domingo, 14 de agosto de 2011


PROMESSA
Um arranjo de Alfredo Mingau
Para esta história, que não é ficção porque tudo o que aqui escrevo é verídico, apelidámos o principal executante com o nome fictício de “Alfredo”, sendo mera coincidência a semelhança na vida real com qualquer Alfredo. O executante não me autorizou a publicação do seu verdadeiro nome.

Costeleta dos anos quarenta, o “Alfredo” não se podia considerar um bom aluno da Escola Tomás Cabreira da Rua do Município.

A trapeira ou a bola de “catchu”, daquelas que saíam nas rifas dos rebuçados, o peão, o belindre e outras brincadeiras para a idade, não lhe davam tempo para estudar. Não se considerava "burro". Tinha “preguiça” em estudar os manuais ou os apontamentos feitos nas aulas. As notas dos períodos oscilavam entre o 9 e o 10. O “calcanhar de Aquiles” do “Alfredo” era a disciplina de Matemática. Teve 10 no 1º período e desceu para 8 no 2º.

Naúltima aula do 3º período, a terminar o ano lectivo, o professor da disciplina de Matemática, não identificado, chamou vários alunos pelos nomes, disse-lhes que eram os melhores e que tinham toda a possibilidade de dispensarem à prova oral. Era necessário um 14 na escrita. Mandou-os sair e desejou-lhes felicidades. Em seguida chamou um segundo grupo, dizendo-lhes que iriam a exame, que estudassem e mandou-os sair.

Apenas restava na sala um único aluno. O "Alfredo".

-Tenho muita pena senhor "Alfredo", a nota que tenho para lhe dar é um 6.

O“Alfredo”, muito sério, olhou de frente para o professor e falou:

- Gostava de ir a exame “Sô Tor”!

O professor deu um sorriso e respondeu:

- Com o que o senhor sabe de matemática nem um 6 apanhava.

“Alfredo" põe-se de pé e com voz firme disse:

-“Sô Tor”, se me levar a exame eu faço aqui a promessa de dispensar à prova oral.

O professor ouviu, ficou sério, deu a volta à secretária, sentou-se, fixou o “Alfredo”, abanou a cabeça, recostou-se na cadeira com ar pensativo, sem deixar de olhar para o “Alfredo”

- Eu dispenso à prova oral, repetiu o “Alfredo”.

- Você deixa-me desconcertado com a convicção da sua afirmação. Vou-lhe fazer a vontade. Vai a exame disse o professor.

- Obrigado “Sô Tor” exclamou o “Alfredo” e saiu da sala.

Descendo a rua do Município o “Alfredo” sentia-se nervoso, puxou de um cigarro definitivo e fumou para acalmar. “Como é que eu me vou safar desta?” pensou.

Os dias seguintes foram um calvário para o “Alfredo” agarrado ao livro de matemática e aos cadernos de exercícios práticos.

A mãe andava admirada com o estudo do "Alfredo" e obrigava o filho a ir para a cama às duas e três da madrugada para descansar e dormir.

Mas as coisas não corriam bem, aquelas fórmulas da geometria não se encaixavam no cérebro. “Merda!” bradava o “Alfredo”, "Já falta pouco tempo para o exame e o resultado está complicado".

Foi falar com o amigo Nunes que andava na Indústria e era um bom aluno a matemática. E contou-lhe o que se passava, dizendo que não tinha posses para pagar a um explicador e pedia-lhe para lhe dar explicações de matemática. O Nunes riu-se e concordou em dar-lhe uma ajuda. E os restantes dias até ao exame o “Alfredo” recebeu a ajuda do seu amigo Nunes.

Mas as fórmulas da geometria não queriam nada com o “Alfredo”. E no dia "D" fez uma pequena cábula com as fórmulas, enrolou e meteu debaixo do anel. E foi para o exame. A sala era aquela sala grande, na Indústria, à entrada do largo da Sé junto ao Seminário. Para descontrair e acalmar os nervos o Alfredo fumou o cigarrinho definitivos para acalmar. E entrou quando foi chamado. O professor colocou o enunciado sobre as carteiras e deu ordem para começarem o exame. Alfredo leu o enunciado e sentiu uma grande alegria ao verificar que todo o conteúdo do enunciado estava dentro dos seus conhecimentos. Agarrou na cábula, enrolou numa bola e, em jeito de carolo, lançou-a para cima de um armário que se encontrava do seu lado esquerdo. Não precisava dela, a memória trabalhou. E entregou o ponto de exame antes do tempo terminar, sobo olhar admirado do professor.

