E AFINAL
O QUÊ?
Era Uma Vez…
Era uma vez (porque as histórias deveriam começar sempre
por era
uma vez). Então, como eu dizia, era uma vez, porque o tempo não
interessa, passado, presente, futuro, se foi, é ou será não é o que interessa,
o que interessa é que era, já que era não fecha o tempo a um momento mas
deixa-o aberto, e uma vez porque essa vez em que o tempo é irrelevante é única
e pontual, porque há acção e cada uma acontece uma vez em dado tempo e nunca se
repete.
Mas
como eu dizia...
Era uma vez um homem (até podia ser uma mulher, o género
não interessa, ou uma criança ou um velho, mas a idade, também essa pouco
importa). Ou seja, era uma vez um homem que nesse momento não estava feliz nem
infeliz, não tinha grandes problemas nem grandes alegrias, já as tivera, mas
não nesse momento, e seguramente iria ter mais no futuro, quer tristezas, quer
alegrias conforme a “crise”.
Não era rico nem mendigava. Tinha amigos, família,
pessoas de quem gostava menos e mais, pessoas a quem amava ou a quem não dava
grande importância. Tinha o necessário para viver, por enquanto, sem grandes
luxos ou grandes apertos.
Diríamos então era uma vez um homem sem muito para contar
e uma vida medíocre (no sentido de nada relevante se passar).
Então porque perco tempo a contar a história de alguém
que não tem nada para contar e sobre um dia como a maioria dos dias.
Isto quer dizer que estou a divagar com lógica.
Então entra a acção e a história passa a ser história
porque há verbo. Já não é uma descrição. O homem perguntava-se porque é que a
sua história é uma história e ao fazê-lo transforma-a. Poder-se-ia perguntar
mais vezes e então deixaria de ser uma vez e passaria a ser duas, ou três, ou
mais, a monotonia tiraria o interesse à história já que nesse momento da sua
vida não há nada de relevante para contar.
E deu-se conta que afinal havia algo de importante para
contar. Deu-se conta que pela primeira vez se perguntou porque é que aquele
ponto da sua vida merecia umas palavras escritas, quando passava uma fase
monótona e aparentemente igual a tantas outras, descobrindo que essa história
se faz unindo esses pequenos pontos uns atrás dos outros até aparecer uma história
onde os golpes da fortuna (ou do azar) nada mais são do que os condimentos que
dão sabor ao prato principal.
Dera-se conta nesse momento e nessa vez e não haveria
outra igual, ou haveria? por isso e para que ficasse escrito, começara com “Era
uma vez…”.
E afinal o quê?
Tal como nos contos das “Mil e Uma Noites”…
Fica para o próximo…
Rogério Coelho
Rogério Coelho
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