sábado, 13 de agosto de 2011


Morte na Federação Galáctica

O homem povoava já todos os planetas da Galáxia Teca. Conseguira produzir alimentos em vários dos planetas que a compunham e achara água, tudo quase suficiente para as necessidades da população, de mais de cem biliões de pessoas, que neles viviam. Os transportes ultra rápidos, entretanto desenvolvidos, levavam céleremente, dos planetas mais ricos para os mais pobres, muito do que estes necessitavam.
Na grande pista do aeroporto da cidade de Valboim, capital do Planeta Lírio, encontrava-se pronto para partir, um bólide brilhante de oito lugares, com a tripulação incluída. Neste caso tomaria o comando da nave, não o seu comandante habitual, mas Oriega, o governador do Planeta, que além de brilhante cientista, era um exímio piloto. Oriega tinha 44 anos, e, combatera outrora em várias guerras que se haviam travado, contra outros planetas da Galáxia, que se haviam revoltado, dentro da Federação. Agora a paz reinava em toda a Galázia. Ele era um héroi nacional. Médico, investigador, descobrira vacinas e medicamentos, contra doenças até então incuráveis, que eram prescritos em toda a Faderação.
Oriega chegou ao aeroporto, acompanhado da mulher, de duas filhas menores e do seu vice, o general Stark. Eram três da manhã. À uma da manhã, haviam recebido uma comunicação, do Grande Conselho da Galáxia, que estava sediado na cidade de Oca, capital do Planeta Bica, e, onde estava igualmente sediado o governo da Galáxia, informando que falecera Simprónio,o presidente da mesma, e que haveria eleição para presidente e vice presidente (cada vez que havia uma eleição para presidente deveria ser eleito também0 o vice presidente), cinco dias depois de terem tido lugar as cerimónias fúnebres, que duravam quatro dias
Havia mais de dois anos que quase todos os planetas da galáxia, tinham sido atingidos, por epidemias, de causas em parte desconhecidas, que tinham morto muitos milhões de pessoas. Acrescendo a isso, e, também por causa disso, lavrava em toda a galáxia, uma crise imensa, com desemprego gigante e uma penúria de recursos, que atingia mais de um quinto de toda a população. Nos últimos meses equipas dos melhores cientistas de toda a Federação, haviam descoberto medicamentos, que estavam a travar a mortandade. Simprónio falecera precisamente nessa manhã, vítima de contágio, de uma das inúmeras doenças epidémicas que varriam a Federação.
A nave tripulada por Oriega, descolou da pista principal do aeroporto de Valboim, de mais de trinta quilómetros de comprimento. Estavam providos de tudo o necessário para a viagem. A cidade de Oca ficava a poucas horas de viagem, se utilizassem a fantástica velocidade máxima da nave. Oriega sabia o que o esperava. Com ele outros governadores, de outros planetas estariam também a fazer a viagem, para a capital da Federação. Só podia concorrer a presidente ou vice presidente, quem fosse governador ou governadora de um planeta. A eleição não era através de eleições gerais. Quem escolhia o(a) presidente e o(a) vice presidente da Federação era o Grande Conselho. Este é que era escolhido através de eleições gerais., levadas a cabo no mesmo dia, em todos os planetas da Federação. O Grande Conselho era composto por homens e mulheres impolutos de todas as profissões. Tinha cinquenta mil membros.
Cada concorrente à presidência ou à vice presidência, teria de prestar doze provas, para provar as suas capacidades, e, demonstrar que era digno de estar à frente dos destinos da Federação Galáctica..Essas provas iam desde provas físicas, até provas baseadas n a experiência da governação, no bom senso, no desempenho perante um perigo súbito, uma calamidade, uma guerra simulada. Cada prova valia dois pontos. Era o Grande Conselho que propunha e classificava as provas, podendo porém delegar esta última competência. As provas eram iguais para cada candidato à presidência ou à vice presidência, ficando cada um completamente incomunicável de qualquer dos outros, no dia da resolução das provas, só comunicando com o Júri, em quem o Grande Conselho delegasse poderes para classificar o desempenho dos concorrentes. O Júri era o mesmo para todos os concorrentes. Ficava na presidência o candidato, que fosse considerado mais apto, que tivesse maior pontuação, e na vice presidência o que ficasse em segundo lugar. No entanto seria eliminado aquele que tivesse chumbado, nas provas de política externa e em defesa da Federação.
Os testes tinham lugar na base central da força aérea da Federação, da cidade de Oca, uma vez que uma das doze provas, consistia também em pilotar uma nave de guerra das mais potentes e sofisticadas da Federação.
