A VINGANÇA
A moça chamava-se
Joana.
Não lhe conheci o apelido, e
nunca lhe perguntei.
Fazia as
limpezas do escritório onde eu trabalhava, com outros executivos, na Av.
Joaquim António de Aguiar, ali perto do Marquês, emprego que conseguira após
ter feito o Curso Comercial na Escola Tomás Cabreira em Faro.
A rapariga era
jeitosa, se bem que não tivesse grande beleza. A nossa relação, no escritório,
era boa e, por vezes trocávamos umas palavras de bem dispor.
Um dia
chega-se à minha beira e sussurra-me, para que os colegas de trabalho não
ouvissem:
- Quero ir
para a cama consigo!
Fiquei de boca
aberta, abismado, a olhar para ela, perante tal proposta e, porque não gosto de
me meter com mulheres casadas, respondi no mesmo nível, quando me passou o
espanto:
- D. Joana, a
senhora é casada!
Respondeu-me,
explicando em voz baixa, que o marido, barbeiro de profissão, era um tirano,
descarregando nela com “porrada”, o
que não podia fazer com os clientes. E, à socapa, mostrou-me várias nódoas
negras no corpo, rematando:
- Quero
vingar-me dele, quero por-lhe os palitos porque, não posso responder com “porrada” e quero que seja consigo.
Depois de me
passar o espanto e de ponderar naquela proposta, achei que devia aceitar.
Afinal eu não era nenhum conquistador de mulheres casadas e, desse modo,
ficaria bem com a minha consciência.
- Aceito D.
Joana, seja feita a sua vontade de vingança...
Como conhecia
uma pensão onde costumava fazer os “meus
biscates”, telefonei e marquei um quarto para essa noite, porque, segundo
ela não podia ser noutro dia.
Expliquei-lhe
que a pensão ficava no Largo da Graça e que lá estivesse cerca das vinte e uma
horas.
Quando lá
cheguei, a D. Joana já se encontrava na sala, sentada e à minha espera. Nem
parecia a mesma. Bem vestida, bem arranjada e pintada. A coisa prometia!
Peguei a chave
na recepção e subimos para o quarto.
Não irei
contar em pormenor o que se passou mas, foi uma noite “recheada”.
Saí de lá às
oito da manhã, todo torcido, para entrar no emprego às nove.
Mas, antes de
sair, impus-me com a D. Joana, dizendo-lhe que não me propusesse mais nenhuma “vingança”. Falei-lhe que tinha gostado
mas não me sentia bem com a minha consciência.
Mais tarde vim
a saber, por acaso, que um colega do escritório andava a satisfazer as “vinganças” da D. Joana.
NOTA: Ficção? Fica ao vosso critério!
Rogério Coelho