LOGRO OU INCOMPETÊNCIA
A minha ligação ao Banco
Espírito Santo, dura há mais de cinco décadas.
Como depositante, porque
foi nele que fiz o meu primeiro depósito, como grande amigo de colaboradores,
ex-colegas dos bancos de escola, bastantes outros amigos e conhecidos, na
enorme plêiade de excelentes funcionários que sempre constituíram os quadros de
pessoal dessa instituição.
Construí por isso, uma
ligação afectiva com o BES.
Fiquei atónito, magoado e
duvidoso do descalabro que aconteceu a uma instituição secular.
A sigla BES, muito mais
valiosa do que os seus administradores, era algo que merecia o respeito de
todas as instituições financeiras a nível mundial.
Quem convive diariamente
com estas questões, sabe que edificar, consolidar e projectar uma
empresa, para uma vida longa – como foi o BES – carece de muito trabalho,
dedicação e confiança.
O BES tinha todos estes
predicados, porque os merecia.
De repente adoeceu. E com
um diagnóstico que lhe recomendava uma espécie de eutanásia, agravada por ser
contagiosa.
Os decisores resolverem
dividi-lo em duas partes: O BES propriamente dito, a que chamaram “Banco Mau”,
porque segundo o seu saber, era necessário manter a confiança e criar uma outra
instituição em sua substituição, denominando-a de “Banco Bom” ou Novo
Banco, como veio a ficar.
No BEs (Banco Mau) ficou –
supostamente – todo o “lixo” (que encontraram nos computadores, dentro das
gavetas, debaixo dos tapetes e nas destruidoras de papel). Felizmente,
resguardaram os colaboradores. Aliás, não podia ser de outra maneira, porque o
“Banco Bom” ou Novo Banco, jamais existiria apenas com a sua denominação.
Tratava-se afinal de fazer jus à moderna máxima que reza: Quem faz as
instituições são as pessoas!
De harmonia com as
informações dos “sábios”, o “Banco Bom” ou Novo Banco iniciaria do 0, isto é,
só com o dinheiro que todos nós colocámos à sua disposição, via orçamento do
Estado 3.900.000.000.00€ ( três mil e novecentos milhões de euros), acrescidos
de mais 400.000.000.00€ ( quatrocentos milhões de euros ) do fundo de
coesão bancário.
Excelentes “sábios”!
Pessoas de muito saber, que nos orgulham como portugueses, em que podíamos
confiar para grandes decisões.
Finalmente, temos
tranquilidade no sistema bancário português, porque os “sábios” que têm
obrigação de zelar, com as suas superiores decisões , dão a garantia do retorno
dos valores que os portugueses emprestaram, via orçamento do Estado.
O BES agora “Banco Mau”,
mantém-se com “ventilação assistida”, para que se possa vender ao
desbarato, o seu património.
O “Banco Bom” ou Novo
Banco, presenteia-nos agora com uma inusitada surpresa:
A ser gerido por um
administrador proveniente do sistema bancário inglês e com credenciais
dignas de respeito, apresentou em 31.12.2015 um prejuízo de 988.000.000.00 €
(Novecentos e oitenta e oito milhões de euros)!!! Não duvide porque não há
engano! Quando acabar de ler este número, fique ciente que se trata
efetivamente de novecentos e oitenta e oito milhões de euros de prejuízo e não
lucro, como seria de esperar!
Conhecedor desta realidade,
não posso deixar de pensar: Como é possível??
Numa conferência de imprensa,
o já referido administrador, excelente técnico da ciência bancária
inglesa, argumentou:
- “Cerca de 50%
(cinquenta por cento) deste prejuízo é devido a créditos não liquidados,
provenientes do ex-BES, agora “Banco Mau”...
A minha surpresa
aumentou. Como é possível apresentar esta justificação?!?!
De duas, uma hipótese é
verdadeira: Ou o senhor administrador não está a dizer a verdade ou a ideia que
nos venderam de ter estudado, planificado e executado a separação do Mau e do
Bom, do ex-BES, mais não foi do que, areia para os nossos olhos...
E agora? Quem paga
esta irresponsabilidade, que na realidade mais se assemelha a uma enorme
incompetência?!
Os portugueses, mais uma
vez serão chamados a dar o seu contributo financeiro.
As contas são fáceis:
- Se o “Banco Bom”ou Novo
Banco, abriu as suas portas apenas com o “filet mignon” e incrementado de
4.300.000.000.00€ (quatro mil e trezentos milhões de euros) e vê agora a sua
situação líquida diminuída em cerca de 1.000.000.000.00€ (mil milhões de
euros), deverá repor esse valor para voltar a ter uma “boa saúde“ financeira.
- Quem deve pagar os
prejuízos? Evidentemente que os accionistas!
- Quem são os accionistas?
Evidentemente que todos os portugueses, isto é, todos nós!!!
Valham-me os 3 F’s: Fado,
Futebol e (Nossa Senhora de) Fátima, porque com estes “sábios” venha o diabo e
escolha!
Jorge Tavares