissão. Não a confissão de um desiludido mas a confissão de um crente. Dum crente cuja religião será a verdade.
QUARTA VIRTUDE – Ser bom- O autor defende que não podemos alhearmo-nos das dores do mundo.
QUINTA VIRTUDE – Ser humano – para os seus personagens.
O tema parece-me aliciante. Vou voltar a ele.

Como fazia o fotógrafo Cartaxo, com direito a vitrina a Rua de Santo António, que andava sempre de máquina em punho, eu agora, Bloco de Notas, sempre.
Ab.
JBS
Nota de abertura:
O título deste artigo foi uma inspiração para escrever esta pequena “charla”, com um certo humor leve.
Espero que gostem


CAFÉ E JORNAL

Montinho

Na minha rua não há café da esquina mas, quase ao fim da rua, existe um pequeno café/pastelaria, que nunca frequentei.
Resolvi seguir o exemplo do João Brito de Sousa, que não me leve a mal…
Acompanhado de minha mulher, que gosta de tomar a “bica” todos os dias da manhã, entrámos e sentámo-nos.
- Um café, se faz favor – disse a minha mulher.
- E para o senhor? Perguntou-me a empregada.
- Deixe-me ver – respondi olhando para a empregada, que sorriu docemente, de um modo quase infantil, “Não se importa que eu peça uma coisa diferente?”
- Claro que não, diga à vontade.
- Não estou a pensar em nenhuma iguaria especial.
- Ouve lá – disse a minha mulher, em voz baixa, inclinando-se para mim. “Se não te consegues comportar vou-me embora”.
- Olha querida, respondi no mesmo tom, “pediste um café. Deixa que eu também mande vir o que me apetece”. E para a empregada:
- Queria, para já, o jornal da casa.
- Não temos, não costumamos comprar.
- Bem, então o meu problema é que não me lembro, de repente, do nome daquilo que queria pedir. É assim um líquido escuro…
- É uma bebida alcoólica?
- Não! Não. Se bem me lembro trouxeram-me numa chávena de vidro. E também me lembro que estava bastante quente.
- Receio que não tenhamos.
- Nem posso acreditar, respondi. “Não será possível perguntar aquela sua camarada?”
- Sim, com certeza, disse a menina, e foi ao balcão à pressa.
- Estou a ficar farta do teu comportamento, disse a minha mulher irritada, ela não gosta de dar nas vistas. “Se não acabas com isso vou para casa”.
A empregada aproximou-se sorrindo:
- A dona do café pergunta se a bebida era castanho-clara?
- Não, menina. Era quase preta.
- E onde costuma tomar essa bebida?
- Num café, na baixa da cidade.
- Já receava – riu-se – São cafés de luxo e nós somos um café de segunda classe.
- Espere aí!, disse eu. “Agora me lembro que com a chávena vinha uma colher pequena. E mais uma coisa. No pires, uns pequenos cubos brancos”.
- Cubos? Olhou a empregada para mim, e desatou a rir. “Há cinco anos que estou cá, nunca houve um pedido assim, cubos! Riu-se novamente.
- Não se podia perguntar à dona do café?, perguntei.
A empregada foi, mas à entrada do balcão olhou para trás, pôs a mão na boca e sorriu.
- Só ficas contente quando as pessoas se ocupam de ti?, perguntou-me a minha mulher furiosa.
- Nem pensar, querida. Nem assim fico contente.
- Era melhor dares conta do que estás a fazer, retorquiu.
A empregada voltou. Atrás dela vinha a dona do café. Caveirosa, de óculos, com um livro de um autor desconhecido na mão. Não consegui ver o título.
- Estou a ver o problema. Disse ela com delicadeza.
- Mas, por favor, não faça caso do assunto respondi.
- Nós gostamos de satisfazer os nossos clientes. De que tipo eram os cubos?
- Se bem me lembro, eram brancos e de tamanho pequeno, respondi.
As duas entreolharam-se. A jovem empregada, que agora não se atreveu a rir, só casquinou baixinho. A dona do café, por seu lado, continuava séria. E respondeu
- É muito aborrecido, mas o que posso fazer? – Não temos cubos de nenhum tipo.
- Não é assim tão importante, respondi.
- E também não conheço o líquido de que fala, acrescentou a dona do café.
- Deixe lá. E fiz um gesto de desistir com a mão. E acrescentei:
- E traga-me também um café.
E foi assim a primeira vez que entrei, para tomar a bica e ler o jornal à borla, no café da minha rua. E sai, para comprar o jornal na tabacaria da esquina. Tenho que ir morar para o Porto.