quinta-feira, 1 de setembro de 2016

CANTINHO DOS MARAFADOS


*No centro de saúde de Olhão*
Linguagem vernácula


Nota prévia:
A maioria das situações são fictícias mas os termos empregues foram
recolhidos no Centro de Saúde de Olhão, sendo o espelho da confusão
semântica e de vocabulário que tantas vezes existe nas cabeças dos nossos
utentes...e ao fim e ao cabo de nós todos.
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6h00m da manhã. O Sol já aparecia lindo sobre o azul celeste.
À porta do Centro de Saúde, um pequeno grupo de utentes organizava-se para a marcação da consulta "à vaga".
A maioria já se conhece. Afinal todos são já bem experimentados nesta forma bem própria de utilização da consulta.
Aliás, o Diretor do Centro de Saúde até mandou instalar uns banquinhos de jardim no local, para tornar a espera mais atrativa.
É uma excelente oportunidade para trocar experiências e conhecimentos, que todos vão acumulando ao longo do seu percurso de contactos com os médicos e hospitais.

A Maria do Céu vai à consulta do "Parlamento", a Dona Gertrudes vai à
consulta da "Monopausa" e a funcionária é que as corrige informando-as que aquela consulta chama-se de Planeamento Familiar.
Uma tem um "biombo" no "úbero" e leva os resultados duma "fotografia",
outra está preocupada com comichões na "serventia" do marido, até porque
ele, havia poucos dias, tinha já sido consultado pelo médico por estar com
os "alforges" todos inflamados. Alguém logo ali diagnosticou um problema na "aprosta" do marido.
Mais à distância desta conversa, um grupo de senhoras falavam dos métodos contraceptivos e, uma delas, peremptória, afirmava que nunca aceitaria porem-lhe uma "fateixa" dentro da barriga!
Uma outra discordava, e lá lhe foi dizendo que, por causa disso, é que teve
tantos filhos, felizmente todos de parto normal, só o último foi de
"açoreana", mas aquele que lhe dava mais problemas era o mais velho que já era "toxico-correspondente"!
Noutro local, um grupo de homens mais idoso ia falando da relação entre o
"castrol" e a "atenção".
Às tantas um deles começa a explicação cuidada dum acidente que tivera. Por isso é que tinha a vacina contra o "tecto" em dia, mas o acidente
estragou-lhe a "tibiotísica" e causou-lhe uma hérnia "fiscal", pelo que
tinha ido fazer uma "fotocópia" e um "traque".
Outro referiu que nunca teve problemas de ossos, o seu problema era uma
grande "espirrogueira na peitogueira".
Uma senhora, atraída pela conversa, queixava-se de entupimento no "curso" com dores "alucinantes" quando se "abaixava". Além disso cobria-se de suores e "gómitos", ficava "almariada" e tudo acabava com uma forte
"encacheca", ficando cerca de 3 dias com cara de "caveira misteriosa".
Alguém lhe falou nuns supositórios que a poderiam ajudar mas ela já os
conhecia, aparentemente tinham sido muito difíceis de engolir, pelo que o
melhor ainda era o "clistério".
Finalmente, uma outra senhora queixava-se da "úrsula" no "estambo", pelo
que vinha mostrar o resultado duma "endocuspia" e ainda algumas análises
especiais, como a Proteína C "Reaccionária".
8h30m da manhã. Ainda havia muito para conversar mas a jovem
funcionária administrativa do Centro de Saúde, obviamente tarefeira, acaba
de chegar. Os funcionários administrativos não podem chegar atrasados, caso contrário, confundir-se-iam com os doutores.
- Quem é o primeiro, se faz favor? Ora diga lá o seu nome?
- Josefina Trindade.
- Idade?
- 67 anos.
- Estado?
- Constipada, muito constipada!
9h00m da manhã. Aparece a enfermeira que grita para a pequena
multidão barulhenta que cerca a funcionária:
- Quem está para medir as tensões? É você? Então entre e diga-me qual é o
seu problema?
- Sabe, senhora enfermeira, o meu problema é ter uma doença "arrendatária" que "arrendei" do meu pai e já me levou uma vez aos cuidados "utensílios" do hospital. Afecta-me as "cruzes renais" e por isso dá-me muita "humidade à volta do coração". Aliás, o doutor pediu-me uma "pilografia" e um "aerograma" que aqui trago e recomendou-me beber pouca água.
Finalmente, chega o médico, que logo dá início às consultas:
- Então de que se queixa?
- De uma angina de peito, senhor doutor. Tudo começou há uma semana quando fui às urgências. O médico disse-me que era uma angina na garganta, mas a angina começou a descer e agora apanha-me o peito todo!

Aos poucos, os utentes iam entrando e saindo, com melhor ou pior cara.

Alguns perguntavam à enfermeira onde era o "pechiché da retrosaria" para pagarem a taxa moderadora


Autor: desconhecido