Uma tarde, um garoto,
uma garota e um muro
Ela Pediu-me:
- Ajuda-me a subir no muro?
Assenti e levantei-a pela sua cintura. Celestina usava um cachecol listrado, uma saia jeans e botas pretas de couro envernizado.
Ela encarou-me por um minuto e disse:
- Se você não fosse gay, eu faria amor com você.
Seus olhos tinham a profundeza de um abismo. Com uma falsa timidez, a sua mão caiu e acariciou ternamente a minha, fazendo um calafrio percorrer-me a superfície do corpo.
- Gay? - perguntei, surpreso. - Eu não sou gay - respondi.
Ela riu, inclinou-se para a frente; depois, puxando-me de encontro a si, colou os seus lábios nos meus. Abriu agilmente as pernas e prendeu-me entre elas. Por fim, não mais podendo nos mantermos equilibrados, acabamos despencando do outro lado do muro, sobre os arbustos. Assustado, pretendia pedir desculpas quando a ouvi gargalhar e a sua assombrosa naturalidade me deixou demasiado tranquilo. Meus cotovelos ardiam devido à queda, meu coração ardia ainda mais devido ao sentimento. Era a dor de cotovelo mais prazerosa que mulher alguma jamais me fizera sentir. Desde então, para mim, tal expressão ganharia um significado totalmente distinto. Dor de cotovelo, agora, tinha a ver com sentir-se vivo, muito vivo, e não mais com sentir-se morto. São as contradições da vida.
IN Autor desconhecido