domingo, 7 de agosto de 2011


DEIXA QUE ESSA EU CONTO

Alfredo Mingau

Um dia destes encontrava-me meio enfadado na frente do computador. A tela em branco e um branco na mente. Não me vinha uma ideiazinha sequer para começar uma nova crónica, mesmo daquelas sem pés nem cabeça. Por mais que me esforçasse, acabava achando que não iria conseguir escrever nada. Achei que fosse porque vivia estes últimos tempos escrevendo crónicas sem ninguém para compartilhá-las ou comentá-las era, realmente, uma coisa um pouco triste não ter ninguém para compartilhar uma ideia, por mais maluca que seja dá sempre inspiração.
“Afinal, existem tantas crónicas pelo avesso sendo publicadas hoje em dia que, uma a mais, ou a menos, não faria diferença!”. Pensei sem nada escrever porque não estava nem um pouco inspirado. Se não estava inspirado, não tinha nada para escrever; se começasse a escrever sem inspiração, algumas linhas após o início, já não teria mais nada para contar, ou então, ficaria maçante e chato, sem pés nem cabeça, meio pelo avesso. Mas não era dessa forma que eu costumava escrever. Meio pelo avesso e sem pés nem cabeça?. deixa prá lá!. Vá lá entender estes escritores malucos!.
Pensei em todas essas possibilidades. não é fácil escrever quando a gente não está inspirado, “principalmente histórias atrapalhadas para confundir o leitor Costeleta!”. E que até alguns gostam, mas não comentam.
Quem inventa regras é inventor e não escritor. Como é que um crítico pode achar-se o tal com suas opiniões se, não foi ele quem sentiu a história quando ela estava sendo concebida? Aí é que está a discrepância toda! O crítico da história é o próprio escritor. Além da história, é claro. Mesmo porque, o escritor vive discutindo com sua própria história. e a história discutindo com o escritor. Isto não quer dizer que todos sejam da mesma opinião. E aqui abro um parêntesis para afirmar que gosto de ler os comentários que me fazem, principalmente do Mestre escritor Costeleta João Brito de Sousa com a sua critica saudável mas que, ultimamente, me tem esquecido.
“A liberdade de expressão existe para que, cada um possa expor seu ponto de vista”.
Dentro do meu subconsciente ouvi uma voz a interpelar-me:
“Deixa que essa eu conto, eu sou a história”.
Achei que a voz estava tomando o meu lugar e impondo.
Como me encontrava sem inspiração deixei que a “história” contasse a sua própria história, afinal ela tinha seus direitos
E a “história” começou com o seu “blablablá” e coisa e tal,t oda atrapalhada e perdida; começou enrolando; foi chegando na metade ainda mais enrolada. Fiquei desconfiado que a “história” não sabia o que fazer, e o que contar, ia chegar ao final daquele jeito: contando sem contar coisa alguma, mais enrolada que novelo de lã. Então disse-lhe:
“tas querendo me enganar?!”.
E a “história” nem se calou, continuou no seu “blablablá”que parecia não ter fim, enquanto eu começava a perder a paciência com tanta lengalenga.
Então, além de enfadado, aqui o Alfredo passou a ficar impaciente com aquela história mais estranha do que as que ele costuma escrever. “Para contar uma coisa dessas, mesmo sem inspiração, eu mesmo contava”. Pensei e disse, cortando o blablabla da “história”:
“basta!”, ordenei peremptório.
A “história” deu um sorriso amarelo, sem graça e foi saindo de mansinho, sem pedir licença, da mesma forma que chegara, desapareceu.
“Mas que droga! nem uma ideia maluca me ocorre neste momento!” Pensei.
Foi por isso que, naquele dia, nada escrevi. Estava cansado de histórias malucas que, na falta de inspiração, apareciam-me sem pés nem cabeça.
“Histórias sem pés nem cabeça, conto eu, bolas!”, disse desligando ocomputador, guardando o bloque-notas e canetas e desistindo das histórias. Achara por bem não insistir, já que, não tinha a mínima ideia do que poderia ocorrer depois de ouvir novamente aquela voz pedindo:
“Deixa que essa eu conto!”.

Para contar até quando? - AM

2011 –Para onde caminhamos?

O que se lobriga é um tão grande negrume,
Que nos faz medo, que nos faz mesmo vacilar;
Que faremos para manter ainda aceso o lume?
Por este malfadado andar, onde iremos parar?


Tudo o que vemos e ouvimos faz-nos pensar,
Como toda a terra por uma nuvem está cercada,
Que cada vez mais e mais se está a adensar,
Para a dissipar sentimos não poder fazer nada!


Ainda ontem o irmão dava a mão ao irmão,
Ajudava-o, era seu amigo, sem nada dele esperar,
Hoje trata-se o outro como se fosse um vilão,
Que há que espremer, para dele tudo se tirar!


Era muito mais parco ontem o ser humano,
Mas nem por isso parecia menos contente.
Será feliz hoje que o exploram até ao tutano,
Que come, e vive gordo e sumptuosamente?


Hoje anda-se em frente, rápidos, com pressa,
Há muito pouco tempo para ajudar alguém;
Negócios, dinheiro, é só o que nos interessa,
O outro é um número , um Zé ninguém!


Mais que nunca, gato por lebre vendemos,
O embuste, o supérfluo consumo promovemos;
É isso que nós descontraídos e sonsamente fazemos;
Sem remorso! Será que nos arrependemos?


Para quê trezentas marcas de creme de barbear?
E três mil marcas de vários perfumes,
Onde é que tudo isto e mais aquilo nos fará chegar?
Melhor seria que a tal fossemos imunes!


Os países estão à beira dum desastre colossal,
Não há motorista capaz de travar a composição,
Que caminha para um descarrilamento monumental,
Independentemente de tal querermos ou não!


Ao longo dos milénios isto tem-se repetido,
Ao alcatruzes ora vêm cheios, ora vazios;
Alterar o rumo faria todo o sentido!
Mas, para que lado corre a água dos rios?


E contudo mesmo assim temos de viver,
De lutar, perseverar, sem nos deixarmos abater!
Mesmo assim viveremos porque tem de ser!
Mesmo assim esse será o nosso querer!

Manuel Inocêncio da Costa