Eno dia em que a pauta com as classificações foi colocada na vitrina, lá estavao “Alfredo” com a curiosidade e o nervosismo. E leu:

Àfrente do seu nome a classificação de 14 valores, seguido de “dispensado àprova oral”. E reparou que os colegas que o professor esperava dispensassem, iam todos à oral.

-Parabéns senhor “Alfredo”

Voltou-se, na sua frente o professor estendia a mão e repetia “parabéns senhor “Alfredo” o senhor cumpriu”.

-As promessas são para cumprir "Sô Tor", obrigado.

Termino esta história dizendo que ao Costeleta "Alfredo" lhe foi passado o respectivo Diploma de Final de Curso, no ano da graça de 1946.



Bom dia a todos.
Sem excepção alguma.

Ora aqui está um caso em que um belo texto, é comentado incondicionalmente por gregos e por troianos.
Parabéns a Lina, que conheço de quando o Largo da Palmeira ainda o era, e a dita que lhe dava o nome ainda nao tinha sido comida pelo escaravelho.
Quanto a guerrinha de alecrim e magerona à volta do direito a identificação do comentador, parece me um desperdicio de energias que (por mim falo) nos vão faltando.
Então não estamos ja todos identificados?
JBS«João Brito de Sousa
LA»leitor anónimo
JEM»José Elias Moreno
Anónimo»anónimo
Roger » Rogéio Coelho c os meus respeitosos cumprimentos e votos de muita paciência para nos aturar.

Desculpem, mas estou a escrever num teclado para arabes, e não sei como consegui chegar aqui, nem se me fiz entender.

Com apreço

JEM
jose elias moreno

Dakar 14.Agosto.2011


História de uma garrafa de Medronho
Romualdo Cavaco

O texto de Lina Vedes sobre Faro sugeriu-me o artigo seguinte:

Dois trabalhadores, cunhados, Paulo de Penafiel e Fabrício de Alvor, após a refeição costumam tomar sempre digestivo.
O primeiro aprecia bagaço enquanto que o segundo vai pelo medronho. Ambos defendem as suas damas.
Para o algarvio, um bom bagaço é inferior a um mau medronho. Para o duriense é o inverso.
Falam das respectivas formas de fabrico, bagaço/medronho, desde a origem até à destila, parecendo bons conhecedores do ramo além de apreciadores do seu produto final.
Em Monchique diz-se que se trata de “Diamante em estado líquido” “ouro em saco de plástico” “Motivo de orgulho nacional – 36º. entre 1000 candidatos, (in jornal local), para além de, segundo dizem estimular a digestão, melhorar a visão, ruborizar a face, dar força aos fracos, alegria aos tristes, riqueza aos pobres, aumentar o PIB, etc. Com três bagas de zimbro em cada garrafa, endireitam todas as curvas de Monchique.

Como a conversa é no intervalo do serviço, eu, por vezes, até colaboro no dialogo.
Há dias, após o almoço perguntei ao Fabrício em que ano tinha nascido.
Disse-me: 1987.
Vou oferecer-te um medronho com a tua idade.
Pode lá ser??!! – Pode, respondi-lhe.
A rolha da garrafa, levemente trabalhada, estava intacta e é sempre substituída por uma nova até à próxima utilização.
A garrafa tem o nome do produtor e ano de fabrico. Este é de Monchique. Procedia de uma pipa (sempre cheia devido à volatilização), cujo diâmetro era maior que a largura do portão (havia sido construída manualmente dentro de casa).
O Fabrício apreciando o ambarino néctar não se continha em elogio.
Dizia-lhe o Paulo: - Olha que ainda não provaste o medronho que está no Moinho (referindo-se ao medronho de Sta.Catarina, do Alberto Rocha). – Como??!! – perguntou a dona de casa – intrigada – ao que lhe esclarecemos que tinha sido oferta de cortesia do nosso amigo e colega.
O Paulo não apreciou a nossa bebida e preferiu a sua que também cá temos (pomada especial de Marco de Canavezes).
Saíram os dois cunhados para refrescar, tendo o Fabrício regressado apressadamente à procura da garrafa de Medronho 1987 que tinha deixado sobre a mesa. Só que..., desilusão ... a garrafa já tinha novo selo de cortiça trabalhada ... e... lacrada só seria aberta em próxima sessão.
E... assim vamos mantendo duas ou três garrafitas do sec.passado.
Se alguém tiver dúvidas mande e-mail que eu confirmo. O produto pode esgotar antes de terminar o prazo do folheto.
Um abraço.
Romualdo.