A nave pilotada por Oriega chegou à hora prevista a Oca. Era quase meio dia. A cidade, de mais de duzentos milhões de habitantes, encontrava-se com pouca gente nas ruas e nos estabelecimentos, pois a maior parte das pessoas, que trabalhavam no comércio, nas fábricas, na investigação, no turismo, nos bancos, serviços, artes, etc., para fugir às condições adversas do dia (em geral temperaturas muito altas), trabalhava de noite e descansava de dia.
Quando chegaram Oriega e os companheiros, vinham um pouco estafados da viagem, e, desejosos de comer uma refeição feita na hora. Assim foram rapidamente ao restaurante “O Cavalo Malhado”, que Oriega sempre visitava, quando tinha que se deslocar a Oca. Depois da refeição e de deixar a mulher e as filhas na Hospedaria dos Governadores, foi apresentar cumprimentos à Assembleia do Grande Conselho, na pessoa de Jovial, o membro interino que substituía o falecido presidente e receber dele a credencial, que o habilitava a concorrer à presidência ou à vice presidência. Já lá se encontravam governadores e governadoras de outros planetas. Todos conhecidos, pois de três em três meses, todos se reuniam ora na sede de um planeta ora n sede de um outro, para deliberar e resolver os problemas mais delicados da Federação.
Nos quatro dias seguintes teve lugar o funeral de Simprónio. Foram cerimónias simples, em virtude do estado de crise, da Federação. Sobressaiu um grande desfile militar, em que foram mostradas as mais modernas e terríveis armas da Federação. Além disso apenas foi feito um ligeiro panegírico de Simprónio, que se destinguira no seu mandato, pelo seu bom senso, honestidade, imparcialidade e humanismo com que tratara todos os povos da Federação.
No outro dia tiveram lugar as provas. Provas muito difíceis. Na gigantesca sala da Federação, onde habitualmente reunia o Grande Conselho, Jovial, depois de informado pelo grande Júri, e, depois do Grande Conselho os ter ratificado, anunciou os resultados. Nenhum candidato obtivera a pontuação máxima, informou. E, continuou: Broma, o governador de Xisto, fez provas brilhantes. Obteve vinte e dois pontos e meio. Ouvido isto, ouviu-se uma grande ovação, em toda a imensa sala. Oriega aplaudiu também calorosamente. Broma era seu amigo pessoal, e, ele sabia que broma era um sábio e uma pessoa excepcional. Iria dar-lhe um abraço de parabéns assim que acabasse a cerimónia, assim como lhe diria, que estaria sempre disponível para colaborar, em tudo quanto fosse necessário a bem da Federação.
Mas o assunto não estava encerrado. Jovial pediu silêncio, e, com voz emocionada continuou. Clara, governadora de Miriam obteve vinte e três pontos. A estupefacção não foi muita. Uma ovação ainda mais estrondosa que a primeira, ecoou, levando minutos até se extinguir. Pensava-se terem sido encontrados os vencedores-Broma e Clara. Clara era conhecida em toda a Galáxia. Engenheira aeronáutica, leccionava em várias universidades e fora nomeada comandante chefe de todas as forças armadas da Federação.Oriega conhecia-a bem. Servira sob as suas ordens, na última guerra da Federação, contra os rebeldes dos Planetas Micos e Lavos. Era uma mulher de quarenta anos, muito elegante e bela, perita em artes marciais, casada com um escritor, mãe de oito filhos,e, que fazia uns cozinhados de fazer crescer água na boca (como comprovara várias vezes em que fora convidado com a família, para a casa dela, pois eram amigos havia muitos anos). Mas, Jovial, pediu uma vez mais silêncio, e disse com voz forte ao micofone. Oriega, o Governador de Lírio, obteve a maior pontuação de todos, totalizando vinte e três pontos e meio. Saudemos o novo presidente e a nova vice presidente da Federação –os Governadores Oriega e Clara. Em meu nome e em nome do Grande Conselho damos vos os parabens desejando-vos uma governação clarividente e sábia. Ouviu-se então um enorme bruh-ah-ah, com todos de pé, num aplauso imenso, que parecia não ter fim. Jovial em representação do Grande Conselho deu ali mesmo e na hora, posse aos novos presidente e vice presidente da Federação.
Falou então Oriega que disse: Em meu nome e no da vice presidente agradecemos os vossos aplausos e a nossa escolha.Fomos eleitos para servir. É uma honra muito grande.Faremos tudo para corresponder à grandeza da missão; a Federaçaõ atravessa uma grande crise; esperamos a ajuda de todos para a ultrapassar; agora festejamos;daqui a algumas horas é dia de trabalho; preparemo-nos para isso.
A Galáxia prosperou.Venceu a crise..Oriega e Clara governaram com isenção e justiça e quando anos mais tarde faleceram, ao despenhar-se o avião em que seguiam, foi determinado pelos novos governantes, que na capital da Federação, Oca, na praça principal da cidade ( de mais de quatrocentos hectares de área), fosse elevada uma escultura em bronze, em honra dos falecidos recordando-os assim “ Homenagem da Federação Galáctica, aos falecidos presidente e vice presidente Oriega e Clara, que na sua governação sempre cumpriram os seus deveres”.

Manuel Inocêncio da Costa